POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Vila Ferroviária abandonada transforma-se em pólo turístico do ABC.
Escondida no sudeste de Santo André, entre o Planalto Paulista e a Serra do Mar, a Vila de Paranapiacaba – em tupi-guarani, de onde se vê o mar – é cenário de um dos mais belos patrimônios históricos da região do ABC e abrigo para 4 milhões de m² da reserva da Mata Atlântica. Por lá, passam as águas do Rio Grande, principal afluente da Represa Billings, responsável por abastecer parte da região metropolitana do Estado de São Paulo.
Paranapiacaba viveu momentos de glória e glamour. Conheceu também a decadência e a deterioração, mas sua história ainda está sendo escrita e promete uma reviravolta. Com uma roupagem atual e baseada na sustentabilidade, por meio de suas principais características: o importante patrimônio histórico-cultural e o turismo ecológico – a cidade está mudando e mais uma vez atraindo visitantes.
A história da Vila passou pela necessidade de encurtar o percurso entre o Porto de Santos e o Planalto Paulista, caminho feito para transportar produtos agrícolas no lombo de burros, o que fazia da viagem uma longa aventura cheia de perigos.
Para realizar a façanha de reduzir o tempo do transporte, foi preciso adotar um sistema diferenciado, capaz de subir as planícies da Serra do Mar. Este novo meio, único no mundo, denominado ferroviário funicular (utilização de cabos de aço para auxiliar o tráfego das ferrovias), deu à Paranapiacaba notoriedade mundial, já que utilizava inovações tecnológicas e foi a primeira vila no país a possuir iluminação elétrica.
A grandiosidade da construção de uma linha ferroviária fez com que a empresa responsável pela obra, a São Paulo Railway Co., instalasse os trabalhadores nas proximidades da ferrovia, projetando, em estilo inglês, a Vila Martin Smith, hoje conhecida como Parte Baixa.
Esta trajetória histórica, sua arquitetura ímpar, a beleza natural e o glamour cinematográfico da névoa, que encobre a Vila ao final da tarde, despertaram o interesse de turistas e famosos, que fizeram da Vila um cenário de produções artísticas.
Contudo, após a desativação do uso comercial da ferrovia, os anos passaram e junto com eles, Paranapiacaba foi isolada da contemporaneidade dos grandes centros, nem mesmo os visitantes eram mais bem vistos pelos moradores em função da depredação do local.
Este quadro de depressão mudou somente em 2002, quando a Prefeitura Municipal de Santo André comprou Paranapiacaba e iniciou o programa de revitalização do local. A partir de então, segundo Marco Moretto, diretor da Vila, o trabalho da Prefeitura foi transformar o local em pólo turístico, iniciando com a conscientização da população, com a instalação de uma estrutura capaz de receber um número maior de turistas e estimulando o empreendorismo e a capacitação profissional por meio de cursos. “Decidimos envolver os moradores no processo de renovação da Vila” – diz.
Com estas medidas, em cinco anos, Paranapiacaba quintuplicou a visitação. Passou de 41 mil para 221 mil.
Com duração de aproximadamente dois anos, o PJ oferece oficinas de produção agrícola e florestal sustentáveis; turismo sustentável; consumo, lixo e arte; agroindústria artesanal, entre outros que estão em fase de implantação. As aulas acontecem duas vezes por semana com o intuito de integrar a autonomia econômica, preservação e recuperação ambiental. A sociedade é envolvida por políticas públicas que favorecem o meio ambiente. Por meio da educação, a preservação passa a representar uma nova oportunidade de geração de renda.
Segundo Leandro Wada Simone, coordenador do programa, o Instituto Florestal treinou funcionários, que se tornaram multiplicadores dos cursos. Este processo demorou quase quatro anos para ser concluído, dando anda mento somente quando os responsáveis já estavam capacitados. “Antes de iniciarmos o programa, os jovens não tinham perspectivas, agora existem várias opções para a especialização profissional” – acrescenta.
Uma das favorecidas pelo projeto é Renata Lucia Silva, 22 anos. “Não gostava dessa Vila, fazia de tudo pra não ficar aqui. Por não ter o que fazer, me inscrevi na primeira turma do PJ. Depois de um tempo comecei a me interessar e perceber que esta poderia ser uma oportunidade. Gostei da oficina de turismo e me aprofundei no assunto. Hoje sou coordenadora do projeto” – relatou.
Assim como Renata, 60% dos jovens do Programa se interessaram pelo módulo de turismo, abastecendo a Vila de monitores iniciantes.
Os cursos começaram a alterar o perfil de atendimento do local. Vários jovens estão preparados para mostrar os pontos turísticos. “Os meninos do PJ romperam resistências quanto à questão do turismo em Paranapiacaba, pois passaram a ver as qualidades do lugar e mostraram isso aos pais e avós” – conta Moretto, diretor da Vila.
Diante do interesse, outras ações foram necessárias para melhor qualificá-los com um certificado profissional de agentes de turismo. Um novo curso de Qualificação Profissional, dividido em básico, intermediário e avançado foi oferecido. Na última inscrição para o curso básico houve uma procura de 160 pessoas para 60 vagas.
Esta nova realidade deu à Paranapiacaba o título de berço de agentes turísticos. “Com um número grande de novos agentes, muitos jovens começaram a atuar no Pólo Turístico Caminhos do Mar, localizado no Parque Estadual da Serra do Mar” – ressalta o coordenador.
“Festas como a do Cambuci e do Padroeiro eram comemorações tradicionais da população da Vila, mas não atraiam o público de fora por serem festas muito regionais. Porém, este ano vamos ampliar e atingir também a população próxima, assim como fizemos com o Festival de Inverno, que anualmente chama a atenção de todo o ABC” – relata Marco Moretto.
Para aqueles que preferem o agito de esportes radicais ao de festas, a Sub-Prefeitura também se dedicou à implantação destas atividades. O circuito de arvorismo conta com trilhas suspensas em meio à área de Mata Atlântica, com diferentes graus de dificuldades, garantindo cerca de uma hora de adrenalina, finalizada com a prática da Tirolesa.
Para agendar o passeio o interessado pode ligar no (11) 4439-0130 ou enviar um e-mail para [email protected].