Bem aceita culturalmente, a bebida alcoólica causa dependência em 10% da população brasileira.
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas gera um dos mais graves problemas de saúde pública mundial: o alcoolismo. O Brasil não fica atrás nessa triste constatação. O ministério da saúde, através da Coordenadoria de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, confirma que 75% dos brasileiros já consumiram álcool pelo menos uma vez na vida. Isso poderia parecer irrelevante, se não estivéssemos falando de uma droga, mesmo que lícita. Os demais tipos de drogas ilícitas ou não, nem chegam perto dessa estatística.
De acordo com o assistente técnico, Francisco Cordeiro, do Ministério da Saúde, são dependentes do álcool cerca de 10% da população brasileira. “Não é um problema de fácil solução” – constatou ele. O consumo de álcool é considerado o responsável por diversas formas de doenças e acidentes com vítimas. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, Cordeiro afirma que metade dos acidentes de trânsito no Brasil têm alguma relação com o álcool. A bebida também é cúmplice de casos de violência doméstica, sexual e interpessoal, podendo atingir de forma devastadora, direta ou indiretamente, a sociedade.
A explicação está no poder da substância em alterar padrões de comportamento, que afetam o relacionamento familiar, social e profissional. Apesar das conseqüências dramáticas do seu uso, o álcool está em evidência nas propagandas televisivas, em outdoor, e em toda a gama de veículos de comunicação. É aceita culturalmente e sem dúvida, aproveita-se de um falso status de não-droga.
Ocorre que o problema vem aumentando anualmente, com o consumo cada vez mais precoce. Um estudo realizado em 2005, em escolas, apontou que 54,3% dos adolescentes de 12 a 17 anos já haviam experimentado bebida alcoólica e que 2% a consumiam diariamente.
O governo, segundo Cordeiro, atua em duas frentes: o tratamento, através de uma rede de unidades de atendimento denominadas CAPs AD, que oferecem atendimento com profissionais multidisciplinares, dentre os quais médicos, assistentes sociais e oficineiros. Nesses núcleos, acontece também o trabalho para a assistência à família, que recebe orientações sobre como lidar com essa situação. A outra ação é voltada à informação e conscientização, por meio de campanhas publicitárias que pretendem mostrar o outro lado do consumo, exatamente aquele que as propagandas de bebidas não mostram e que podem destruir a vida de seus usuários.
Conhecendo o problema
A médica psiquiatra Cintia de Azevedo Marques Périco, professora de Psiquiatria da Faculdade de medicina do ABC e responsável pela clínica Psiquiátrica do Hospital Estadual Mário Covas, explicou que o dependente de álcool é considerado um portador de transtorno mental e que deve ser conscientizado das possibilidades de tratamento. Segundo ela, diversos fatores levam ao alcoolismo, sejam eles influenciados por questões genéticas, ambientais, sociais ou biológicas. “É importante ressaltar que uma grande porcentagem dos pacientes dependentes de álcool possui depressão e/ou ansiedade comórbidas” – disse ela.
A médica relatou que o álcool é um depressor do sistema nervoso central, por isso inicialmente provoca uma certa euforia, felicidade, expansão, passando rapidamente para uma fase de labilidade emocional, com choro fácil, irritabilidade, fala pastosa, sonolência, andar cambaleante. O consumo de bebida alcoólica pode levar desde uma intoxicação leve até uma grave, com redução do nível de consciência e coma, por bloqueio central. “O uso continuado do álcool leva a um importante prejuízo cognitivo, com déficits de memória progressivos, podendo desenvolver demência alcoólica” – ressaltou.
O que caracteriza a dependência
• Desenvolvimento de tolerância (sendo necessário aumentar as doses ou quantidade da substância;
• Sinais e sintomas de abstinência;
• Desejo incontrolável em obter a substância;
• Mudança de comportamentos com a finalidade de fazer uso do produto;
• Persistência no consumo, mesmo quando os prejuízos físicos, sociais e profissionais já se tornaram evidentes.
Caminho do álcool
O uso contínuo desta substância pode provocar a cirrose, um “endurecimento” do fígado. Conseqüentemente, o sangue passa a ter dificuldade em atravessá-lo, refluindo pelas veias e desencadeando varizes no esôfago, que não têm cura e que sangram com facilidade, podendo levar à morte por hemorragia.
Síndrome da abstinência
Essa síndrome se dá com uma série de sintomas que se instalam ao interromper o consumo da droga. Dentre os principais sintomas, encontram-se a agitação, ansiedade, tremores nas extremidades, alteração do sono, do humor, do apetite, sudorese em surtos, aumento da freqüência cardíaca, do pulso e da temperatura.
Tratamento
O tratamento começa pelo desejo do paciente em interromper o consumo. Motivá-lo com um trabalho de conscientização dos prejuízos pelo uso da substância, é sempre importante. Atualmente, há uma ampla opção de medicamentos que facilitam o tratamento. Faz-se uso de medicamentos com ação cerebral semelhante ao álcool, que são introduzidos e retirados gradativamente, para tratar a abstinência, bem como antidepressivos e outras, que atuam causando efeitos indesejáveis, caso haja ingestão de álcool.
Alcoólicos Anônimos – AA
Já bastante difundido mundialmente, a irmandade Alcoólicos Anônimos auxilia na recuperação do alcoolismo. A base desse trabalho está em compartilhar experiências, que visa oferecer força e esperança na solução do problema. O anonimato é fator preponderante nessa terapia em grupo. “Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade”.
Os membros dividem suas experiências com qualquer um que procure ajuda com problemas de alcoolismo; eles dão depoimento cara a cara em reuniões ou apadrinhando o alcoólico recém-chegado. O programa é proposto em “Doze Passos”, que propõem uma maneira de desenvolver satisfatoriamente a vida sem o álcool.