POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Pesquisa da Uenf pode resultar em sabonete que contribuirá para resolver um problema que tira o sono – e a vida – de muita gente: a dengue.
O temido mosquito da dengue, nascido de larvas postas em malcheirosas águas paradas, pode estar, com a nefasta eficácia de suas picadas, com os dias contados por uma solução de odor diferenciado. A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) desenvolve, em seu Laboratório de Ciências Químicas, o sabonete repelente, capaz de auxiliar no combate ao Aedes aegypti, que também transmite a febre amarela. Mais uma vez, a pesquisa científica mostra sua importância social, pois é através dela e do talento acadêmico e técnico que obtemos produtos que permitem a melhoria real da qualidade de vida.
O campus da Uenf fica em Campos dos Goytacazes (RJ), a terceira cidade fluminense no ranking das mais afetadas pelos casos de dengue em 2008. Quem coordena os trabalhos é o professor Edmilson José Maria, chefe do setor de Síntese Orgânica da instituição. Ele deixa claro que não se deve tirar conclusões precipitadas. “ Os testes ainda estão em andamento, e a pesquisa não está concluída”, enfatiza.
Tempo, dedicação, recursos
Toda pesquisa, para chegar a bom termo, demanda tempo, dedicação plena, recursos financeiros e liberdade de ação. Com essa não poderia ser diferente. “Na atual situação, faltam-nos esses requisitos, pois na Universidade estamos envolvidos em atividades de ensino, pesquisa e extensão, além da administração. Não há o privilégio de sermos somente pesquisadores, como muitos pensam. Mas a falta de recursos é o fator primordial no momento para o bom andamento dos trabalhos”, afirma Edmilson.
O professor, formado em Química Orgânica, com doutorado em Síntese de Fármacos Antivirais e Antiparasitários acredita na viabilidade do projeto em 18 meses. “A idéia da pesquisa surgiu da necessidade de reaproveitar o óleo de fritura usado e com ele produzir sabão para, neste, incorporar substâncias repelentes a mosquitos. Ou seja, surgiu de um apelo ambiental”, esclarece.
Edmilson acrescenta que seu interesse acadêmico-profissional é produzir repelentes a insetos que atacam pessoas e animais, bem como desenvolver armadilhas caseiras e comerciais para monitoramento de mosquitos.
Parceria importante
No caso específico do seu empenho em desenvolver o sabonete repelente para combater o mosquito da dengue, Edmilson não fica apenas a lamentar a falta de recursos. O professor cita a parceria da Fundação do Norte Fluminense (Fenorte), que possibilitou “o financiamento de pequena, mas importante, quantia e a concessão de uma bolsa de iniciação tecnológica”.
A expectativa de Edmilson é bem clara: “Nossa intenção prioritária é finalizarmos as pesquisas e posteriormente efetuarmos parcerias com empresas para disponibilizar o produto quer para entes públicos quer para consumo em geral”.
Se a eficácia do sabonete já pôde ser comprovada, todavia ainda faltam experimentos para assegurar a duração da atividade repelente. “O parâmetro de 6 horas de ação, por enquanto, não passa de meta a ser atingida”, afirma Edmilson.
O caminho da chegada do produto até as prateleiras de drogarias e supermercados é longo, e o coordenador da pesquisa lembra um passo importante, ainda não dado: “Não submetemos o sabonete à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, condição prévia para sua distribuição e utilização em larga escala”.
Camundongos e pessoas
Ecologicamente correta, a fórmula do produto (ver quadro) inclui substâncias químicas capazes de ampliar a duração de sua eficácia. Testes foram realizados em camundongos e também em voluntários da própria Universidade, com o uso de insetos não-portadores do vírus da dengue. Há possibilidade de o foco da pesquisa ser estendido à ação do sabonete repelente contra outros vetores, além do Aedes aegypti.
Edmilson explica como os testes são feitos: “Primeiramente, aplicamos o sabonete em camundongos, que ficaram em contato com mosquitos Aedes aegypti. Esses insetos são criados em cativeiro, no laboratório, a partir de uma linhagem que não tem o vírus da dengue, fazendo com que as gerações posteriores do mosquito também não desenvolvam a virulência. Em seguida, inserimos os braços dos voluntários, sucessivamente em um período de 6 horas, em gaiolas cheias de mosquitos para verificar se haveria algum tipo de contato dos insetos com a pele, o que não ocorreu. Fizemos ainda uma contraprova, onde a mesma base do sabonete, sem as substâncias repelentes, foi aplicada. Seguimos a mesma metodologia e identificamos um alto número de pousos dos mosquitos na pele dos voluntários”.
O professor acrescenta que tomou por base procedimentos descritos na literatura, usuais em experimentos com insetos. “Estes são cultivados sem vírus e acondicionados em gaiolas. A substância a ser testada é aplicada no antebraço da pessoa ou no dorso da cobaia, e observa-se em intervalos de tempo se ocorre algum ataque. É efetuada também uma contraprova com um produto sem o repelente (placebo).”
Baixo custo
A Uenf se esforça para obter um produto eonomicamente acessível à população carente de grandes centros, desprovida de meios sofisticados de combate à dengue. “O sabonete ainda não tem preço definido, mas certamente será de baixo custo”, diz Edmilson.
O professor lembra que é essa camada que está mais sujeita a contaminação por viver em áreas com risco de alagamentos, com saneamento básico precário ou inexistente, sem a mínima condição de comprar, por exemplo, um repelente elétrico ou mesmo, instalar telas de proteção em janelas.
Ecologicamente correto:
• O sabonete tem efeito de seis horas sobre a pele humana;
• Foi criado a partir de uma mistura de glicerina, obtida com óleo de cozinha reciclado;
• Utiliza essências naturais de plantas como o cravo-da-índia, citronela e capim-limão.
SERVIÇO
Instituições e empresas interessadas em dar suporte a esse trabalho de vulto e significância social podem contatar a Uenf pelo site www.uenf.br ou pelo telefone 0800-252004.