POR – REDAÇÃO NEO MONDO
O Brasil está no ranking das nações com maior taxa de analfabetos, mas, aos poucos, tem criado soluções para formar uma nação mais letrada.
Uma das primeiras coisas que um indivíduo recebe ao nascer é uma certidão de nascimento, na qual são registrados seu nome, suas características físicas, os nomes de seus progenitores… Mais tarde, ela precisará de um novo documento, o RG, que lhe garantirá a comprovação da sua identidade.
No entanto, mesmo contendo dados tão simples e importantes, milhares de brasileiros não conseguem decifrar aquilo que seus documentos dizem a seu respeito. Não conseguem nem mesmo legalizá-lo por meio de sua assinatura, pois não reconhecem as junções de letras que formam seus nomes.
De acordo com o instituto Brasileiro de Geografia e estatística – IBGE, em 2005 existiam cerca de 14,9 milhões de pessoas analfabetas acima de 15 anos, número que correspondia a 11% da população brasileira.
Entre os países latino-americanos, o Brasil é o 9º no ranking da taxa de analfabetismo. Números que o colocaram no grupo das 11 nações com mais de 10 milhões de não-alfabetizados, ao lado do Egito, Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria. Grupo, para o qual a Unesco criou um programa de metas de erradicação de analfabetismo até 2015. De acordo com ele, o Brasil deverá reduzir a taxa para cerca de 6,7%.
Conforme dados da agência Brasil, por meio dos governos municipais e estaduais e da iniciativa da sociedade civil, o País tem conseguido reduzir este percentual, porém ainda em ritmo lento, segundo constatação da coordenadora do relatório de monitoramento de educação para todos Brasil 2008, Ângela Rabelo Barreto.
Alfabetizando o Brasil
Com um passo de cada vez, o Ministério da Educação – MEC, junto com parceiros da sociedade civil, está investindo em novas ações para reverter este quadro. Entre eles, entrou em vigor este ano o Plano de Desenvolvimento da Educação que visa favorecer programas voltados para uma educação básica de qualidade, para o sucesso e a permanência do aluno na escola.
Em meio a estes projetos, o MEC oferece também atenção especial à Educação de Jovens e Adultos – EJA, através do Programa Brasil alfabetizado, atendendo brasileiros com dificuldades de escrita e leitura ou que nunca freqüentaram uma escola. O que não gera dúvidas é que investir na alfabetização de jovens e adultos é transformar vidas e dar mais força à sociedade. “Muitos, principalmente idosos, procuram o programa para se sentirem aceitos e acolhidos em uma sociedade letrada” – declara Salete Valesan Camba, diretora de relações institucionais do Instituto Paulo Freire, organização fundada por Paulo Freire, educador responsável pela inovação do método para EJA.
Conforme explica o diretor de políticas da Educação de Jovens e Adultos do MEC, Jorge Teles, o programa Brasil alfabetizado atua por meio de convênios com instituições alfabetizadoras de jovens e adultos. “O MEC não efetua os trabalhos de alfabetização em sala de aula, mas viabiliza recursos através do Fundeb para os estados e municípios, disponibiliza materiais didáticos e acompanha e avalia todas as ações dos conveniados” – ressalta Teles.
Segundo o diretor, a estratégia dos governos municipais e estaduais é formar parcerias com as organizações da sociedade civil para incentivar o retorno de jovens maduros e adultos para a sala de aula. “Muitos têm vergonha de retomar os estudos em um ambiente escolar onde seus filhos ou netos freqüentam” – diz ele. Mas, na tentativa de quebrar barreira da vergonha e da baixa auto-estima, o governo tem investido em campanhas institucionais para atrair a retomada aos estudos.
O programa Brasil alfabetizado já alcançou 5 milhões de pessoas, no entanto, este ainda é um número insuficiente, tendo em vista que existem, segundo o diretor, 40 milhões que não terminaram os estudos. Por isso, a participação de instituições nesta luta pela alfabetização tornasse fundamental neste processo.
Quebrando barreiras
Luciane, 34 anos, aluna da EJA, faz parte desta estatística. Ela abandonou a escola ainda criança, depois de sucessivas reprovações. Ela lembra como se sentia numa sala de aula da 4ª série: “Eu tinha medo de ir à escola, me dava um frio na barriga. Tentava prestar atenção na aula, mas entendia tudo pela metade. Tentei participar das aulas, algumas vezes, mas minhas perguntas sempre causavam risos e a professora nunca falava nada. Tinha vergonha de não saber!”.
Este depoimento, retirado do material: cadernos trabalhando com a educação de Jovens e adultos do MEC*, retrata a realidade de 1/3 dos alunos da EJA que já passaram pela escola, mas, por algum motivo, romperam o trajeto estudantil.
De acordo com a diretora Salete, Luciane é um exemplo entre milhares. Mas, além destes que passaram por algum trauma no período escolar, existem aqueles que nunca estiveram em uma instituição de ensino. “Geralmente, estes jovens são moradores da zona rural, onde existe uma grande distância entre suas residências e a escola ou são oriundos de famílias pobres que não podem abrir mão do trabalho destes jovens. Este caso também se assemelha aos motivos de jovens da periferia das grandes cidades, onde a infra-estrutura de transporte e assistência educacional não acompanha o crescimento dos novos bairros” – destaca a diretora.
Ela esclarece que, além da frustração por não ter conseguido concluir ou iniciar os estudos, esses alunos já carregam uma bagagem histórica e cultural que deve ser valorizada para motivação da continuidade dos estudos para que não seja gerada uma nova frustração.
B + A = BA
Diferente da criança que está iniciando o processo de conhecimento, o adulto já tem familiaridade com o mundo, suas letras, histórias e números. Afinal, ele trabalha, faz compras, se locomove pela cidade, assiste e ouve notícias.
Segundo o método Paulo Freire de educação, este conhecimento deve ser levado em consideração para que o aluno sinta-se à vontade na sala de aula. “Antes de Paulo Freire, as cartilhas utilizadas na EJA eram as mesmas da educação infantil. No Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos – MOVA, nosso principal programa de alfabetização, a idéia é misturar idades e conhecimentos dos alunos para produzir uma busca constante de conhecimento desde o aletramento até o conhecimento específico de cada matéria” – relata a diretora.
Para Salete, o Brasil poderia sair do topo da lista dos países com maior índice de analfabetos capacitando profissionais do ensino para este trabalho e abrindo mais espaços nas redes municipais e estaduais de ensino para esta atuação. No entanto, “a totalidade da rede de ensino ainda não está adequada para lidar com alunos com problemas escolares, sejam eles, adultos, crianças ou adolescentes”.