POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Cobaias vivas, em cursos de graduação de saúde, começam a ser substituídas por outras alternativas.
Animais não têm poder de argumentação ou de recorrer a instituições quando se sentem injustiçados, cabe a eles somente fazer sua parte no bioma e esperar que seres racionais sejam as suas vozes diante de maus tratos, abusos e conceitos que os julgam dominados pela soberana posse de suas vidas.
Embora existam leis que prevêem seus direitos como parte do meio ambiente, o uso de animais vivos para experimentação fisiológica e anatômica em aulas na área de saúde ainda é comum.
Porém, mesmo que de maneira tímida, em meio a tantos alarmes da natureza, a visão sustentável tem trazido a sociedade à reflexão dessas antigas práticas que segregam das preocupações ambientais o trato com os animais. Seu avanço tem atingido a ciência, que desde os primórdios utiliza-se especialmente de roedores para compreensão da mecânica do corpo humano. Mas também répteis, coelhos, macacos, cachorros e gatos… Animais que, em geral, são criados em biotérios, ou adquiridos através dos Centros de Zoonoses, para substituir o ser humano na experimentação em pesquisas científicas, na preparação e controle de qualidade de medicamentos e na graduação dos cursos de saúde.
Animais na graduação
Uma das práticas mais condenadas pelos defensores dos direitos dos animais é a vivissecção, experimentação com animais vivos, para estudo de alguns fenômenos anatômicos e fisiológicos, técnica pela qual alunos universitários de medicina, biologia e outras, ainda são submetidos para verificar o funcionamento do organismo mediante a injeção de substâncias e cirurgias.
Na opinião da Ong inglesa Interniche, instituição que defende, para professores e estudantes, a substituição dos experimentos com cobaias vivas por outras alternativas, esse tipo de prática é maléfica não somente para os animais, que têm o físico ou o psicológico prejudicado, ao ponto de no final da experimentação precisarem ser sacrificados, mas também danoso aos futuros profissionais.
“No começo, o estudante pega um animal, corta, se sente mal com aquele ato, um desconforto moral, mas com a repetição, ele passa a sublimar isso. No final do curso, ele já está cortando sem qualquer problema, passando pelo processo de desensibilização, e se torna mais frio com relação à vida” – afirma Thales Tréz, biólogo e representante da Interniche Brasil, em depoimento ao documentário “Não Matarás”, do Instituto Nina Rosa.
Para Luiz Henrique Paschoal, diretor da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC, instituição pioneira na abolição do uso de animais vivos nas aulas de graduação no Brasil, a humanização da medicina começa com a responsabilidade com os animais. “Não é preciso fazer o aluno injetar adrenalina no coração de um cachorro para saber que isso irá matar o animal. Esta é uma das práticas desnecessárias e que não agrega conhecimento ao aluno” – exemplifica.
Graduada em medicina veterinária, Camila Tognon, diz que “aprendeu do mesmo jeito” mesmo não tendo manipulado animais vivos durante o curso, e acrescenta: “não teria coragem de fazer qualquer coisa em um animal sabendo que depois teria que sacrificá-lo. Estudei para salvar vidas, não o contrário”.
Atualmente, a FMABC, seguida por outras universidades, utiliza softwares, vídeos e bonecos que simulam as reações do organismo. E, embora tenha encontrado resistência à mudança por parte de professores e alunos mais tradicionais, “tínhamos que começar de alguma forma” – diz o diretor.
Além de economizar com a compra de animais para as aulas, fazendo um investimento único em alternativas duráveis, o diretor faz questão de ressaltar que não foi preciso utilizar animais durante as aulas para ter nota máxima no Enade.
Hoje, a Faculdade somente libera o uso de animais para pesquisas inéditas, com relevância científica e previamente aprovadas pelo CEEA – Comitê de Ética em Experimentação Animal da FMABC. Paschoal explica que “nesse caso, até que se prove o contrário, o modelo animal é insubstituível”.
Alternativas
Durante uma palestra na FMABC, o coordenador-geral da InterNICHE, Nick Jukes declarou que no momento já se pode simular cirurgias ‘vivas’ em cadáveres preparados especificamente para esse fim. Um cachorro artificial e um sapo real, morto naturalmente e preservado quimicamente para utilização no ensino foram alguns exemplos práticos de métodos substitutivos.
Lei de Crimes Ambientais
Capítulo V |
Declaração Universal dos Direitos dos Animais – 1978
1 – Todos os animais têm o mesmo direito à vida. |