POR – REDAÇÃO NEO MONDO
A pesquisa “Desenvolvimento de uma técnica de bioestímulo para a remediação de solo e água subterrânea contaminada com tetracloroetileno”, iniciada em 2006, conseguiu degradar aproximadamente 98% do composto em apenas 12 horas utilizando bactérias aeróbias (que se desenvolvem na presença de oxigênio) presentes nas amostras de água contaminada da capital paulista. Como subproduto dessa degradação foi gerado clorofórmio, que apesar de tóxico é facilmente decomposto pelo meio ambiente. Os riscos biológicos são praticamente nulos, já que as bactérias utilizadas são provenientes do próprio ambiente contaminado.
A técnica pode ser aplicada de duas maneiras: liberando a biomassa cultivada em laboratório em campo ou armazená-la em um reator no qual a água ou solo podem ser bombeados (ver foto). A equipe prefere utilizar o aparelho por conta do maior controle sobre as bactérias e da possibilidade de tornar o processo mais e?ciente por meio de ajustes que propiciem condições mais favoráveis às colônias de bactérias.
Segundo Lambais, a biorremediação (utilização de seres vivos ou componentes derivados na recuperação de áreas contaminadas) de qualquer tipo é muito pouco usada no Brasil e no mundo devido principalmente à falta de conhecimento técnico especí?co no setor. “Não existem processos especí?cos nessa área sendo utilizados no Brasil, a não ser a biorremediação de solos contaminados com gasolina – nesse caso as bactérias do próprio solo são estimuladas para aumentar a atividade de biodegradação natural.”
Atualmente a técnica está sendo esmiuçada bioquimicamente para determinar cada subproduto resultante desse processo. “Se tudo sair conforme as nossas expectativas, em um ano no máximo teremos as bactérias identi?cadas e avaliadas quanto a sua e?ciência em degradar o PCE”, a?rma o professor. A rapidez e o alto grau de limpeza alcançados coloca a técnica como uma e?ciente alternativa para processos de descontaminação de água subterrânea.
Menu do dia: óleo
No que diz respeito à remediação ambiental, o estímulo de bactérias locais não é a única alternativa conhecida. Uma parceria entre a Petrobras e o Instituto de Química da Universidade Federal do Rio da Janeiro (UFRJ) possibilitou há dez anos a descoberta de biossurfactantes, uma espécie de detergente capaz de limpar manchas de óleo. Desde então, o desenvolvimento do composto tem sido aprimorado nos laboratórios de química da Coppe/UFRJ e conta com a coordenação do professor Cristiano Borges há cinco anos.
“O biossurfactante nada mais é do que um composto surfactante biodegradável que solubiliza os compostos oleosos em água”, explica o engenheiro químico Frederico de Araujo Kronemberger, que trabalha na produção do composto. Isso quer dizer que o detergente, além de alterar as propriedades do óleo, ainda é totalmente degradado pela natureza.
Produzido a partir da fermentação aeróbia das bactérias Pseudomonas sp em um substrato de glicerina, o biossurfactante cruza dois benefícios: bactérias originárias de poços de petróleo (que se alimentam apenas destas cadeias orgânicas) e a acessibilidade da glicerina – um subproduto do biodiesel que tem sobrado devido à quantidade de usinas produtoras, o que o torna cada vez mais barato.
A maior vantagem é a capacidade de emulsionar qualquer composto orgânico, como a gasolina, e torná-lo disponível para a degradação pelos micro-organismos presentes na água ou no solo. Depois do total consumo do material oleoso, o próprio composto é então degradado. “O processo é rápido e depende da quantidade de micro-organismos disponíveis no local, sem nenhum risco envolvido”.
Até o momento foram realizados apenas testes de lavagem de solo em laboratório. O uso em larga escala do detergente para reduzir a contaminação de óleo no meio ambiente é promissor – embora ainda existam problemas para a produção. “Em julho de 2009 foi inaugurada uma unidade em escala piloto para a produção dos biossurfactantes com capacidade de 200 litros. Isso irá possibilitar os testes do produto em campo e viabilizar a aplicação, o que ainda deve acontecer neste ano.”
Qual é o cardápio?
O sequenciamento genético é a principal ferramenta para entender o funcionamento de bactérias que, se corretamente manipuladas, podem trazer muitos benefícios para a vida humana. Uma delas é a Deinococcus radiodurans, descoberta em 1956 durante a tentativa de esterilização de comida enlatada por raios gama. Quando exposta à radiação, a bactéria consegue reparar a estrutura de seu DNA “quebrado”, o que não é possível em humanos – nem em nenhum outro ser vivo conhecido. Por conseguir suportar até 1,5 milhão de rads (sigla em inglês para ‘dose absorvida de radiação’), quase 3 mil vezes mais do que o limite humano, a bactéria pode representar uma esperança contra o câncer.
Se sobreviver à radiação já parece absurdo, imagine então alimentar-se dela. É o que acontece com alguns tipos de fungo que penetraram pelas brechas do reator 4 da usina de Chernobyl, na Ucrânia, e se alimentam de radioatividade. O lugar, que em 1986 foi palco do pior acidente nuclear da história, abriga mais de 35 espécies mutantes que conseguem transformar a radiação em energia. O processo é similar ao que acontece nas plantas, que usam a cloro?la para absorver luz solar e transformar em alimento – só que utilizando melanina. Segundo pesquisadores dos EUA, não há perigo de que estes “seres atômicos” se espalhem, já que o alimento radioativo se encontra apenas naquele local e não haveria como sobreviver em outro.
(Com informações de Superinteressante e Ciência Hoje)