POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Mais especificamente um leão de Cannes, na França, onde acontece todos os anos o maior Festival Internacional de Criatividade do mundo, premiando as melhores ideias com estatuetas do rei da floresta.
Se o mercado é uma selva, nada melhor do que leões para representarem as grandes ideias. Com a concorrência feroz que existe em praticamente todos os ramos de atividade, ter ideias fortes e corajosas é questão de sobrevivência. A edição de 2012 do Festival de Cannes comprovou isso mais uma vez.
Uma das primeiras grandes lições do Festival é a de que grandes ideias podem vir de qualquer parte do planeta, independentemente de qualquer indicador do país de origem. Em um mundo conectado e com rápido acesso a uma incrível quantidade de informações e referências, há uma crescente democratização do processo criativo.
Hoje o lugar de origem de uma ideia é um simples detalhe. Empresas e marcas são cada dia mais cosmopolitas, fazendo com que o país de origem de um produto seja menos relevante para o consumidor. A empresa criadora do jogo Angry Birds não se apresenta como uma empresa finlandesa de entretenimento, mas simplesmente como uma empresa de entretenimento. É o que observa um dos palestrantes em Cannes, Fredrik Härén, autor do livro Um mundo. Uma empresa.
Mais importante do que a origem da ideia, é a velocidade com que ela se espalha e o nível de engajamento que ela gera. Com o fenômeno das redes sociais é possível medir o impacto de uma ideia em tempo real. O que antes precisaria de dias ou semanas para ser avaliado, agora precisa de horas ou minutos. O jornal inglês The Guardian, bastante premiado no festival de Cannes neste ano, ilustra essa realidade de forma brilhante com um comercial que mostra como seria a história dos “três porquinhos“ nos dias de hoje. No filme, a conhecida história ganha ares dramáticos e um roteiro frenético, onde os três porquinhos geram participação ativa da população no desenrolar dos fatos e dividem a opinião pública, sendo considerados vilões por alguns e vítimas por outros.
O poder da conectividade em tempo real foi o tema central da apresentação sobre o Twitter no Festival. Para o Twitter, a missão principal da plataforma é trazer o usuário para mais perto dos fatos, oferecendo uma “cadeira na fileira da frente“ diante dos eventos. Através de tweets, todo mundo passa a ser uma fonte de informação em potencial, valorizando os mais diversos pontos de vista e aumentando a velocidade e a transparência no relato dos fatos. O impacto do Twitter na indústria das comunicações foi reconhecido com um dos grandes prêmios do Festival, o de Homem de Mídia do Ano, conferido a Jack Dorsey, criador e co-fundador da rede social.
As discussões sobre as redes sociais destacaram o impacto daqueles que são frequentemente temas de conversa e campeões de seguidores na Internet: as celebridades. Com os canais online, os fãs se aproximaram ainda mais de seus ídolos, aumentando a influência e o efeito multiplicador das personalidades. O Festival contou com a presença de alguns desses grandes fenômenos, entre eles a cantora Selena Gomez, o lutador George Saint-Pierre, o grupo pop coreano 2NE1 e o ex-jogador Ronaldo – que falou como o Brasil está se preparando para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas.
Apesar do surgimento contínuo de novas tecnologias que impulsionam ainda mais a velocidade das mudanças, muitas vezes o progresso está exatamente em resgatar o que ficou perdido no passado. É o que mostra o grande vencedor do Festival de Cannes na categoria filme: a animação para a rede de restaurantes Chipotle. O comercial campeão, chamado de De volta para o começo, mostra um fazendeiro e o aumento desenfreado da sua produção de carne suína, levando ao extremo confinamento dos animais e a processos pouco sustentáveis. No final do filme, ao observar seu impacto ambiental, o fazendeiro toma a decisão de voltar atrás e restabelecer as práticas sustentáveis de quando era apenas um pequeno produtor.
O Festival de Cannes também mostrou que uma grande ideia transcende gerações. Mesmo com a chegada de novas tecnologias, um conceito baseado em uma verdade humana universal mantém a sua força. Para comprovar isso, o Google Lab criou o Projeto Rebrief, onde o desafio foi adaptar clássicos da propaganda para o mundo digital.
De autoria do cineasta Doug Pray, o documentário do Projeto Rebrief é inspirador. O Google Lab convidou criadores de campanhas bem-sucedidas nos anos 60, já aposentados, para sentarem com criativos da nova geração e traduzirem a mensagem da campanha clássica para as ferramentas de comunicação de hoje.
O resultado surpreendeu a todos. Uma das campanhas recriadas foi a da Coca-Cola, sendo inclusive premiada com leão no Festival de Cannes em 2012. A campanha original, veiculada nos anos 60, mostra um belo coral no topo da montanha, composto por pessoas das mais diferentes origens e raças. A letra do Coral resume a ideia, dizendo: “Eu quero dar uma Coca-Cola para o mundo.“
A versão digital desse conceito usou a tecnologia atual para realizar o desejo daqueles que cantavam no coral: dar um Coca-Cola para o mundo. A Coca-Cola disponibilizou máquinas especiais para o refrigerante em vários países. Ao invés de comprar apenas para si, a máquina passou a dar ao consumidor a possibilidade de comprar uma lata para outra pessoa retirar em outra parte do mundo. E mais: além de dar uma Coca-Cola para o mundo, o consumidor ainda pode gravar uma mensagem que será exibida quando a outra pessoa ganhar a lata de refrigerante da máquina.
Casos como o Projeto Rebrief do Google Lab sugerem que a criatividade deve ser prioridade em toda e qualquer empresa, e não apenas em agências de publicidade ou outras indústrias tradicionalmente criativas. A gigante Kraft Foods, por exemplo, não mede esforços para manter o seu próprio laboratório de inovação. Mesmo sendo uma grande multinacional, a empresa ressalta a importância de se manter um espírito de startup, reunindo talentos de diversas áreas para solucionarem problemas e colaborarem em projetos experimentais.
Colaboração foi uma palavra-chave em Cannes. Com o domínio das redes sociais, fica evidente o potencial para a co-criação de produtos e serviços, bem como para a mobilização de todos no sentido de ajudar entidades que visam promover desenvolvimento social em diferentes partes do globo.
A fundação Bill & Melinda Gates aproveitou os criativos presentes no Festival e ofereceu U$ 100.000 para quem tivesse uma ideia que realmente ajudasse a vencer seu grande desafio: mobilizar as pessoas que não doam para instituições beneficentes por acreditarem que o dinheiro não é bem empregado, ou pior, que é desviado. A história de sucesso da fundação Gates comprova que é possível conseguir grandes resultados através de doações, desenvolvendo programas contra a fome, tratamento contra AIDS e vacinas para crianças em áreas remotas.
Outra fundação que marcou presença em Cannes foi a de Bill Clinton, representada pelo próprio ex-presidente, que foi ao Festival a convite do grupo ABC, a maior holding de agências de comunicação do Brasil e da America Latina. Clinton destacou que vivemos um momento de muitas possibilidades e que gostaria de ter vinte anos novamente para ver o que vai acontecer. Para o ex-presidente americano, é bom saber que hoje com as novas ferramentas de comunicação, as pessoas comuns têm muito mais condições de provocar mudanças do que antes.
No entanto, para ser um agente catalisador das mudanças que o nosso planeta precisa, não basta ter acessos às novas tecnologias e ferramentas de comunicação. Ter uma ideia ainda é fundamental. Você pode até imaginar que com o volume de informações disponíveis em questão de segundos, ter ideias hoje em dia seja tarefa mais fácil. Mas se por um lado existe mais input, por outro se exige muito mais capacidade de digerir as informações, o que não necessariamente facilita o processo criativo. Daí a importância de celebrar as grandes ideias com os leões do Festival Internacional da Criatividade em Cannes. O esforço de criar e implementar uma ideia merece ser reconhecido e aplaudido.
Afinal, grandes ideias fazem toda a diferença.
E com os grandes desafios que o planeta enfrenta e vai enfrentar, vamos precisar cada vez mais delas. Que venham novos leões.