A desertificação já alcança a marca 18,7 mil km² em território nacional.
Percorrendo a BR 230, passando pelo Ceará e Piauí, é possível ver um espetáculo da natureza. Os pastos, os gados, a paisagem tão sofrida da seca que dão nova forma a terra, algo tão bonito, mas de beleza somente vista pelos olhos daqueles que não conhecem a realidade da região.
Quem vive lá, e convive com os problemas da terra, sabe que aquelas deformações, muito além de manifestações do meio ambiente, são a marca da presença do homem. Áreas que sofreram com o uso inadequado do solo e da água nas atividades agropecuárias ou com a irrigação mal planejada, a mineração e o desmatamento indiscriminado, causando ou acelerando – em função das variações climáticas – a desertificação do solo. Processo que reduz ou elimina a camada superficial, e mais fértil, do solo, dificultando a penetração das raízes, aumentando as perdas de nutrientes das plantas, provocando a salinização e a solidificação do solo, reduzindo as atividades biológicas e transformando uma região fértil em deserto.
Segundo dados da Worldwatch Institute, organização norte-americana que acompanha o estado atual dos recursos naturais do planeta, 15% da superfície terrestre correm o risco de desertificação em algum grau. Mas, somente no Brasil é possível verificar este fenômeno em uma área total de 18,7 mil km2, que já avança para 1,3 milhões – 15,7% do território nacional.
Regiões de clima árido, semi-árido e sub-úmido seco são os mais vulneráveis, e no caso brasileiro, onde se concentram cerca de 30 milhões de pessoas que, em sua maioria, dependem da terra para a sobrevivência.
Os maiores índices de desertificação podem ser vistos em: Gilbués – no Piauí, Seridó – no Rio Grande do Norte, Irauçuba – no Ceará e Cabrobó – em Pernambuco. Segundo o IBGE, o Estado mais atingido é o Piauí, com sete municípios, sendo que em três deles atinge uma área de 769.400 hectares.
De acordo com o professor de Ciência do Solo da Universidade Federal do Piauí, Adeodato Ari Cavalcante Salviano, a degradação ambiental em Gilbués impressiona não apenas pela sua extensão, mas principalmente pela rapidez do processo, trazendo consigo sérios efeitos negativos tanto na zona urbana, como na zona rural.
“Quem passa pela região de Gilbués tem o desprazer de encontrar enormes crateras ao longo das estradas; extensas áreas com pouca ou nenhuma cobertura vegetal e com grandes sulcos de erosão ou mesmo voçorocas (erosão subterrânea), culminando com o assoreamento de baixões (geralmente de terras mais férteis), de grotas, riachos, rios, açudes, barragens e lagoas” – destaca o professor.
Reavivamento de Gilbués
Em uma tentativa de reduzir esses efeitos em Gilbués, a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – Semar criou o Núcleo de Pesquisa de Recuperação de Áreas Degradadas em Gilbués – Nuperade, cuja proposta é desenvolver pesquisas de controle de erosão e recuperação dessas áreas.
Para tanto, a proposta do núcleo é estabelecer compromissos entre as autoridades municipais, proprietários de terras e comunidades impactadas, para que sejam adotadas tecnologias apropriadas para barrar a expansão do problema.
Segundo o coordenador do Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca na América do Sul, Gertjan Beekman, este trabalho tem um importante papel na economia do Piauí, devido a fertilidade do solo. “São cerca de oito mil quilômetros de terra fértil inutilizada por causa do passado de mineração e agropecuária inapropriada, mas naquela terra tudo o que se planta, nasce” – diz o coordenador.
As experiências avançam com o cultivo de leguminosas de rápido crescimento, capazes de formar uma eficiente cobertura vegetal, que incrementa carbono e nutrientes ao solo e no controle da erosão, por processo mecânico, para recomposição topográfica, preparo do solo e plantio.
Embora as experiências estejam sendo positivas é necessária à intervenção contínua de toda a sociedade. “A principal ação para a melhoria do processo de gestão dos recursos naturais se relaciona à valorização e ao desenvolvimento do fator humano, através da conscientização, participação, comprometimento e educação” – alerta Salviano.