Por: Elizabeth Zach (The New York Times)
A Disneylândia é tudo, menos modesta. Suas fontes luxuosas esguicham sem parar, os brinquedos na água costumam molhar os turistas, e seus jardins perfeitos levam as crianças, e até os adultos, a dar gritinhos de deleite e às vezes chorar de emoção.
Então você poderia imaginar que o parque temático no sul da Califórnia, que depende de criar um mundo fantástico e grandioso, veria as restrições ao uso da água por causa da seca no Estado como algo oneroso. Mas não é o que acontece.
A seca já mudou os hábitos do setor do turismo do Estado, que inclui parques temáticos que são sua assinatura, campos de golfe de renome mundial, hotéis e spas de paisagismo impecável e maravilhas naturais abundantes que compreendem um setor de turismo de US$ 57 bilhões e emprega quase 5% dos trabalhadores do Estado.
Mas novas limitações pedindo que as pessoas, governos e empresas reduzam o consumo de água em até 36% em comparação com 2013 significam coisas diferentes para diferentes atrações. Os destinos de grande escala dizem que continuarão reduzindo o consumo, de forma que as restrições, de certa forma, não afetarão suas atividades. Outros, especialmente aqueles vinculados às maravilhas naturais do Estado, estão fechando as torneiras e ao mesmo tempo buscando novas maneiras de vender passeios para picos com pouca neve e córregos que estão secando.
A Disneylândia, que fica em Anaheim, está comemorando 60 anos em operação neste verão e não está mostrando sinais de reduzir suas atividades. Ela está entre os parques temáticos mais visitados do mundo e não parece nem um pouco restringida pela seca. As atrações que dependem de água no parque – Rivers of America, Adventureland, Splash Mountain, Finding Nemo Submarine Voyage, Piratas do Caribe e It’s a Small World – são possíveis por causa de sistemas de reciclagem de água, mas que ainda assim precisam ser completados por causa da evaporação.
A Disneylândia colabora com o Distrito de Água do Condado de Orange, que recicla a água e a envia para um sistema de purificação e, em seguida, para o aquífero subterrâneo do condado. Basicamente, então, a água que os moradores do Condado de Orange utilizam pode ser a mesma que passou pelo Mark Twain Riverboat quando visitaram a Disneylândia pela última vez.
Ainda assim, o departamento de água de Anaheim precisa reduzir o consumo da cidade em 20%, uma tarefa difícil. Durante uma visita recente à Disneylândia, ficou evidente que existem algumas soluções simples. Embora as torneiras controladas por sensores tenham baixa vazão, por exemplo, a água continua correndo mesmo depois de você terminado de lavar as mãos.
Nem a Disneylândia nem a agência de Serviços Públicos de Anaheim dizem quanta água o parque utiliza, e a Disney diz apenas que planeja cumprir com as restrições, uma vez que elas estiverem em vigor.
No resort de golfe Pebble Beach, no norte da Califórnia, os 454 quartos de hóspedes estão equipados com chuveiros de baixa vazão e os hóspedes podem optar por trocar os lençóis com menos frequência. O campo é regado com água residual reciclada, um projeto de US$ 67 milhões que o Pebble Beach Co. diz também ter sido responsável por reduzir o descarte na baía Carmel Bay. Além disso, o sistema de irrigação se baseia nas taxas de evapotranspiração, sondagem do solo, inspeção visual e clima.
“Um dos principais motivos para desenvolver e financiar este projeto em 1994 foi que percebemos que precisávamos de uma fonte confiável de água para irrigar todos os campos de golfe daqui uma vez que, periodicamente, a Califórnia passa por secas”, disse David Stivers, vice-presidente executivo do Pebble Beach Co.
Stivers acrescentou que essas providências anteriores para conservar a água deram a Pebble Beach uma vantagem para enfrentar as restrições vindouras.
“O Conselho de Água do Estado impôs uma redução de 8% na Península de Monterey, bem menor do que a redução média de 25% em todo o Estado”, disse ele. “Eles reconhecem que nossa comunidade tem um dos usos de água per capita mais baixos do Estado. Nós temos planos de conservação em vigor há algum tempo e vamos aumentar o que estamos fazendo para ajudar a cumprir com essas restrições.”
A seca, então, talvez seja sentida de forma mais aguda entre as comunidades que atendem a turistas, como a ilha de Catalina, que fica na costa do sul da Califórnia e faz parte do condado de Los Angeles.
Em meio à seca que se acentua, que já dura quatro anos e é vista por muitas estimativas como a pior da Califórnia, os moradores da ilha enfrentarão uma redução de 50% no consumo de água em outubro, quando as restrições de água em todo o Estado devem entrar em vigor.
É difícil dizer o que isto significa a longo prazo para o turismo na ilha, mas Jim Luttjohann, presidente da Câmara de Comércio e do Escritório de Turismo da ilha, descreveu os planos locais para o curto prazo.
“Menos dias de lavanderia nos hotéis ou então o envio da roupa suja para o continente; a eliminação de certos serviços de spa; louça descartável; intensificação das mensagens nos quartos, lembrando os hóspedes de economizarem água; ampulhetas nos chuveiros; água engarrafada importada; lavar as calçadas com água salgada; água salgada nos vasos sanitários”, disse ele.
Em outro destino turístico popular, longe da costa e no interior da Sierra Nevada, as operadoras de esqui ao redor do Lake Tahoe estão tentando aumentar suas atrações de clima quente logo após uma temporada fraca de inverno. De acordo com a Associação do Setor de Esqui da Califórnia, os resorts do Estado, 27 ao todo, estão atrás apenas do Colorado como um dos principais destinos para os esquiadores e praticantes de snowboard. Sete resorts na região do Lake Tahoe fecharam no início desta temporada por causa da pouca neve. Nas margens norte e leste do lago, que se estendem até Nevada, as águas do entorno, que incluem o rio Truckee, servem aos resorts ao redor de Incline Village e os cassinos de Stateline e vêm de um clima de deserto alto em Nevada, onde a paisagem depende menos da irrigação, diz Christopher Baum, presidente e diretor-executivo do Reno-Sparks Convention e Autoridade de Turismo.
“O rio Truckee ficará baixo neste verão, o que pode afetar a prática de rafting e caiaque”, disse Baum, mas ele acrescentou que não prevê nenhum problema por causa da restrição de água ao longo da parte de Nevada do Lago Tahoe.
E ele apontou com confiança para a própria água do lago como uma prova de que nem tudo está perdido.
“Nós não estamos na mesma situação difícil que a Califórnia”, disse ele. “Além disso, o lago Tahoe tem quase 500 metros de profundidade. Isso é água suficiente para cobrir o Estado da Califórnia com cinco metros de água. Enquanto estivermos vivos, não ficaremos sem água.”
Tradutora: Eloise De Vylder