POR – NEO MONDO
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é experiência de fé, mas é também fonte de solidariedade.
A cada ano, em Belém do Pará (PA), milhões de fiéis de todas as idades, etnias e classes sociais, muitos de olhos marejados e mãos estendidas, se reúnem pelas ruas da capital paraense em torno de um mesmo objetivo: homenagear Nossa Senhora de Nazaré. Relatos de fé, vitórias, conquistas, superações e solidariedade marcam os mais de 200 anos de história do Círio de Nazaré, a maior manifestação religiosa católica do Brasil e um dos maiores eventos religiosos do mundo.
Celebrada, desde 1793, no segundo domingo de outubro, o Círio atrai, a cada ano, mais e mais devotos. Em 2012, mais de dois milhões de pessoas se reuniram em torno da corda do Círio, em uma caminhada de 3,6 quilômetros, com várias paradas, para homenagear a Santa. E, em 2013, é esperado um novo recorde. Por sua grandiosidade, o Círio de Belém foi registrado, em setembro de 2004, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial.
A introdução da devoção à Senhora da Nazaré, no Pará, foi feita pelos padres jesuítas, no século XVII. A origem da procissão está ligada à lenda da descoberta da imagem de Virgem de Nazaré. Em 1700, às margens do igarapé Murucutú, o caboclo Plácido José de Souza encontrou a imagem de Nossa Senhora. Ele levou a estátua para sua cabana, mas, no outro dia, ela não estava mais lá. Plácido a achou novamente no igarapé onde a havia encontrado no dia anterior. Este é considerado o primeiro milagre da Virgem de Nazaré. Assim, o Círio refaz há mais de dois séculos o caminho da imagem. O local onde Plácido a encontrou é hoje a Basílica de Nazaré. Assim, na noite de sábado, uma procissão a velas, chamada de transladação, leva a imagem da Basílica de Nazaré para a Catedral da Sé, no centro histórico de Belém, próximo de onde ficava a cabana de Plácido. Na manhã de domingo, acontece a principal procissão quando a imagem sai da Catedral da Sé e segue para a Basílica de Nazaré, onde a imagem da Virgem fica exposta para veneração dos fiéis durante 15 dias. O termo “Círio” tem origem na palavra latina “cereus” (de cera), que significa vela grande de cera.
Além da procissão de domingo, o Círio agrega várias outras manifestações de devoção, como a trasladação, a romaria fluvial e diversas outras peregrinações e romarias. A festa tem ainda vários eventos e comemorações, que duram cerca de quatro semanas.
Apesar de o Círio de Nazaré de Belém ser o mais conhecido, o Círio mais antigo do Brasil data de 8 de setembro 1630 na cidade de Saquarema, no Rio de Janeiro. Procissões semelhantes são realizadas em várias outras cidades do Pará e do Brasil. As mais famosas são o Círio de Soure, o Círio de Vigia, além das procissões realizadas em Castanhal, Breves e em outras cidades paraenses. A cidade do Rio de Janeiro realiza a procissão no mês de setembro, em Copacabana. Brasília, Manaus e Macapá são algumas capitais onde o Círio de Nazaré foi introduzido por paraenses que moram em outros estados.
Fé e solidariedade
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é experiência de fé, mas é também fonte de solidariedade.
O lixo recolhido durante as romarias do Círio de Nazaré se transforma em renda para famílias de catadores da capital paraense. Em 2012, foram recolhidos mais de 770 toneladas de lixo durante as procissões; sendo cerca de 400 toneladas de materiais recicláveis.
Todo o material que pode ser reciclado é levado até um galpão localizado no bairro de Val-de-caes, em Belém, onde passa por uma triagem. Tudo é vendido para empresas e grupos e a renda é dividida igualmente entre os catadores.
Além disso, grande parte da arrecadação da Festa é investida nas Obras Sociais da Paróquia de Nazaré (Ospan). Milhares de pessoas são beneficiadas anualmente em seus projetos de atendimento médico e odontológico, distribuição de sopa, creches infantis e iniciativas para o desenvolvimento da comunidade, como o programa de inserção no mercado de trabalho e o programa adolescente trabalhador.
Símbolos da tradição
O Círio de Nazaré é cercado de objetos e rituais simbólicos. Conheça, abaixo, os principais:
A corda, espaço de pagamento de promessas dos romeiros e pesa aproximadamente 700 quilos, de puro sisal torcido. Foi incorporada à celebração em 1868.
O manto, sempre com uma conotação mística, relatando partes do evangelho. A cada procissão, há sempre um novo manto envolvendo a figura de Nossa Senhora. Sua confecção é feita com a ajuda de doações, quase sempre anônimas.
Os carros de promessas ou dos milagres, que recolhem os ex-votos ilustrativos das graças alcançadas pelos fiéis.
As crianças, tradicionalmente vestidas de anjos
As novenas, ciclos de orações realizadas durante as semanas que antecedem a festividade, por devotos que realizam pequenas romarias pelas casas de vizinhos.
O almoço com a família, realizado no domingo da procissão, como um ato de comunhão. Tradicionalmente é composto de Pato no Tucupi e Maniçoba, pratos tradicionais da região.
Os brinquedos feitos de miriti, uma palmeira típica do Norte do Brasil.