POR – REDAÇÃO NEO MONDO
A família precisa reforçar sua voz e vez nas escolas.
Recente estudo realizado pela Fundação Itaú social constata que o contexto familiar responde pela expressiva parcela de 70% do desempenho do estudante, restando 30% para o ambiente escolar propriamente dito. O nível de escolaridade dos pais e o de renda familiar, de acordo com o estudo, são decisivos na aferição da relação entre fatores familiares e sucesso escolar. Tamanha influência só comprova que o diálogo escola & família só traria ganhos para a qualidade do ensino, o que, no entanto, não é uma verdade nem cultural nem histórica no Brasil.
O fato, porém, é que pais e mães de alunos, além das demais pessoas que compõem o núcleo familiar, muitas vezes nem imaginam o quanto poderiam influenciar na educação formal de crianças e adolescentes. Há caminhos institucionais para essa aproximação, como os conselhos escolares, que permitem aos familiares colaborar na definição da política educacional; ajudar na efetivação do projeto pedagógico e na definição dos modos de interação com o meio social em torno da unidade de ensino.
Desconhecimento ou desinteresse? É comum ouvir a queixa de educadores de que muitas pessoas ainda vêem as unidades de ensino básico e fundamental como “depósitos de crianças”, não se importando a mínima pelo que vier a acontecer com esses seres em formação. Nesse sentido, na visão da “acomodada da família”, a educação é direito do cidadão e dever do estado, que deve oferecer o que de melhor existe em termos de ensino. Por outro lado, essa possibilidade ampla de participação nem sempre é estimulada e divulgada pelas escolas.
Pessoas valorizadas
A pedagoga Consuelo Carvalho, diretora-geral do Cresça – Centro de Realização Criadora, em Brasília (DF), faz valer sua experiência de mais de 30 anos de educadora para avaliar que “as escolas precisam mostrar, acima de tudo, competência”, no que implica cuidar de pessoas, e não apenas do patrimônio físico, por mais avançado que seja. A começar do suporte à equipe de educadores, no sentido de investir na formação deles, remunerá-los de maneira digna, respeitando as peculiaridades socioeconômicas de cada um. “Devemos, acima de tudo, valorizá-los, incentivá-los, facilitar as suas vidas, reconhecendo-os como pessoas que têm direito a uma vida digna. Diretores, coordenadores, psicólogos precisam andar de mãos dadas com os professores”, afirma.
Com especializações em orientação educacional, administração escolar, educação inclusiva, Psicologia da educação e magistério, Consuelo é prova do que defende como ideal para os profissionais da educação. Sua análise da conjuntura educacional brasileira corrobora em parte o diagnóstico da Fundação Itaú Social. “Durante aproximadamente dois séculos, escola e família não dialogavam. As famílias não questionavam o posicionamento das escolas. O que o professor dizia tornava-se regra indiscutível. As famílias apoiavam”, pura e simplesmente.
Sem nunca perder de vista que os alunos são as pessoas mais importantes no processo educacional, a diretora-geral do Cresça reforça a relevância da participação das famílias. Para ela, se “pais, de um lado, devem acompanhar e zelar para que os filhos recebam da escola o tratamento e a educação esperados e sonhados, cabe, do lado da escola, resgatar-lhes a confiança, viver e reviver um relacionamento harmonioso com as famílias, promovendo encontros periódicos e particulares com os pais”.
A educadora recomenda que pais e escola não alimentem impasses, estando à vontade para se encontrarem sempre que surgirem dúvidas, descontentamentos, queixas. “Esses encontros é que tornam os pais mais confiantes, uma vez que eles têm a oportunidade de conhecer mais profundamente a equipe. A confiança dos pais aparece na medida em que eles conhecem e reconhecem a competência da equipe”, conclui.
Gestão democrática
Uma proposta para impactar positivamente o envolvimento familiar na educação formal foi desenvolvida pelo Instituto Paulo Freire (IPF), com sede em São Paulo. É a gestão democrática. O instituto pode ser contatado para desenvolver atividades de disseminação dessa prática em escolas públicas com participação de educadores, aí entendidos profissionais das unidades de ensino e representantes de familiares. A gestão democrática é algo que se coloca como um convite à reflexão e à prática.
Associações de Pais e mestres e conselhos de escola podem ser a cabeça-de-ponte que vai permitir atingir os objetivos, como acontece na EMEB Cecília Meireles, em São Bernardo do campo, no ABC Paulista. A participação das famílias ali ganhou novos contornos desde que uma educadora e um conselheiro da escola freqüentaram seminário coordenado pelo prof. Luizinho, do IPF. Um meio de ampliar o alcance da gestão democrática foi criar um jornal, de boa aceitação na EMEB.
O esforço ali desenvolvido começou pela conscientização de familiares sobre a importância e o alcance dessas instituições, que nem sempre são bem-entendidas a assessora pedagógica da diretoria do La Salle Instituto Abel de Niterói (RJ), Mary Rangel, alerta que não se deve generalizar sobre pouca participação de famílias na educação formal de crianças e adolescentes. Ela lembra que estatísticas a respeito do assunto são incipientes e diz: “numa observação empírica, pode-se até dizer que há crescente atenção das famílias em relação à educação escolar”. O que a especialista defende é que se aperfeiçoem o diálogo e a participação das famílias. Um dos recursos, a seu ver, para que isso se efetive seria a criação de ouvidoria, prática disseminada em outros segmentos com bons resultados.