O primeiro grande projeto foi realiza do na China, onde Mauricio foi convida do pelo governo para criar histórias com caráter educativo para pré-alfabetização de cerca de 180 milhões de chinesinhos (veja mais detalhes sobre o projeto na entrevista a seguir).
Agora o artista tem nos planos um projeto voltado para alfabetização de crianças brasileiras por meio da televisão.
Ainda na área educacional, os personagens da Turma têm sido usados em constantes campanhas. Violência contra crianças, gripe suína e esclarecimentos sobre a síndrome de down foram alguns dos temas que tiveram a turma da dentuça como porta-voz. “E vem muito mais por aí”, garante Mauricio.
Não é à toa que em 2007, num feito inédito, o Fundo das Nações Unidas para Criança e Adolescência (Unicef) nomeou como embaixadora a personagem Mônica, criação inspirada em sua segunda filha. Na ocasião, Mauricio foi nomeado Escritor para Crianças do Unicef.
Em meio século de carreira, ele já acumulou muitas histórias para contar, além, é claro, das que divertem seus fãs no mundo inteiro.
Por isso a comemoração do cinquentenário, completado neste ano, incluiu realizações diversas, como um documentário, abertura de exposição e lançamento de livro.
O documentário foi exibido no canal Biography Channel em 18 de julho, e um dia depois foi aberta a exposição Mauricio 50 Anos, no Museu da Escultura (MuBE), na capital paulista. A mostra ficou no espaço até 18 de agosto, quando foi substituída por outra exposição: História em Quadrões, uma releitura de obras mundialmente consagradas, como a Monalisa de Leonardo da Vinci, transformada em Monicalisa.
A mostra já percorreu o País e estava prevista para ficar no MuBE até 20 de setembro.
O lançamento mais esperado das comemorações, porém, foi o do livro MSP 50 durante a XIV Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, realizada nos dias 12 e 13 de setembro.
Nele, 50 artistas brasileiros apresentam histórias em quadrinhos inéditas utilizando os personagens da Turma da Mônica, mas com o traço original de cada quadrinista.
Outros dois livros ainda estavam programados para este ano: um sobre os 50 anos do Bidu, o primeiro personagem, que hoje aparece, inclusive, no logotipo da empresa do autor, e outro, ainda não batizado, contando a trajetória artística de Mauricio, década a década.
Das manchetes policiais às tiras de HQ
Nascido em 1935, em Santa Isabel, no interior paulista, Mauricio demonstrou interesse pelo desenho logo cedo e para ajudar no orçamento doméstico criava cartazes e pôsteres.
Chegou a produzir ilustrações para jornais de Mogi das Cruzes, mas foi em São Paulo que encontrou seu primeiro emprego fixo em uma grande publicação: atuou como repórter policial da Fo lha da Manhã, atual Folha de S. Paulo, durante cinco anos.
Em 18 de julho de 1959, viu sua primeira tira publicada na Folha, uma história vertical, sem texto, estrelada pelos personagens que viriam a ser batizados como Bidu e Franjinha.
A partir de então, o jornalismo foi deixado de lado e o desenhista iniciou a criação dos muitos personagens que viriam compor a Turma da Mônica.
Superando crises econômicas, a invasão dos desenhos japoneses e outras tantas dificuldades, hoje Mauricio continua sendo o autor da revista em quadrinhos mais vendida do país.
E ele não parece perder fôlego. Depois de passar pela Editora Abril e Editora Globo, assinou contrato com a multinacional italiana Panini, que publica suas revistas desde 2007. No ano passado, lançou a re vista Turma da Mônica Jovem, cujas quatro primeiras edições venderam, juntas, mais de 1,5 milhão de exemplares.
O quadrinista dedicou um pouco do seu tempo para responder algumas perguntas da redação da NEO MONDO. Confira a seguir.
Neo Mondo: Você acaba de completar 50 anos de carreira. Como explica a sobrevivência de personagens como Bidu e Franjinha, os primeiros, e mesmo da Mônica, por tanto tempo? Eles precisaram sofrer “atualizações” no decorrer destes anos?
Mauricio de Sousa: Há coisas que não se explicam, mas apontam pistas. E tal vez uma das pistas para explicar a longa vida da Turma da Mônica seja o cuidado com que ela é produzida. Desde as artes, que evoluíram para atender ao gosto e à sensibilidade dinâmica dos leitores, até os roteiros, os textos, que atendem ao que se espera de modernidade, de atualidade. Os personagens falaram sempre e continuam falando a língua do dia, da hora. Usam o que os leitores estão usando, falam dos assuntos que os leitores estão falando. Assim, não envelhecem. Pelo contrário, interagem com o público.
Neo Mondo: As publicações das re vistas deste ano estão saindo com a assinatura “Ler é o maior barato”. Você acredita que os leitores de quadrinhos incorporam o hábito da leitura, tornando-se também adultos leitores? E durante a infância, você acha que o hábito pode refletir positivamente nos estudos, por exemplo?
Mauricio de Sousa: Em meus lançamentos nas livrarias, onde tenho contato direto com meus leitores, é comum algum pai dizer que seu filho aprendeu a ler com a Turma da Mônica. O lúdico sempre foi fonte de interesse da criança e a linguagem dos quadrinhos é especial nesse caso, pois trabalha a memória visual junta mente com a de leitura. O resultado é alguém interessado em ler apesar dos programas de TV, dos videogames e outras diversões modernas que tiram o tempo de leitura. Se conseguem ler, conseguem estudar qualquer matéria na escola.Conquistamos isso criando historinhas que, em primeiro lugar trazem boa diversão e, em segundo lugar, trazem lições de solidariedade, cultura e amor à vida.
Neo Mondo: Você tem inserido temas sobre responsabilidade socioambiental, educação e cidadania em muitas histórias e mesmo utilizado os personagens em campanhas educacionais diversas. A identificação dos personagens ajuda para que esses conceitos sejam melhor assimilados?
Mauricio de Sousa: Minhas histórias são recordações de brincadeiras de infância no interior paulista. Minha Vó Dita contava histórias para a garotada da rua, enquanto eu desenhava para ilustrá-las. Era uma espécie de cineminha que dava boa audiência. Meus pais, ligados à poesia, ajudaram muito nessa vontade de ser um escritor. Contar sobre todas essas coisas foi natural. Quando crio histórias para divertir também acabo passando algum ensinamento sobre os valores culturais ou solidariedade. Por essa razão, a Mônica tornou-se uma personalidade virtual de desta que. É embaixadora do UNICEF (a única virtual no mundo), Embaixadora do Turismo no Brasil e agora acaba de ser convidada como Embaixadora da Cultura do Brasil. A responsabilidade aumenta, mas sei que posso emprestar o carisma desses personagens para levar mais informação e formação para nossas crianças e jovens. Nesse momento, por exemplo, estamos elaborando material para a Campanha sobre a Gripe A (suína) que vem preocupando a todos por ser uma pandemia.
Neo Mondo: Um dos pontos altos de sua carreira foi o título de “escritor para crianças do UNICEF” e a indicação da Mônica como embaixadora do órgão, em 2007. Quais as ações realizadas devido à conquista dos títulos?
Mauricio de Sousa: Mesmo antes de ser escolhido como escritor para crianças do UNICEF já produzia naturalmente histórias com mensagens educativas. Agora estamos com mais trabalho em campanhas na mídia utilizando meus personagens. A última do UNICEF foi a campanha na TV contra a violência às crianças. Faremos muito mais nos próximos anos.
Neo Mondo: Em que estágio está o projeto educacional realizado em parceria com o governo da China? Foi necessário realizar mudanças nos personagens ou nos temas das histórias para se aproximar da cultura chinesa? Como você avalia o projeto até agora?
Mauricio de Sousa: Já foram lança das cinco edições: Descobrimento do Brasil, Fenômenos da Natureza, Futebol, Meio Ambiente e Imigração, mostrando, em sua maioria, assuntos relacionados ao Brasil. Estão sendo distribuídas gratuitamente. São publicações da editora OEC – Online Education China, em parceria com o Consulado Brasileiro em Xangai. Fora isso, temos mate rial veiculado pela internet direta mente para as escolas, já que editar livros para mais de 180 milhões de crianças chinesas acabaria com uma floresta por edição.
Neo Mondo: E quanto ao seu projeto de alfabetização de crianças por meio da TV brasileira, qual sua expectativa? Ele já foi iniciado?
Mauricio de Sousa: Esse projeto já está pronto e estamos conversando com empresários para colocá-lo em prática em 2010. Vai com nossa pro posta para que todos nossos produtos tenham um viés educacional a partir de agora.
Neo Mondo: Para finalizar, qual sua opinião sobre a discussão atual em torno de jogos e desenhos animados com temáticas violentas? Você acredita que eles podem influenciar negativamente as crianças?
Mauricio de Sousa: Estamos publicando em nossas revistas uma série de historinhas retratando os games, que fazem parte do dia-a-dia das crianças. Uma delas, Game na Real, traz o Cebolinha e o Cascão jogando game e descobrindo que os personagens de seus joguinhos são atendidos por uma ambulância quando eles não estão mais jogando. É a revolta dos personagens de games. A idéia é passar, com muita criatividade e humor, que às vezes é melhor brincar com heróis de verdade do que uma ação repetitiva que o game traz. Com isso, acredita mos que estamos fazendo nossa parte incentivando as crianças a brincarem mais com gente real do que com equipamentos eletrônicos.