POR – REDAÇÃO NEO MONDO
NEO MONDO conversou com a gerente de Responsabilidade Social da instituição, Cláudia Calais, para saber mais das ideias e iniciativas que mostram ser possível avançar e, mesmo, inovar no setor que é o calcanhar-de-aquiles de muita administração pública.
Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), pós-graduada em Comunicação Empresarial pela Fundação
Cásper Líbero, em São Paulo, Cláudia deu toda ênfase na área social em sua pro?ssão, dedicando-se ao jornalismo comunitário. Na Fundação Bunge foi, primeiro, coordenadora de Comunicação.
Investimento social
A ?loso?a e a prática de trabalho na entidade são explicadas pela sua gerente de Responsabilidade Social como algo alicerçado em algumas premissas básicas que direcionam o investimento social da Fundação (ver quadro).
Cláudia argumenta: “Trabalhamos com seres humanos e, independentemente de classe social ou nível cultural, seres humanos
precisam ser bem tratados”. A partir desse princípio, explica: “Toda ação proposta pela Fundação Bunge tem que estar pautada na
valorização do conhecimento e no compromisso com o que chamamos de novo ciclo de desenvolvimento. Ou seja, o crescimento
econômico alinhado com o compromisso ambiental e responsabilidade social. Com isso queremos que as ações de sustentabili-
dade migrem do discurso para a prática”.
Esclarecidas as duas primeiras premissas básicas, Cláudia se atém à terceira delas, que implica falar de aspecto primordial quando se trata de ações sociais: as parcerias. “Quando buscamos o envolvimento e o desenvolvimento local, estamos, em outras palavras, a?rmando que a parceria é fundamental. Não por questões econômicas, mas sim pedagógicas, pois as ações que desenvolvemos não são para a Fundação. São sempre para alguém, alguma região, alguma instituição, e nada mais justo e formador que este bene?ciário seja parceiro das ações, pois em uma ação social o processo é extremamente educativo”, a?rma.
Exemplo catarinense
De abrangência nacional, a Fundação Bunge está com o programa Comunidade Educativa em 9 estados (ver quadro). Cláudia ressalta, no entanto, que ações e parcerias da entidade vão além, no que classi?ca como “ação concreta e aprendizagem”.
A gerente de Responsabilidade Social detalha: “Um exemplo é a que estamos desenvolvendo com a Prefeitura Municipal de Gaspar (SC) na construção de um bairro que segue princípios sustentáveis para abrigar parte das famílias desalojadas ou que ainda vivem em situação de risco na região do Vale do Itajaí. A Fundação Bunge entra como fomentadora do processo, articuladora de parcerias e propositora de novas ideias, porém nunca assumindo o papel da municipalidade.
“Cada um deve atuar dentro da sua esfera de competência. Neste caso, apresentamos a ideia inovadora do bairro sustentável e ?nanciamos o projeto e a construção da escola (com bases ecoe?cientes), e a Prefeitura será a responsável pela implementação do projeto do bairro. Todo esse trabalho está sendo acompanhado pela comunidade, instituições e pro?ssionais que julgamos importantes no processo”.
De parcerias a resultados o caminho é certo. Cláudia aponta o projeto Conhecer para Sustentar como “melhor indicador de
êxito e qualidade”. E o faz em tom coloquial, não sem antes lembrar que o Vale do Itajaí com a construção de um bairro para população de baixa renda, seguindo princípios sustentáveis, é uma vitória para a Fundação: “Imagina você, em um período de caos,
convencer a municipalidade que o melhor seria investir em um projeto sustentável para abrigar essas famílias. O cálculo inicial da Prefeitura, e com razão, é custo/benefício: ‘preciso abrigar o maior número de pessoas, no curto prazo possível e com o menor custo’. E aí chega uma Fundação e propõe: vamos abrigar estas famílias de maneira decente, em um bairro previamente planejado para que, no futuro, elas não venham a ter os mesmos problemas que estão enfrentando atualmente. E que para buscar soluções para este bairro reúne e ouve especialistas de diferentes áreas e estados. Não é algo simples. Mas o envolvimento da Prefeitura neste processo foi fundamental para o êxito das ações. Hoje, o projeto não é da Fundação; é do município”.
Há resultados signi?cativos também no Comunidade Educativa, segundo Cláudia. “Atuamos em escolas públicas do ensino fundamental na formação de educadores e em ações de leitura e escrita junto aos alunos. Fechamos 2009 com um aumento de 12% no desempenho de leitura e escrita dos alunos das 56 escolas onde estamos em 18 cidades de 9 estados brasileiros”, diz, para completar: “Número estimulante, principalmente porque não foi uma conquista nossa, mas sim da comunidade escolar”.
Livro e documentário
A Fundação Bunge, com iniciativas do alcance das citadas, é referência, a ponto de ser convidada a participar do 5o. Fórum
Urbano Mundial. A jornalista comunitária lembra que o projeto Conhecer para Sustentar: Vale do Itajaí é dividido em duas
etapas: a primeira, a de disseminação do conhecimento; e a segunda, a da reconstrução. Na primeira etapa, reuniu-se um grupo de estudiosos, pesquisadores e pro?ssionais de diferentes áreas do conhecimento para, primeiro, entender o que ocorreu na região.
“O resultado deste estudo virou um livro e um documentário. Porém, mais do que um relato sobre a tragédia, esse livro e esse documentário apontam para o futuro. Eles apresentam propostas para a ocupação responsável do solo por meio da agricultura e também para o desenvolvimento urbano do Vale do Itajaí. A segunda etapa diz respeito ao projeto do bairro sustentável e a construção da escola seguindo princípios de ecoe?ciência”, esclarece. Como parte da programação do 5º Fórum Urbano Mundial, a Fundação Bunge apresentou o documentário, produzido em parceria com o Canal Futura sobre o Vale do Itajaí.
Parceria acadêmico-cientí?ca
Desde 1995, o prêmio Professores do Brasil, que a Fundação Bunge criou há 56 anos, tinha entre seus parceiros o Ministério da Educação (MEC) “Em 2010 não daremos continuidade a essa parceria. Fomos os primeiros parceiros do MEC nesta iniciativa, desde 1995. Neste período vários outros parceiros foram colaborando com o projeto. Isso nos levou a algumas re?exões internas e, como esta ação já conta com bastante apoio, decidimos direcionar nosso investimento para áreas ainda por serem desbravadas, como é a questão da sustentabilidade”, diz Cláudia.
Feito o esclarecimento, a gerente acentua: “Há 56 anos a Fundação Bunge mantém o Prêmio Fundação Bunge. Trata-se de uma parceria com as principais universidades e institutos de pesquisa do país em prol do reconhecimento de pro?ssionais que dedicaram vida e obra a causa cientí?ca. Este prêmio também estimula jovens talentos. Pesquisadores de até 35 anos de idade que estão enveredando pelo campo das ciências. Este ano, por exemplo, premiaremos pesquisadores das áreas de Saúde Pública/Medicina Preventiva e Ciências Florestais. Esse prêmio, para nós é importante, pois ele está diretamente ligado a inovação. E sustentabilidade passa por inovação. Ele é um estímulo a novas ideias”.
Cláudia ressalta aspecto importante do prêmio, que é o acompanhamento feito pela Fundação Bunge dos projetos ou trabalhos premiados. “O projeto nunca se esgotou na premiação. Na verdade ele começava com a premiação, pois os professores contemplados depois eram convidados a viajar conosco pelo país apresentando seus trabalhos a outros educadores. Essa troca é fantástica, pois era o educador falando para o outro educador dos desa?os e vitórias que ele obtinha em sala de aula. Não era o especialista falando para a comunidade escolar. Era alguém que tinha a vivência de sala de aula. Apesar de não realizarmos mais o Prêmio a partir deste ano, continuaremos a investir nesta troca entre educadores”, diz.
O esmero na logística do Prêmio Fundação Bunge é detalhe digno de nota: a solenidade de premiação é precedida por um seminário internacional, em que os premiados brasileiros têm a oportunidade de apresentar os seus trabalhos com pesquisadores de outros países.Mesmo com tanta iniciativa promissora, permanecem desa?os. O maior deles, quando se fala em educação, na
visão de Cláudia, “é entender que ela é processo e que não é responsabilidade de poucos, mas sim de todos. O problema é que esse entendimento ainda é discurso e não prática. Também precisamos estar atentos à qualidade. Metas são fundamentais em qualquer processo e na educação eu diria que são vitais. Avançamos muito, mas ainda temos muito a construir. Todo país que hoje apontamos como referência em desenvolvimento, em algum momento da sua história, priorizou a educação. Esse momento também precisa fazer parte da nossa linha do tempo.
“Em relação a sustentabilidade, o grande desa?o é entender o que vem a ser desenvolvimento econômico com responsabilidades social e ambiental. Isso tudo ainda é muito novo pra todo mundo. A cada minuto surgem soluções sustentáveis para os negócios e o planeta que no momento seguinte são revistas. Tudo é muito novo. Mas eu acho que esse é o
caminho. O importante é migrarmos do discurso para a prática. Ações responsáveis pautadas no que estamos chamando de novo ciclo de desenvolvimento têm que permear a nossa prática nos negócios, na relação com a natureza e na condução das causas sociais. E não podemos esquecer que todas essas ações são pensadas e implementadas por nós, seres humanos, apresentados como os mais evoluídos do planeta. Neste contexto, a nossa atuação como cidadãos é fundamental. A empresa não existe sem pessoas, o meio ambiente é habitado também por nós e as ações sociais, nem se fala. Então está em nossas mãos o processo de mudança”.
Comunidade Educativa presente
Candeias (BA)
Cubatão (SP)
Gaspar (SC)
Guará (SP)
Ipojuca (PE)
Luís Eduardo Magalhães (BA)
Paranaguá (PR)
Ponta Grossa (PR)
Rio Grande (RS)
Rondonópolis (MT)
Santa Juliana (MG)
Santos (SP)
São Paulo (SP) – Bairro Vila das Belezas
São Paulo (SP) – Bairro Jaguaré
Uberaba (MG)
Uruçuí (PI)
Premissas básicas de ação
• Sensibilidade e compreensão
• Responsabilidade nas ações desenvolvidas
• Compromisso com o desenvolvimento e o envolvimento local
Fonte: Fundação Bunge