POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Uma pesquisa realizada pelo IBOPE mostra os déficits da leitura do brasileiro e apresenta soluções.
Era uma vez um povo que precisava ler mais para, com sabedoria, fazer valer a democracia de seu País. De acordo com a socióloga Verônica Cortes, se o hábito da leitura fizesse parte da realidade brasileira, o Brasil seria bem diferente. Com senso crítico e habilidade de relacionar os fatos, a população teria mais condições de cobrar seus direitos, teria profissionais mais capacitados e aptos para melhorar o Brasil.
Contudo, longe dos contos de fadas, a realidade dos brasileiros é outra, como confirmam os dados da segunda pesquisa retratos da leitura no Brasil, realizada no final de 2007, pelo Ibope inteligência, por solicitação do Instituto Pró-livro, que tem como objetivo principal o fomento à leitura e à difusão do livro.
Os resultados do estudo apontaram que o brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano, sendo que 100 milhões declararam ter lido ao menos um livro no último ano. Enquanto em países como Espanha, Argentina e França a média per capita é de 5, 5.8 e 7 livros por ano, respectivamente.
Entretanto, estes números são ainda mais alarmantes se forem analisados somente os dados daqueles indivíduos que já concluíram os estudos e não estão mais na escola. Esta média cai para 1,3 livros por ano.
Segundo a gerente executiva de projetos do instituto Pró-livro e membro da comissão de trabalho da pesquisa, Zoara Failla, esta segunda edição da pesquisa foi realizada para avaliar os resultados das ações investidas no período entre 2001 (primeiro levantamento) e 2007. “Mesmo que de maneira ainda tímida, no intervalo desses seis anos houve muitas mudanças e melhorias no acervo de medidas que favoreceram a educação, a cultura e a leitura. Estas questões passaram a ter maior espaço na pauta dos governantes” – destaca.
Ela explica que, dessa vez, foi inclusa toda população maior de cinco anos, enquanto na primeira edição foram ouvidas pessoas com ou acima de 15 anos, com três anos de escolaridade. “Mas, se pegarmos somente esta parcela da população e compararmos com os dados levantados em 2007, veremos que houve uma melhora de 1,8 para 3,7 por habitante no índice da leitura” – ressalta.
Mas ainda é pouco
Diferente de um noticiário no rádio ou na televisão, a leitura de um livro, jornal ou revista permite à pessoa compreensão, pois se leu e não entendeu, ou se esqueceu, pode voltar e reler o conteúdo formando uma opinião própria a respeito. “Se você mesmo for atrás das informações, e não se satisfizer com aquilo que ouve, vai formar o seu juízo sobre o assunto. Uma pessoa assim conhece melhor seus direitos e se destaca no mercado de trabalho por sua visão estratégica e capacidade de análise” – enfatiza.
Por que o brasileiro não lê mais?
Um entrave para a leitura é o analfabetismo funcional. Conforme afirma a socióloga, 70% da população têm dificuldade de interpretar o conteúdo lido. Então, como gostar de ler se não for estimulado da maneira adequada?
Para Zoara, este estímulo precisa partir da história contada, motivando as crianças a recontarem a história, inventarem outras… “E por que não começar com o gibi? tem que despertar com algo que lhe agrade” – sugere.
Ambas concordam que a escola é o principal fomentador da leitura, mas, quando a leitura é obrigatória, o resultado será o inverso da motivação. “A leitura precisa ser prazerosa, com fundamentos que conquistem, por isso, o aluno deveria escolher o que ler” – alerta a gerente.
Outro equívoco é a maneira com a qual esta leitura é geralmente avaliada. Na maior parte dos casos, os alunos são obrigados a responder um questionário sobre o livro, enquanto a apresentação por meio da montagem de uma peça, por exemplo, poderia ser bem mais interessante e estimulante.
A família também tem a sua parcela de culpa. A pesquisa mostra que aqueles que têm o hábito da leitura foram influenciados pela mãe. Havia livros em casa e quando pequenos foram presenteados com alguma literatura. A biblioteca também tem um papel importante neste estímulo e, portanto, deveria ser vista pelas crianças e jovens como espaço cultural, com atividades atraentes para a comunidade. A começar por um acervo multimídia que pode auxiliar o jovem na escolha da leitura, livrando-se do estigma de lugar silencioso e escuro.
Se há estímulo, há resultado
Cleiton Apolinário da Silva, 18 anos, morador de Francisco Morato, na Zona Leste da cidade de São Paulo, conheceu a biblioteca aos treze anos quando visitava o espaço multimídia para acessar a internet. Ficava mexendo no computador e vendo de longe aquele monte de livros que ele tanto achava estranho.
Até que um dia a curiosidade falou mais alto e finalmente entrou no espaço em que eles ficavam. “Por coincidência, estavam precisando de voluntário para trabalhar lá e me candidatei. Tinha que ajudar as pessoas a escolherem os livros, mas eu não tinha lido nenhum. Via as pessoas cultas conversando sobre várias coisas e não sabia de nada, foi então que comecei a ler” – conta ele.
Um tempo depois, apareceu a oportunidade de fazer um curso de contador de história, oferecido pela Fundação Volkswagem. Ele não só fez o curso, como multiplicou tudo o que aprendeu com os colegas. Em cinco anos de voluntariado, contou histórias para crianças de 32 escolas e formou 20 contadores.
“Quando vejo uma criança com um livro na mão, sinto uma felicidade porque sei o quanto aquilo será importante para ela. Ainda encontro na rua pais que me agradecem, pois, depois que seus filhos começaram a freqüentar a roda de leitura, passaram a ter melhor comportamento em casa e na escola” – relata.
Por causa da sua experiência com a leitura ele também passou a gostar e se interessar pelo estudo. Hoje, trabalha numa transportadora, mas já decidiu que vai cursar a faculdade de biblioteconomia.