POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Mas há ainda alguns exemplos surpreendentes que assumiram a responsabilidade de recriar espaços naturais e restabelecer sistemas ecológicos. Foi isso que fez o empresário paulista Luiz França de Mesquita. Numa área de um milhão de metros quadrados, constituída basicamente por pasto seco, ele comandou ao longo de 10 anos um re?orestamento com espécies nativas que fez surgir bosques, recantos, trilhas ecológicas e proporcionou o retorno de inúmeros animais silvestres. Só então implantou o Canto da Floresta Hotel, um resort ecológico, no Circuito das Águas, em Amparo, no interior de São Paulo.
Mesquita, antes de falecer em 2008, pode comprovar os resultados desse sonho, que trouxe vida e verde àquele trecho dos contrafortes da Serra da Mantiqueira. Conforme explicou sua ?lha, Fernanda Mesquita Berkovit, que atualmente divide a administração do empreendimento com o irmão Luiz Nogueira de Mesquita, o hóspede que visita o local, cercado por montanhas, ar puro, cortado por rio encachoeirado e marcado pela algazarra do canto dos pássaros não consegue imaginar o quadro de degradação da antiga fazenda.
Mesquita acredita que todo o trabalho desenvolvido demonstra que a discussão da sustentabilidade no turismo passa necessariamente por um planejamento de longo prazo e a percepção de que o turismo sustentável não é um produto, mas um conceito interno.
No caso do Canto da Floresta, a natureza encontrou um perseverante aliado cuja proposta ecológica era uma ?loso?a de vida. “Durante muitos anos, meu pai dedicou-se (nos ?nais de semana, férias e em todos os momentos que não se encontrava trabalhando) à missão de recuperar esse espaço. Ele respirava natureza!” – a?rmou a empresária.
De 1996 a 2005, deu- se a fase do reflorestamento. Foi feita uma parceria com a ONG Mata Ciliar, que trouxe o conhecimento técnico, analisou as espécies nativas e auxiliou a criação de um Viveiro, que produziu e forneceu as mudas para o plantio, com exceção das primeiras 97 mil mudas, que foram adquiridas.
Fernanda relata que a idéia de construir um resort padrão cinco estrelas, que estivesse dentro de uma floresta e onde as pessoas pudessem conviver com elementos da natureza e valorizar sua preservação foi mantida durante as etapas da construção do hotel, que privilegiou materiais também de áreas de manejo, como madeiras certificadas. “Na movimentação das terras na área onde foi levantado o complexo hoteleiro, as poucas árvores que já existiam foram transplantadas e até as grandes pedras encontradas foram recolocadas após a construção” – revelou ela. A definição dos espaços internos e da decoração contemplou a milenar técnica chinesa do Feng Chuí, que harmoniza os ambientes, com cantos arredondados para o fluxo de energia vital, lago interno, utilização de fibras naturais na decoração, acessórios e mobiliários. Foram criados os recantos do Ar, da Terra, do Fogo e da Água, onde são realizadas vivências com esses elementos.
A programação para os hóspedes inclui a educação ambiental nas trilhas, cachoeira e demais ambientes naturais. As crianças possuem um espaço denominado Fazendinha, onde podem conhecer e praticar atividades na horta orgânica, que abastece os restaurantes do hotel, alimentar as aves, participar de pesca ecológica, andar a cavalo, sempre com a proposta de integração e respeito à natureza. Até mesmo a sala de ginástica está instalada em ambiente natural, num quiosque na entrada das trilhas ecológicas.
Mas a sustentabilidade envolve questões sociais, que também estão inseridas no contexto desse empreendimento. O hotel está instalado em área rural e além do desenvolvimento inerente que ocorre na região, como melhorias de infra-estrutura e geração de empregos diretos e indiretos, Fernanda explicou que o hotel mantém um projeto social há dez anos, voltado às crianças do entorno, de 5 a 15 anos, oferecendo gratuitamente em horário contrário à escola, atividades educacionais, esportivas e culturais com base na filosofia dos Valores Humanos. Paralelamente à construção do hotel, foi erguido o Núcleo de Educação em Valores Humanos, onde são realizadas essas ações sociais. Conforme Fernanda, esse projeto mudou muita coisa, sobretudo na conscientização e comportamento da comunidade. “As crianças aprendem, mudam sua postura e influenciam a família. Temos muitas histórias que aferem esses resultados. No começo, em 1999, as crianças relatavam que tinham o hábito de atirar pedras nos animais que cruzavam o caminho. Dois anos depois, eles chegaram ao Núcleo trazendo uma pequena ave que encontraram com a pata quebrada, para que o veterinário pudesse ajudar. É um exemplo pequeno, mas que mostra uma profunda mudança no procedimento de vida” – exemplificou.
Nesse espaço também são realizados atendimentos de saúde (fitoterapia e acupuntura), palestras educativas e cursos profissionalizantes para adolescentes e adultos da comunidade, formando profissionais tanto para o próprio empreendimento hoteleiro como para o mercado em geral.