POR – ELENI LOPES DIRETORA DE REDAÇÃO DE NEO MONDO
Projeto Pecuária Verde combina pecuária moderna e proteção de áreas da Floresta Amazônica.
Paragominas é um dos principais polos da pecuária na Amazônia. Situado no nordeste do Pará, o município tem fazendas e rebanhos imensos e, durante muito tempo, esteve entre os campeões do desmatamento no Brasil. Nos anos 60 e 70, a região atraiu pecuaristas e madeireiros em busca de terra barata e crédito público. Desta forma, muitas fazendas desmataram de maneira descontrolada. Em 2008, esse avanço desequilibrado foi barrado na força: Paragominas entrou para a lista dos municípios que mais destroem a Floresta Amazônica, a chamada lista negra do desmatamento do Ministério do Meio Ambiente. A fiscalização apertou, serrarias foram fechadas e fazendas de gado multadas. Para sair da crise, os criadores assinaram um pacto com o Ministério Público para reduzir derrubadas e fazer o cadastramento ambiental das propriedades. Com apoio da Prefeitura e entidades não governamentais, as medidas foram adotadas e, em 2010, Paragominas foi o primeiro município a ser retirado da lista negra do desmatamento. O desafio então era encontrar uma nova maneira para a atividade agropecuária na região. Foi neste contexto que nasceu em 2011, o projeto Pecuária Verde, iniciativa do Sindicato de Produtores Rurais de Paragominas, que três anos depois se transformou em modelo para a pecuária na Amazônia. Com patrocínio do Fundo Vale e da Dow AgroSciences, conta com o apoio técnico de organizações não governamentais, Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e da The Nature Conservancy (TNC), além da consultoria de pesquisadores da Esalq/USP e da Unesp. O projeto visa o desenvolvimento de práticas mais sustentáveis na pecuária bovina, baseado em soluções tecnológicas e no fortalecimento da agropecuária para aumento da eficiência produtiva. A ideia é aumentar a capacidade do setor para atender tanto as exigências do mercado quanto a maximização dos benefícios sociais, ambientais e econômicos da atividade.
TRIPÉ SUSTENTÁVEL
O conceito de pecuária verde está baseado em três ações estratégicas coordenadas por pesquisadores que são referência nas suas áreas específicas de estudo:
• Adequação ambiental das propriedades rurais Averbação das áreas de Reserva Legal, Área de Preservação Permanente (APP), bem como a regularização dos passivos ambientais (déficits de Reserva Legal e recuperação de APPs degradadas).
• Manejo de pastagem Modelo de manejo e melhoria da produtividade de pastagens desenvolvido sob a liderança do consultor Moacyr Corsi, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
• Bem-estar animal e da propriedade Liderado pelo consultor Matheus Paranhos, professor do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, da UNESP/Jaboticabal.
As seis propriedades selecionadas para participar do projeto Pecuária Verde foram aquelas que apresentaram melhores notas e maiores avanços na adoção de boas práticas agrícolas, além de critérios técnicos e acadêmicos que permitissem ao modelo ser testado adequadamente. Outro critério essencial para a escolha das propriedades foi a não existência de passivos sociais ou trabalhistas. O uso de ferramentas para o desenvolvimento de um modelo de pecuária menos extensiva e mais eficiente que considere a mitigação dos seus impactos através da adequação ambiental ajuda a liberar áreas para outras atividades e, principalmente, evita a expansão extensiva baseada no desmatamento ou na conversão de áreas de floresta nativa. Além da disseminação de práticas sustentáveis de criação bovina, a capacitação dos empregados e a disciplina no trabalho foram importantes para o aumento dos índices de produtividade e lucratividade e da redução dos custos das fazendas. Em três anos, a produção aumentou de sete para 36 arrobas. Outro fator importante foi a adequação ambiental e produtiva por meio da recuperação das áreas de reserva legal, onde jatobás, ipês, cedro e andiroba foram plantados com cacau e cupuaçu em sistema agroflorestal.
Três anos depois, o projeto Pecuária Verde comprovou sua eficácia e aplicabilidade. O desafio, agora, é divulgar esse modelo para outras fazendas e regiões da Amazônia.