POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Celebrado em 11 de setembro, o Dia do Cerrado relembra a importância de conservação do bioma que abriga uma das maiores biodiversidades brasileiras.
O cerrado, segunda maior formação vegetal brasileira, estende-se por uma área de aproximadamente 2 milhões de km², abrangendo 12 estados brasileiros: Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Pará e Rondônia, além do Distrito Federal e de aparecer em manchas em Roraima e no Amapá.
O bioma detém um terço da biodiversidade brasileira, 5% da fauna e flora mundiais (estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam na região) e é o nascedouro das águas que formam as bacias hidrográficas Amazônica, do Rio São Francisco e do Paraná/Paraguai. Além disso, sob o solo de vários estados do Cerrado, está o Aquífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo.
O clima é típico das regiões tropicais, com duas estações climáticas bem definidas: uma seca, entre abril e setembro, outra chuvosa, entre outubro e março. O solo, característico de savanas tropicais, é deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, fazendo assim com que sua paisagem abrigue plantas com aparência seca, pequenas árvores de troncos retorcidos e curvados, além de folhas grossas e esparsas em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturando-se, às vezes, com campos limpos ou matas de árvores de porte médio, chamadas de Cerradões.
O Cerrado une-se com a Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal, por isso compartilha animais e plantas com estas regiões. E também abriga exemplares únicos da biodiversidade, também conhecidos como espécies endêmicas.
Cerrado Florestal
Apesar de ainda pouco conhecida, a flora do cerrado é uma das mais ricas do mundo. Estima-se que existam 11 mil espécies de plantas, sendo 3.000 delas do estrato arbóreo-arbustivo e 7.000 do herbáceo-subarbustivo. Em termos de riqueza de espécies, este bioma é superado apenas pela flora da floresta Amazônica e da Mata Atlântica. Entre as plantas, destacam-se as famílias das Leguminosas (Mimosaceae, Fabaceae e Caesalpiniaceae), das Gramíneas (Poaceae) e das Compostas (Asteraceae). Uma das características do bioma é a heterogeneidade de sua distribuição, havendo espécies endêmicas em cada região do Cerrado.
Cerrado Animal
Seguindo a linha de sua vegetação, a fauna do bioma é pouco conhecida. Mesmo assim, apresenta números impressionantes. Existem cerca de 161 espécies de mamíferos, 837 espécies de aves (40º lugar em diversidade no mundo), 150 espécies de anfíbios (80 lugar em diversidade no mundo), 120 espécies de répteis, no mínimo, além de uma grande concentração de invertebrados, na qual predomina o grupo dos insetos. Entre os vertebrados, o destaque fica para os animais de maior porte, como a jibóia, a cascavel, várias espécies de jararaca, o lagarto teiú, a ema, a seriema, o urubu-comum, o urubu-caçador, o urubu-rei, as araras, os tucanos, os papagaios, os gaviões, o tatu-peba, o tatu-galinha, o tatu-canastra, o tatu-de-rabo-mole, o tamanduá-bandeira, o tamanduá-mirim, o veado campeiro, o cateto, a anta, o cachorro-do-mato, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, a jaritataca, o gato mourisco, a onça-parda e a onça-pintada.
Cerrado, berço das águas (por WWF Brasil)
O Cerrado é um complexo de formações vegetais, que inclui campos naturais, savanas, veredas e florestas com a presença de rios, córregos e cachoeiras. Devido a sua geografia de planaltos na porção central no Brasil, o bioma é uma das mais importantes fontes de água para o país. Não é à toa que o Cerrado é conhecido como o berço das águas do Brasil.
As águas que nascem neste bioma alimentam seis das oito grandes bacias hidrográficas brasileiras: Amazônica, do Araguaia/Tocantins, do Atlântico Norte/Nordeste, do São Francisco, do Atlântico Leste e do Paraná/Paraguai, incluindo as águas que escoam para o Pantanal. Na bacia do São Francisco, por exemplo, o Cerrado contribui com quase 90% da água para rio. Da região também depende a recarga de três grandes aquíferos: Bambuí, Urucuia e Guarani.
Quando se desmata o Cerrado compromete-se os recursos hídricos, que são fonte de água para 25 milhões de pessoas que vivem no bioma. Além de impactar, pelo menos em parte, a vida de nove em cada dez brasileiros que consomem eletricidade produzida com águas do Cerrado. Toda decisão sobre o uso da terra é uma decisão sobre o uso da água.
Cerrado social
O aparecimento de pessoas na região data de pelo menos 12 mil anos. Grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais começaram a povoação no bioma. No entanto, o aumento no número de habitantes foi lento. Há cerca de 40 anos esse panorama mudou. Um grande número de pessoas começou a migrar para a região por causa das novas políticas econômicas instaladas nas décadas de 60 e 70. Atualmente, vivem no bioma cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros, principalmente por causa do desenvolvimento desigual, segundo análises realizadas pelo Laboratório de Processamento de Imagens da Universidade Federal de Goiás. Apesar dos dados negativos em relação ao desemprego, à falta de habitação e à poluição, algumas das áreas onde a agricultura comercial conseguiu se desenvolver mais intensamente apresentaram avanços significativos em termos de desenvolvimento humano, com diminuição dos índices de pobreza e aumentos importantes do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Por outro lado, algumas áreas de ocupação mais recente mostram uma tendência ao acentuamento na concentração de renda na mão de poucos.
Cerrado econômico
Na economia, o destaque fica para a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começa a se expandir, principalmente, a partir de 1960. Naquela época, o Cerrado sofreu uma forte expansão da fronteira agropecuária, estimulada por políticas de crédito nacionais e internacionais voltada para exploração de grãos e de carnes. Em 1970, novas políticas de desenvolvimento, o surgimento de novas tecnologias e investimentos em infraestrutura ajudaram na geração de uma nova dinâmica econômica, que resultou na abertura e ocupação de grandes áreas de Cerrado através da expansão da agricultura comercial. Ainda por causa das novas tecnologias, as produções de grãos começaram a aumentar. Um exemplo é a soja. A região Centro-Oeste aumentou em quase 900% sua produção, chegando, hoje, a produzir 50% da soja de todo o Brasil e 13% da soja de todo o planeta. Outros exemplos no Cerrado são: o milho (20% da produção nacional), o arroz (15% da produção nacional) e o feijão (11% da produção nacional). Na pecuária, o Centro-Oeste detém mais de um terço de todo rebanho bovino nacional e cerca de 20% dos suínos.
Por outro lado, a expansão da fronteira agropecuária e a evolução tecnológica de agricultura no Cerrado fizeram com que a absorção de mão de obra ficasse cada vez menor. Em 1985, por exemplo, as áreas da agricultura mais evoluídas tecnologicamente geravam praticamente quatro vezes menos emprego que as áreas ainda não incorporadas à economia de mercado. Sem atividades no campo, a população começou a migrar para as cidades, que também não conseguiram receber e empregar todo o contingente de migrantes. Hoje, as áreas de agricultura comercial consolidada no Cerrado ainda são aquelas onde há menor disponibilidade de empregos por área utilizada.
Problemas biológicos
A vasta riqueza biológica que o Cerrado possui acaba trazendo problemas para o ecossistema. Inclusive, é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu alteração com a ocupação humana. A caça e o comércio ilegal de animais é um deles, o que acaba fazendo com que grande parte dos animais esteja ameaçada de extinção. Outro problema é a atividade garimpeira na região que acaba contaminando os rios com mercúrio e contribui para seu assoreamento, além de favorecer o desgaste dos solos, que também sofre com outro problema: a erosão. O manejo pouco cuidadoso do mesmo tem ocasionado perdas expressivas desse precioso recurso natural. Segundo estimativas do WWF, para cada quilo de grãos produzido no Cerrado, perdem-se de 6 a 10 quilos de solo por erosão. O meio aquático também é afetado pela agricultura. Há um grande consumo de água para irrigação, o que, na maioria das vezes, acaba gerando um desperdício excessivo desse bem. O resultado disso é o número crescente de conflitos pela água entre agricultores, e entre uso agrícola e uso urbano da água em muitos estados.
Desmatamento e degradação
O Cerrado, assim como todos os biomas brasileiros, sofre com a destruição de sua paisagem. Avaliações recentes apontaram uma perda entre 38,8% (segundo dados da Embrapa Cerrado) e 57% (segundo dados Conservação Nacional) na cobertura vegetal nativa da região. A diferença nos dados apresentados está diretamente ligada à grande dificuldade de se mapear os diferentes ecossistemas do bioma, principalmente na diferenciação de pastagens naturais e pastagens plantadas. Outro dado, também da Conservação Internacional, apontou que a taxa de desmatamento no bioma, até o ano de 2004, era de 2,6 hectares por minuto, ou seja, 111 mil hectares por mês. Parte da razão dessa destruição está ligada ao efeito do desenvolvimento das agriculturas em larga escala.
A abertura de estradas também resultou no desmatamento de boa parte do bioma. Uma contradição disso tudo é que, mesmo com esses números alarmantes, o Cerrado é um dos biomas mais desamparados e esquecidos em termos de proteções legais. Até 2003, menos de 2% de sua área encontrava-se protegida em unidades de conservação de uso sustentável. Além disso, o Cerrado não é considerado Patrimônio Nacional na Constituição Federal, diferentemente da Amazônia, da Mata Atlântica, da Zona Costeira e do Pantanal.
Curiosidades
A ocupação do Cerrado iniciou-se no século XVIII com a mineração, que se desenvolveu num rápido ciclo de exploração intensiva. O Cerrado é uma região com algumas peculiaridades: conta apenas com duas estações climáticas bem marcadas (seca e chuvosa) e tem uma rica biodiversidade associada a uma aparência árida, decorrente dos solos pobres e ácidos. Somando-se as áreas da Espanha, França, Alemanha, Itália e Inglaterra, chegamos ao espaço ocupado pelo Cerrado.
As árvores do Cerrado são responsáveis por cerca de 80% do carvão vegetal consumido no Brasil. O Cerrado possui um grau de endemismo (exclusividade) altíssimo e é uma das regiões de maior diversidade do planeta, mesmo sendo um bioma pouco conhecido e estudado. Das 837 espécies de aves registradas no Cerrado, 759 se reproduzem na região e o restante são aves migratórias.
O Cerrado é uma das regiões do Brasil com o maior número de insetos. Apenas na área do Distrito Federal, há 90 espécies de cupins, 1.000 espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas. O Cerrado abriga as nascentes de importantes bacias hidrográficas da América do Sul: Platina, Amazônica e São Francisco, sendo assim considerado o “berço das águas”.
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Artigo de Michael Becker – Um futuro para o Cerrado