POR – BURSON-MARSTELLER
O primeiro dia do Sustainable Brands São Paulo 2017 encerrou com uma plenária com a participação de grandes nomes do movimento de construção do pensamento corporativo sustentável.
Alvaro Almeida, curador do evento, explicou que o evento veio para São Paulo para expandir essa comunidade e ampliar o público. “Precisamos construir um entendimento comum sobre o futuro que queremos construir. É uma jornada marcada por interação e diálogo”.
O aquecimento global foi discutido por Richard van der Laken, do What Design Can Do, pontuando que apesar de ser um problema mundial, se manifesta de formas específicas localmente e que precisamos nos unir para ajudar a combater as mudanças climáticas.
Márcio Mendes, da Abraps, chamou atenção para a Agenda 2030 da ONU .“Já estamos atrasados para alcançar as metas estipuladas. Precisamos nos unir para conseguirmos construir um mundo muito melhor, com mais desenvolvimento sustentável”.
Com destaque para a diversidade de pessoas reunidas no Sustainable Brands São Paulo 2017, Chris Coulter, da GlobeScan apresentou o convidado próximo convidado. “O mix de pessoas no evento é incrível. Grandes empresas, grandes startups. É um dos melhores lugares para se estar.
Enrique Tamés, da Faculdade de Ciências Humanas e Educação da TecMonterrey se apresentou em seguida e afirmou que vivemos num mundo fascinante, com uma conectividade que nunca aconteceram antes. “Podemos falar com qualquer pessoa por meio de uma tela, entrar no carro de um desconhecido, dormir na cama de alguém que nunca vou ver. Nada disso existia há 20 anos”.
Já Chris Miller, da Ben & Jerry’s, foi enfático: “incomodar alguns consumidores é ótimo para os negócios, porque ao mesmo tempo isso aumenta o engajamento de outra parcela de consumidores. Por muito tempo, a instituição mais poderosa era a igreja. Depois, eram os governos. Hoje, são as corporações”.
Para finalizar a noite, Geoff Kendall, da Future Fit, e Chris Davis, da The Body Shop levaram o público à reflexão sobre questões cruciais no ativismo corporativo: “nos últimos 50 anos o mundo mudou dramaticamente. Como podemos fazer diferença nos próximos 40 anos? Como trabalhar, de verdade, em favor da sustentabilidade? A resposta: parar de pensar só nos resultados ano a ano, parar de apenas se comparar com a concorrência direta, parar de se ocupar de metas de curto prazo e… pensar no break-even em termos sociais e ambientais”.
Veja a plenária do dia 18 de setembro na íntegra em https://www.facebook.com/SustainableBrandsSP/videos/1660237783996794/.
Arena Good Business Impact – oferecida por CIVI-CO
Alexandre Borges, CEO da Mãe Terra, explicou a estratégia de negócios da empresa: “a questão de crescer com integridade passa pela discussão entre curto prazo e longo prazo. No curto prazo, a pressão por custos é enorme. Na Mãe Terra, há alguns anos, decidimos fazer os cookies integrais e também orgânicos. Isso teve um custo, mas a longo prazo esse alinhamento com os valores também se paga economicamente”.
Borges enfatizou ainda que é um privilégio fazer a transformação dentro do sistema e não numa praia ou numa montanha. É possível buscar um caminho que garanta o lucro (porque é preciso pagar bem os funcionários e ter bons serviços, boas entregas e bons produtos para se manter no mercado), mas sem abrir mão dos seus valores.
“Até há pouco tempo, as pessoas não tinham a sustentabilidade como um valor na hora da compra. Elas compravam o orgânico porque faz bem para elas e para o planeta. Hoje estamos mudando o conceito do que é ser bacana (menos produtos, mais experiências), estamos trocando o ‘ecochato’ pelo cool”, completou Borges.
Lígia Camargo, da área de sustentabilidade da Danone, falou sobre o modelo de negócios sustentáveis da companhia: “a Danone tem uma história sedimentada em defesa da sustentabilidade. Nos anos 1970, o presidente da empresa criou o chamado ‘projeto duplo’ (que contempla aspectos econômicos e sociais) e, até hoje, os bônus dos executivos são definidos em parte pelas metas financeiras e em parte por questões sociais. Nos anos 2000, a Danone passou a se definir como uma empresa de saúde e vendeu as divisões de cerveja, massa e molho de tomate, entre outras. Nada mais natural do que seguir para nos tornarmos uma empresa B”.
Recentemente, a empresa mudou sua missão para “levar a saúde para o maior número de pessoas” e, em 2015, lançou o “Manifesto Danone”, que estimula uma reaproximação com a nossa comida. “Para crescer com integridade, temos duas frente: internamente, políticas, liderança e operação alinhadas; e do lado externo, lidar com as pressões, tanto legais quanto dos consumidores”.
Arena Good Materials – oferecida pela MateriaLab
Carolina Piccini, da MateriaLab, abriu a discussão explicando o propósito da empresa: “a Arena Good Materials é uma pequena amostra do que fazemos em termos de pesquisa de materiais. Nós analisamos a cadeia por completo, desde a matéria prima até o processo, fabricação, manuseio e trajeto (carro, avião), além da utilização, descarte, possibilidade de prolongar a vida útil (como cuidar e manusear) e quais as possibilidades de voltar para o ciclo outra vez. Isso é o life cycle design, a economia circular, que sempre envolve parceiros: designers, universidades, professores.”
Daniela Ruano, Fashion Futures, explicou: “buscamos produtos e acessórios que nos façam repensar o vestir. Objetos que façam mais do que só nos cobrir, os chamados wearables. São coisas como coletes com lâmpadas de LED para auxiliar os ciclistas ou uma pulseira que mede os batimentos cardíacos e pode ajudar quem precisa em um momento de emergência”.
Já Roberta Sá Faustini, designer e arquiteta, disse que sua família a inspirou na criação de mobiliário sustentável “desenvolvi mobiliário infantil porque tenho filho pequeno e estou na onda de buscar soluções funcionais e sustentáveis. Um exemplo é uma mesa de aprendizagem que, na vertical, vira uma torre e é toda feita de materiais de resíduo ou reaproveitamento”.
“Há mais micro plásticos nos oceanos do que estrelas na galáxia, e 9 das 10 amostras de água da torneira em São Paulo deram positivo para plástico. Tudo isso mostra que o lixo, obviamente, é um erro de design”, afirmou Daniela Lerario, da Triciclos. “Estamos sufocados de materiais, sufocados de consumo. Todo ano, 8 milhões de toneladas de resíduos são jogadas ao mar. E o recente estudo sobre a presença de micro plásticos nas redes de abastecimento de água chamou a atenção para isso”, completou Daniela.
Thiago Pinto, da Eu Reciclo (plataforma digital de rastreamento de resíduos), chamou atenção para a disputa entre a lucratividade e a consciência social: “muitas empresas que usam PET vivem uma ‘disputa’ entre as áreas de marketing e a linha de produção. De um lado, o uso de garrafas coloridas tende a aumentar o consumo, mas de outro, esse plástico não tem apelo para os catadores e para a indústria de reciclagem. Ou seja, vende-se mais, mas a possibilidade de reaproveitar a reciclar diminui”.
Por fim, Felipe Protti, da Prototype, falou sobre a ação que desenvolveu na cidade de Osasco: “para ajudar uma comunidade de Osasco, que sofre com inundações e enchentes, criei uma mesa com isopor reciclado. A ideia era criar um mobiliário resistente à água. O protótipo funciona, mas há diversas dificuldades ao trabalhar com materiais e processos que são inéditos”.
Arena Good Drinking – oferecida pela Heineken
Beatriz Dias de Sá, da área de sustentabilidade da Heineken, falou sobre o compromisso social da empresa e seu comprometimento com o consumo responsável de bebidas alcoólicas: “não existe um paradoxo entre a empresa precisar vender mais e a decisão de batalhar pelo consumo responsável. Todos os dias eu recebo e-mails de funcionários da área comercial pedindo informações sobre consumo responsável e cada vez mais bares parceiros da Heineken querem fazer ações de consumo responsável”.
A empresa planeja ainda começar a atuar também aos revendedores, que não fazem parte da companhia. “Para nós, é muito claro que a defesa do consumo responsável pode afetar o desempenho da empresa, mas no fim das contas o impacto positivo para os negócios é muito claro e todos se convencem de que essa é a coisa a ser feita”, explica Beatriz.
Beatriz aponta que essa ainda não é a realidade do mercado brasileiro, mas que o futuro das cervejarias aponta para a necessidade de trabalhar junto com a concorrência no sentido de incentivar o consumo responsável, ação que a Heineken já promove no dia do consumo responsável (segunda sexta-feira de setembro).
Complementando, Nuberto Hopfgartner, cirurgião plástico e dono da cervejaria artesanal Doktor Bräu, afirmou que o discurso atual é cada vez mais homogêneo, no sentido de fazer com que as pessoas bebam menos e bebam cervejas melhores. Ele destacou ainda os benefícios do consumo responsável da cerveja: “além de aproveitar o sabor e o aroma da cerveja, você pode aproveitar os benefícios que ela pode trazer, já que muitos estudos comprovam que, em doses moderadas, ela pode reduzir os problemas cardíacos e vasculares e até melhorar os níveis do chamado colesterol bom. Por isso, sempre tome água junto com a cerveja, coma bem antes de começar a beber e evite os petiscos muito gordurosos, pois é essa combinação que vai dar a tão indesejada barriga de cerveja.”
E para encerrar o Sustainable Brands São Paulo 2017, Renata Simões, diretora do documentário Amanhã Chegou, que será lançado no fim do ano, abriu a plenária:
“O nome foi elaborado nesse processo. Havia sempre uma expectativa da hora em que fossemos perceber a necessidade de uma mudança. É um nome alarmista, mas a situação que estamos vivendo é alarmista”.
Renata explicou ainda que temos mania de apontar o dedo para quem está gastando, mas pensar em consumo é pensar no uso de recursos e em como a sociedade se organizou em torno disso. Segundo ela, o filme mostra um fio condutor que une todos – organizações, pessoas e governos – como responsáveis pelos impactos.
“A questão do consumo é uma reflexão global – uma realidade que todos nós vivemos. É um paradoxo da necessidade de um sistema de um crescimento infinito em um planeta com recursos finitos. A necessidade é repensar a produção e o social e proporcionar uma igualdade maior entre as pessoas. A necessidade é de agir de uma maneira efetiva e maior”.
Ela levou ainda a reflexão sobre o consumo consciente: “orgânico é caro, mas será que é caro considerando os gastos que você poupa em saúde? Este pensamento está em ebulição. O objetivo do filme é permitir que quem assiste tire as suas próprias conclusões. A grande resposta é: precisamos pensar sobre isso e, mais do que isso, precisamos agir. Em todas as instâncias, na Amazônia, ou em SP, a informação tem que vir contextualizada para passar a mensagem correta”.
Ricardo Cardim, do Floresta de Bolso, explicou seu objetivo de resgatar uma parte da biodiversidade dentro da cidade, uma vez que ainda se fala de meio ambiente de forma desconectada dos centros urbanos – fala-se de lixo, de reciclagem e nunca de vegetação em uma área com apenas 2,6m2 de área verde por habitante: “criamos uma técnica que permite plantar pequenos trechos de mata atlântica em harmonia com o ambiente urbano. Além de ter pouco verde, o verde que tem na cidade é estrangeiro”.
Segundo ele, 90% do verde das cidades vem de fora, apesar de o Brasil ser campeão em biodiversidade no mundo, com 49 mil espécies de plantas. “As pessoas não conhecem mais o que é nativo e não criam um vínculo com isso. Em florestas, chegamos a ter 20 árvores por metro quadrado. O que a lei determina é 3x2m – isso não é floresta”, explica.
A Floresta de Bolso gera competição e faz a vegetação crescer muito rápido. Com a crença de que luxo de verdade é experiência, traz frutas nativas e os bichos de centenas de espécies nativas, além de atrair polinizadores como abelhas de diferentes espécies e borboletas. “A ideia é também trazer as crianças, que hoje vivem imersas no mundo virtual, para o mundo natural. O meio ambiente está na moda e as pessoas se interessam por isso”.
O projeto faz também florestas voluntárias. Primeiro é realizada uma palestra explicando a função da biodiversidade e depois um mutirão para plantio das mudas nativas. A ação é realizada com trabalho voluntário, doações e sem apoio da iniciativa pública.
João Campos, CEO da Pepsico, falou sobre o processo de seleção de novos talentos da empresa, o “Seja Único”: “não estamos interessados no nome da faculdade que o candidato a estágio está cursando. Utilizamos um aplicativo para conhecermos sua habilidade de liderança, ideias e valores. Estamos interessados na iniciativa e na vontade de transformar. Queremos que essas pessoas sejam únicas”.
Para assistir a plenária na íntegra, incluindo os demais convidados, acesse https://facebook.com/SustainableBrandsSP/videos/1661178813902691/