POR – ONU BRASIL
Em relatório divulgado segunda-feira (9), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) aponta que, com o futuro aumento da população jovem, o setor agrícola precisa se modernizar para absorver excedentes de mão de obra. Documento desmistifica ideia de que o meio rural está fadado a concentrar os índices mais elevados de pobreza.
Todavia, para superar a miséria, as comunidades de agricultores familiares precisarão de mais investimentos e políticas inteligentes, capazes de evitar a migração das zonas rurais para as áreas urbanas. Em 2015, 3,1 bilhões de pessoas viviam no campo.
Segundo a FAO, de 2015 a 2030, o número de pessoas com idade entre os 15 e os 24 anos aumentará em 100 milhões, até chegar a 1,3 bilhão. Quase todo o crescimento demográfico para essa faixa etária ocorrerá na África Subsaariana, principalmente no campo.
Em países em desenvolvimento da região — e também na Ásia Meridional —, os setores industriais e de serviços não conseguirão incorporar a nova força de trabalho em seus quadros por conta da desaceleração econômica. Por ano, de 2010 a 2015, cerca de 1,1 milhão de jovens da porção subsaariana da África e 2,2 milhões de jovens do sul da Ásia entraram no mercado.
A agricultura, tal como é explorada atualmente, também não oferecerá perspectivas de emprego muito melhores. O cenário, de acordo com a agência da ONU, favorecerá a migração — e o ingresso de parcelas da população rural nos segmentos urbanos pobres.
Mas há esperança. A história recente mostra que o campo tem passado por transformações importantes, tornando-se um local de geração de renda onde a miséria não tem vez. Desde os anos 1900, lembra o relatório da FAO, 750 milhões de pessoas vivendo no meio rural alcançaram rendimentos acima da linha moderada de pobreza média — definida pelo valor de 3,10 dólares por indivíduo diariamente.
Para manter e ampliar avanços, o levantamento recomenda a criação de sistemas alimentares eficazes, que conectem a demanda crescente dos centros urbanos à oferta da agricultura familiar. A pesquisa calcula que, de 2010 a 2030, o valor dos mercados de alimentos da África Subsaariana urbana aumentará quatro vezes — passando de 313 bilhões para 1 trilhão de dólares.
Nas porções sul e leste do continente africano, a parcela dos consumidores urbanos no mercado de alimentos já equivale a 52% do total da demanda. Até 2040, o índice deverá subir para 67%. A conjuntura, segundo a FAO, oferece oportunidades para que o campo se torne um polo de crescimento econômico, impulsionado pela produção de comida. Em média, o consumo urbano no mundo já abocanha 70% dos alimentos, mesmo em países com populações rurais consideráveis.
Para a FAO, melhorias na agricultura não serão uma panaceia, mas gerarão empregos necessários e contribuirão para que a migração seja uma alternativa e não uma necessidade.
Cidades pequenas, grandes lucros
O relatório O Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo indica ser necessário um aproveitamento mais diversificado da demanda urbana por alimentos. A publicação aponta que, além de diversificar os sistemas alimentares, países devem estimular novas atividades econômicas associadas à produção de comida — como refinamento, empacotamento, transporte e armazenamento, vendas e fornecimento de insumos.
A FAO alerta que medidas para garantir a participação da agricultura familiar no mercado devem ser consolidadas em políticas públicas. O objetivo dessas estratégias é evitar que o mercado seja dominado por grandes produtores.
A agência da ONU também recomenda que países construam a infraestrutura necessária para conectar os meios rural e urbano. Segundo o organismo internacional, em muitos países em desenvolvimento, a falta de estradas nas áreas agrícolas, de redes elétricas e instalações para armazenamento, bem como de sistemas de transporte refrigerados é um gargalo para agricultores que buscam vender produtos frescos.
Outra orientação da FAO é a inclusão de centros urbanos menores no planejamento dos sistemas alimentares. O relatório assinala que essas regiões têm demandas subaproveitadas, mas que representam 60% do consumo urbano de alimentos.
Nos países em desenvolvimento, a maioria das zonas urbanas é relativamente pequena — cerca de metade da população vivendo em cidades (1,45 bilhão de pessoas) mora em cidades de 500 mil habitantes ou menos. Quase metade da população mundial vive ou nesses centros urbanos menores, ou em zonas rurais.
“Muito frequentemente ignoradas por decisores e gestores políticos, as redes territoriais de pequenas cidades são pontos de referência importante para os povos rurais — são os lugares onde eles compram suas sementes, para onde mandam seus filhos estudar e onde têm acesso ao cuidado médico e outros serviços”, afirmou o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, durante o lançamento do relatório.
O dirigente acrescentou que é urgente o reconhecimento do papel catalítico dessas cidades menores, pois elas oferecem mais oportunidades para agricultores familiares venderem sua produção e se beneficiarem do crescimento econômico.