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Canola serve de alimento no inverno – Foto: Nilton Busato
A parceria entre apicultores e produtores de canola pode resultar em lucros no Rio Grande do Sul. Estratégias de manejo na lavoura também ajudam na preservação de espécies de abelhas nativas.
No Rio Grande do Sul, a parceria entre apicultores e agricultores está aumentando a presença das abelhas nas lavouras de canola, apresentando bons resultados tanto na produção de grãos quanto na produção de mel. As colmeias são colocadas próximas às lavouras de canola, durante a floração da cultura, e retiradas ao final do inverno, quando as caixas são deslocadas para novas floradas em cultivos de eucaliptos ou frutíferas. Para os produtores de canola, o aumento de polinizadores na lavoura resulta em melhor rendimento de grãos, e para os apicultores, a maior disponibilidade de recursos para as colmeias, em período de escassez de flores, garante o fortalecimento das colônias para melhor aproveitamento na primavera, potencializando a produção de mel.
Segundo o pesquisador Marsaro Júnior, nas regiões frias do País, existem poucas fontes de recursos florais na natureza para as abelhas durante o inverno e a canola garante uma boa florada para a manutenção e o fortalecimento das colônias. “O polén produzido pela canola é um alimento muito atrativo para as abelhas, mas a diversidade da paisagem no entorno garante que os polinizadores continuem no local até a nova florada da canola”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo Alberto Luiz Marsaro Júnior.
Para o apicultor Adi José Pozzatto, de Santiado, RS, a parceria com o produtor de canola permite a criação de abelhas numa época crítica para o apicultor: “Você cria as abelhas numa época muito importante, já que a canola oferece alimento sempre antes que as outras flores, fortalecendo os enxames para as floradas que começam em setembro”, avalia Pozzatto, destacando, ainda, que “a canola vai produzir mais mel do que o alimento artificial, gerando renda numa época de entressafra”.
Na canola, pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) constataram que a visitação das abelhas na lavoura aumentou a produção de grãos entre 17 e 30%. Além do rendimento de grãos, a presença das abelhas também aumentou o número de síliquas e o peso dos grãos de canola.
Preservação dos polinizadores
Em 2016, um experimento realizado pela Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, registrou 1065 abelhas em 125 metros quadrados de canola em floração, no período de seis horas de coleta distribuídos em três dias consecutivos. Além da espécie exótica, Apis melífera (conhecida como abelha africana), foram identificadas outras 26 espécies de abelhas nativas. “As abelhas nativas foram as mais abundantes na canola, fato que evidencia a necessidade de preservação de áreas de ocorrência naturais adjacentes às lavouras de canola, a fim de promover o serviço de polinização na cultura alvo”, explica o pesquisador Alberto Marsaro Júnior.
O esforço para assegurar a presença das abelhas a serviço da agricultura é um problema que pesquisadores dos Estados Unidos e Europa conhecem bem, enquanto tentar evitar a morte das colônias no chamado DCC – Desordem do Colapso das Colônias. As mortes são causadas por parasitas, uso indiscriminado de agrotóxicos e mudanças no habitat natural. Segundo os pesquisadores, grandes doses de inseticidas podem causar a morte imediata das abelhas e, em pequenas doses, as abelhas perdem o senso de localização e não conseguem mais voltar para a colmeia, que aos poucos se extingue.
De acordo com a Embrapa, embora o uso de agrotóxicos geralmente seja menor no cultivo de canola em comparação com outras culturas de grãos, a sanidade das colmeias depende do uso racional e seletivo de agroquímicos. “As abelhas são extremamente sensíveis a produtos como inseticidas, fungicidas e herbicidas, que podem causar alterações no comportamento desses polinizadores e até levar à morte dos enxames”, alerta o pesquisador Marsaro Júnior.
De modo geral, recomenda-se não aplicar defensivos agrícolas durante o florescimento da canola, mas caso seja necessário, deve-se priorizar o uso de defensivos seletivos, ou seja, produtos que são eficientes no controle de pragas ou doenças, mas que apresentam baixa toxicidade para os insetos polinizadores. Além disso, para reduzir os riscos para as abelhas, deve-se evitar aplicar os defensivos nas horas mais quentes do dia (período de maior atividade das abelhas), priorizando-se as aplicações durante a noite, adiantado período do entardecer ou início do amanhecer, preferencialmente utilizando-se produtos de rápida degradação.
Saiba mais no vídeo “Insetos polizadores na canola”.