POR – *Manoel Moacir Costa Macêdo e Márcio Rogers Melo de Almeida / NEO MONDO
Imagens por satélites comprovam que a área ocupada com agricultura abrange 7,8% do território nacional, totalizando 65,9 milhões de hectares.
Essa foi a grande novidade que surgiu com os dados apresentados recentemente, a partir de um estudo de grande envergadura coordenado pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa Gestão Territorial, uma das Unidades Descentralizadas de Pesquisa da Embrapa.
Dos 850 milhões de hectares do território brasileiro, 11% são de áreas de vegetação nativa em propriedades rurais, como as de reserva legal (RL) e de proteção permanente (APPs); 17% são de vegetação nativa em unidades de conservação; 13% são de vegetação nativa em terras indígenas e 20% de vegetação nativa em terras devolutas, relevos e águas interiores. Totalizando 61% de vegetação nativa preservada em todo o território brasileiro. Esse estudo foi apresentado em fóruns mundiais com forte responsabilidade ambiental. Coincidentemente, e a contrariar as desconfianças nacionais em relação aos dados apresentados pela Embrapa, uma típica “síndrome de vira-lata” que nos acomete com certa frequência, o relatório publicado pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA) confirma os resultados do grupo de trabalho da Embrapa. As informações levantadas posicionam o Brasil em outro patamar de responsabilidade ambiental, sobretudo quando comparamos com outros países. Na União Europeia o uso da área agrícola ocupada nos países membros está entre 45% e 65% do total dos seus territórios; na China, 17,7%; na Índia, 60,5%; e nos Estados Unidos, 18,3%.
Isso constitui um panorama completamente diferente em relação ao que habituamos a escutar. O Brasil deve olhar os seus parceiros com altivez quando acusado de irresponsabilidade ambiental. É certo que não devemos fechar os olhos sobre a pressão contínua para o uso de biomas e ecossistemas que devem ser preservados. Os recordes de produtividade em grãos numa safra de aproximadamente 230 milhões de toneladas promoveu o Brasil a liderança mundial na produção e exportação de alimentos, destacando-se como celeiro mundial; uma demonstração de que a modernização da agricultura nacional baseada em ciência é motivo de orgulho para os brasileiros, suporte para a manutenção de programas sociais relevantes e moeda de troca nas complexas relações diplomáticas na arena global.
A temática ambiental ganhou fôlego a partir do século XX com as revoluções tecnológicas que aceleraram as mudanças nas formas de produção, valores, códigos e interações sociais. No bojo dessas profundas modificações, a preocupação com o impacto da ação humana ao meio ambiente ganhou relevância central. A capacidade humana de desequilibrar ecossistemas modifica a velocidade natural de adaptação dos organismos vivos às transformações geradas nos seus habitats, isso causa impactos irreversíveis e destrutivos à natureza. Quiçá uma referência histórica da supremacia do Homo sapiens. Um marco dessa transição a nível mundial foi a “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano” realizada em Estocolmo, em 1972, que produziu o que podemos chamar de “Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente”.
Com a globalização da temática ambiental, rapidamente se espalharam pelo mundo fóruns com a missão de refletir, planejar e materializar ações de proteção ao meio ambiente. Com o passar dos anos, essas reflexões ultrapassaram o ambiente exclusivo dos ambientalistas para a agenda principal dos encontros de líderes mundiais. No Brasil, essa relevância está simbolizada na Carta Magna de 1988 que traz no seu Capítulo VI – Do Meio Ambiente, artigo 225 a afirmação: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Uma conquista que nos colocou no contexto das nações civilizadas na problemática ambiental.
Em relação à produção de alimentos, uso e ocupação do solo, e sua associação com a temática ambiental, discussões calorosas têm sido levadas a cabo aqui e alhures. As ideias se centralizam na oposição entre os cuidados com o meio ambiente e o modus operandi dos sistemas de produção da chamada moderna agricultura. Criou-se no imaginário social um estigma associado ao termo agronegócio. Esse setor seria sinônimo de atraso ambiental e social, devastador da flora e da fauna, numa perspectiva predatória e irresponsável. A carência de estatísticas e números agregados que mostrassem acuradamente à realidade, ajudou a consolidar essa imagem. Esse rótulo tem a capacidade de encobertar avanços científicos e inovações que poupam terra, diminuem o sofrimento da mão-de-obra, preservam o meio ambiente e estão a serviço da vida e da produção de alimentos. Uma missão para a paz. Para tanto, não acolhemos os mecanismos que agridem os elementares princípios da civilização, a exemplo do trabalho escravo e da contaminação ambiental irresponsável.
*Manoel Moacir Costa Macêdo e Márcio Rogers Melo de Almeida.
Chefe-geral e analista da Embrapa Tabuleiros Costeiros, respectivamente – Foto Saulo Coelho