Há cerca de dois anos meu irmão e minha cunhada ganharam seis gansos abençoados do convento das Carmelitas em Jundiaí (SP). Logo ganharam um destino que parecia, anos nossos olhos e das freiras, paradisíaco: o açude da fazenda, no sul de Minas, onde viveriam livres, com espaço, recebendo milho e ainda comendo frutinhas, como jabuticabas e acerolas.
Porém, a natureza tem suas regras e caprichos, e nem a benção das freiras livrou cinco das seis aves da morte misteriosa. Inicialmente as fêmeas, vulneráveis por estarem chocando os ovos, depois dois dos machos simplesmente desapareceram sem deixar vestígios, certamente comidos por algum animal silvestre faminto.
O pobre ganso sobrevivente, ciente do perigo, nos segue aflito, como a pedir socorro. Acaba de ganhar dois companheiros – um marreco e uma pata – comprados por um amigo ao vê-los trancados em uma gaiola em uma loja. Nadam felizes, desfrutando da recente liberdade, e despreocupados. Nada melhor do que a liberdade, não?
Em uma tentativa de protegê-los, estamos providenciando uma espécie de “galinheiro”, onde eles se abrigariam à noite.
Fiquei muito triste com a situação das aves, mas me conforta imaginar que devem ter alimentado alguma família faminta de uma espécie silvestre (uma jaguatirica ou cachorro do mato, talvez?). Afinal, seriam esses predadores piores do que os políticos corruptos que nos escandalizam com seus golpes, os funcionários que desviam remédios de postos de saúde ou que atendem mal a população carente, os assassinos ao volante nas nossas estradas e cidades? Duvido muito.
De estimação e guarda
Os gansos são aves famosas por proteger a propriedade contra invasores. Apenas os nossos pobres amigos não conseguiram se proteger. Mas sempre deram sinal na chegada de alguém de fora.
Em função de sua valentia e braveza, já tem gente que os emprega como substitutos dos cães de guarda.
Mas, embora bravos, podem se tornar bons animais de estimação. Como um cão de guarda. Em meados deste mês de outubro, vejo a triste notícia do atropelamento do ganso Vem-Vem, que, há oito anos em uma casa em uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul, acostumava acompanhar o dono por onde ele andava. Em uma dessas voltas, foi atropelado e não resistiu e agora o seu dono diz que pretende adotar seus filhotes.
Cristina Rappa é jornalista, profissional de Comunicação Corporativa e, de uns tempos para cá, tem se dedicado a escrever livros infantojuvenis e crônicas sobre animais e outros seres vivos.