POR – RAMILLA RODRIGUES / NEO MONDO
Período de seca é época ideal para escutar a sinfonia de melodias das inúmeras aves na unidade conservação
Entrar em uma das oito trilhas do Parque Nacional da Amazônia é ouvir uma sinfonia de melodias orgânicas como guinchos e assobios. Um olhar mais atento nota coloridos pássaros cortando o céu azul, seja em duplas ou bandos, ou ainda nas copas das árvores das florestas amazônicas onde as aves repousam em seus ninhos.
É durante a época da seca na Região Norte, que vai de julho a novembro, que os observadores de aves se multiplicam nas adjacências do Parque Nacional da Amazônia. Isso ocorre porque, sem as chuvas, os pássaros aproveitam mais tempo fora de suas tocas e abrigos.
A observação de aves é uma atividade muito relevante para o turismo do município de Itaituba, no Pará. “Trabalho com três a quatro grupos diferentes pela Amazônia, no momento não tenho disponibilidade para guiar mais, porém em breve considero aumentar esse número”, diz o ornitólogo e guia de observação de pássaros, Pablo Cerqueira, que está neste ramo há nove anos.
De acordo com Cerqueira, há dois grandes tipos de observadores de pássaros. Os visitantes estrangeiros, pretendem, em geral, a observação de pássaros para completar a life list (uma lista ou guia onde se anotam as principais características das aves que se observa). “Como eles não pretendem fotografar, os grupos podem ser maiores, com 10 ou 11 pessoas”, afirma Cerqueira. Já os turistas brasileiros geralmente possuem o objetivo de fotografar os animais. Assim, os grupos são menores, pois é necessário silêncio para clicar os pássaros. Em média, eles ficam de 5 a 7 dias nas trilhas para flagrar as aves.
Os turistas podem encontrar os bichos de duas maneiras distintas: o encontro ocasional e a prática conhecida como playback. “Com um aparelho de música gravamos um áudio da espécie-alvo. Algumas vezes, os bandos se aproximam para verificar e neste momento os turistas fazem as fotos e observações”, explica Cerqueira. A técnica é aplicada também no caso de atrair uma espécie específica.
No entanto, no local grande parte dos encontros é realizado de maneira ocasional. “O Parque Nacional da Amazônia é muito conhecido pela sua rica diversidade e pela relativa facilidade de se observar espécies – não somente aves – de forma espontânea nas trilhas”, comenta a responsável pelo uso público da Unidade Especial Avançada (UNA), Lívia Haubert. A UNA tem a função de gerir o Parque, bem como outras 11 unidades de conservação ao longo da BR 163.
Ararajuba
Ela não é o canarinho da Seleção, mas carrega em suas plumas as cores da bandeira nacional. A Ararajuba (Guaruba guarouba) é a ave símbolo do Parque Nacional da Amazônia por este ser um dos últimos refúgios da espécie. Endêmica do Norte do País, esta ave já circulou do oeste do Maranhão, passando pelo centro do Pará até o sul, próximo à fronteira com o estado do Mato Grosso.
Atualmente, ela é encontrada de forma fragmentada, na maioria dos casos em unidades de conservação como o próprio Parque Nacional da Amazônia e a Reserva Biológica do Gurupi. Mesmo em locais muito próximos à unidade, o animal não é visto com tanta facilidade como no Parque. “Sabemos que em municípios e até unidades de conservação que ficam há poucos quilômetros do Parque Nacional as aparições da ararajuba não são tão frequentes como aqui”, afirma Haubert.
A ararajuba é descrita como uma arara pequena ou um “papagaio grande”. Também é chamada de guaruba e tanajuba. Suas penas são de um amarelo muito intenso com verde nas pontas e mede aproximadamente 34 centímetros. No final do século XVI, já era considerada uma ave muito valiosa, com preço equivalente a dois escravos. Costuma voar em bandos com 7 a 9 indivíduos extremamente sociáveis, inclusive com práticas sociais como o cleaning (onde as aves utilizam os bicos para limpar umas às outras, em busca de parasitas e insetos que por ventura ficam presos em suas plumagens). Para se esconder de predadores, ela costuma fazer seus ninhos nos ocos das árvores e todos os indivíduos do bando são responsáveis pelo cuidado com a prole. Geralmente, nascem dois ou três passarinhos por ninhada.