A extração ilegal de madeira, as plantações de soja e a pecuária são os principais causadores do desmatamento (Foto: Exército Brasileiro / Survival International)
POR – CLIMATE HOME NEWS / NEO MONDO
A França pretende interromper a importação de soja, óleo de palma, carne bovina, madeira e outros produtos relacionados ao desmatamento e à agricultura insustentável até 2030, antecipando o restante da UE
A nova estratégia nacional para combater o desmatamento importado, divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente, usará o comércio para ajudar a desacoplar o desenvolvimento econômico da agricultura insustentável e de corte de árvores nos países mais pobres.
A França também planeja ajudar as empresas a atingir suas próprias metas de combate à importação de produtos ligados ao desmatamento e encorajar os financiadores a levar em consideração questões ambientais e sociais para as decisões de investimento.
As importações europeias de produtos agrícolas – variando de carne bovina e soja da América Latina até o dendê do sudeste da Ásia até o cacau da África – são responsáveis por mais de um terço do desmatamento, de acordo com a estratégia francesa.
“A UE, um importante player econômico global, tem uma responsabilidade importante para dar o exemplo”, afirmou. A União Européia, assim como a França, deveria, portanto, “rapidamente” adotar medidas para reduzir o impacto de seu consumo no desmatamento.
A Comissão Européia está sob crescente pressão de algumas capitais da UE, membros do Parlamento Europeu e da sociedade civil para abordar a contribuição do bloco ao desmatamento em outros países.
“A UE e outros países precisam fazer o mesmo, porque a França não pode enfrentar sozinha o desmatamento”, disse Nicole Polsterer, ativista da ONG ambientalista de Bruxelas Fern, na quarta-feira. “Somente a Comissão Europeia pode garantir que o comércio de todos os Estados membros esteja livre de violações dos direitos de posse da terra e do desmatamento”.
França, Holanda, Alemanha, Itália, Reino Unido, Dinamarca e Noruega enviaram uma carta aos comissários da UE no início deste mês pedindo-lhes que elaborassem um plano de ação para combater o desmatamento, com base em um estudo de viabilidade publicado em março.
A estratégia francesa também surge em meio à crescente preocupação com o aumento do desmatamento na maior floresta tropical do mundo – a Amazônia – após a eleição de Jair Bolsonaro no Brasil. O desmatamento na Amazônia aumentou quase 50% durante a temporada de três meses das eleições presidenciais, segundo dados preliminares. O novo presidente falou em colocar uma rodovia na floresta e enfraquecer as leis ambientais em favor dos agricultores e madeireiros.
Polsterer argumentou no Climate Home News durante a campanha eleitoral no Brasil que a melhor maneira de a UE resistir ao impacto de Bolsonaro seria através do comércio. A UE é o maior investidor estrangeiro no Brasil e seu segundo maior parceiro comercial, com uma participação de 18,3%, disse ela.
As florestas abrigam mais de 75% da biodiversidade do mundo, absorvem as emissões de dióxido de carbono e ajudam a proteger o solo e a água doce, disse a estratégia francesa. A cobertura florestal global encolheu 129 milhões de hectares, ou o dobro da França, entre 1990 e 2015, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
“Este artigo apareceu originalmente no Climate Home News”.