POR – ROSENILDO FERREIRA, PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, CENÁRIO AGRO e NEO MONDO)
Ao transitar pelas avenidas do bairro Tibery, na Zona Leste de Uberlândia, maior potência econômica da região batizada de Triângulo Mineiro, é quase impossível não reparar na informação exposta nos termômetros de rua: 30ºC. Porém, a sensação térmica se torna ainda mais aguda ao desembarcar do ônibus que transporta os jornalistas para a Estação Experimental Fazenda Bela Vista, da Bayer. No local, a gigante alemã, que ganhou musculatura adicional no setor de agronegócio ao assumir o controle da americana Monsanto, em 2016, montou um roteiro para apresentar sua mais nova aposta: a Plataforma Intacta 2 Xtend.
A terceira geração de semente de soja vendida no Brasil é resistente a seis tipos de lagartas e a dois tipos de herbicidas: o glifosato e o dicamba. “O uso combinado dos produtos garante uma cobertura superior a 90% das pragas que atingem a lavoura de soja, no Brasil”, explica Antonio Ferreira, líder do time de tecnologia da Bayer.
A plateia, composta por cerca de 50 pessoas, entre jornalistas especializados em agronegócio e sustentabilidade, além de alguns dos principais produtores de Minas Gerais e Goiás, acompanha com atenção as explicações. Perfilados em volta de cada talhão plantado com a nova semente, e pulverizado com o Dicamba, eles ouvem as explicações sobre os ensaios realizados. À certa altura, o engenheiro agrônomo André Castro, que cultiva o grão em 1,7 mil hectares (entre próprios e arrendados), em Santa Helena de Goiás, dispara: “Com essa semente será possível chegar aos três dígitos?”.
A pergunta, que provoca risos e palavras de apoio dos demais agricultores, se refere à produtividade por cada hectare plantado. Hoje, dependendo da região, é possível colher entre 60 e 65 sacas por hectare. Para dar este salto, somente com o auxílio da biotecnologia. “O melhoramento convencional de sementes permite um ganho de produtividade de apenas entre 0,5% a 1% em relação à colheita anterior”, conta Fábio Passos, gerente de lançamento da nova tecnologia para a soja da Bayer. Segundo ele, a importância da biotecnologia no cultivo de grãos já foi comprovada pela empresa, quando do lançamento da Intacta Ready Pro, em 2012. “Com ela, foi possível avançar em 10% na produtividade em relação aos grãos convencionais”.
Apesar do protagonismo das sementes, a Bayer também vem procurando adicionar tecnologia em outras etapas da produção. Um dos componentes desta estratégia é a plataforma Climate Field View, composta de ferramentas que possibilitam fazer a gestão digital da atividade agrícola. As informações são apresentadas em mais de 50 mapas da propriedade, identificando desde a necessidade de correção do solo, em cada local, até o número de sementes a serem lançadas, passando pela quantidade e o tipo de defensivo e adubo que devem ser utilizados. “A diferença entre a agricultura de precisão e a agricultura digital é que a primeira fornece apenas uma radiografia do que aconteceu no passado”, define.
Informação e tecnologia soam como boa música aos ouvidos do sojicultor Castro, cuja família deixou a cidade paulista de Ourinhos, há 40 anos, para tentar a vida no Cerrado goiano. “Nosso foco é a busca pela produtividade e a excelência. Prova disso é que acabamos de adquirir uma plantadeira eletrônica, de última geração”, conta. A fazenda do clã Castro deverá abrigar uma das 300 áreas de testes de campo que a Bayer pretende fazer antes de colocar a Intacta 2 Xtend no mercado, na safra 2020/2021. Será nestes ensaios de campo que a empresa definirá a produtividade média da semente por aqui.
Até lá, os alemães correm contra o tempo para obtenção da licença de comercialização da soja na China e na Europa, principais compradores da soja brasileira. A aposta é justificada pela importância de uma cultura que responde por metade da safra de grãos prevista em 238 milhões de toneladas para o período 2018/2019. Neste ano, a expectativa é que a exportação dos itens que compõem o complexo soja (grão, óleo e farelo) colabore com cerca de US$ 40 bilhões e divisas para o Brasil.
Até o início de fevereiro, o projeto Gigantes da Soja, que já passou pelas cidades de Sorriso (MT), Dourados (MS) e Maringá (PR), será levado para Passo Fundo (RS) e Luís Eduardo Magalhães (BA), cidades polos da produção do grão. Os executivos da Bayer fazem questão de destacar que o lançamento e a produção da semente contarão com inúmeros parceiros. No total, 13 empresas, incluindo a estatal Embrapa. A nova semente já está sendo comercializada nos Estados Unidos. Mas, devido às peculiaridades do solo brasileiro, eles optaram em desenvolver uma variedade exclusiva. O trabalho consumiu os últimos oito anos e envolveu cerca de 50 funcionários da Bayer, entre pesquisadores e o pessoal de campo que vai cuidar da disseminação da tecnologia.
*O jornalista viajou a Uberlândia a convite da Bayer