POR – CLIMAINFO / NEO MONDO
André Trigueiro analisou em seu blog um vídeo no qual o polêmico Evaristo de Miranda monta mais uma teoria conspiratória. Trigueiro diz que Miranda “desfia uma avalanche de números para sustentar a tese de que o Brasil protege ou preserva quase metade de seu território (48,9%), o que equivaleria a 28 países da Europa. Segundo Evaristo, nos próximos 30 anos, o mercado mundial de alimentos deverá adicionar 40 bilhões de dólares em novos negócios, e apenas dois países teriam condições de disputar esse bolo: Brasil e Estados Unidos. Evaristo afirma que produtores de milho norte-americanos já estariam fazendo campanha para financiar ONGs ambientalistas que lutam pela preservação das florestas no Brasil, colocando assim o país fora do páreo.” Esta maluquice viralizou. Lá pelas tantas, no vídeo, Miranda diz que “o CAR é o ‘maior trabalho escravo’ da história do Brasil. “Cinco milhões de pessoas obrigadas (a fazer o CAR), sem ganhar nada, sob ameaça de perda de crédito, coagidas.” Na verdade isto é pouco, se compararmos com as quase 60 milhões de declarações de imposto de renda que pessoas físicas e jurídicas são obrigadas a fazer anualmente, e para pagar, não para ganhar. Miranda lança uma série de dados para mostrar que o país protege mais área do que deveria. O que soa como música para grileiros e outros criminosos comuns que se apropriam do que não é seu, do que é nosso.
Trigueiro conversa com os ex-ministros do meio ambiente, José Carlos Carvalho e Carlos Minc. Conta que Minc “explica que a visão de Evaristo é estreita e manipuladora, e suas conclusões são devastadoras para o país que mais desmata e extingue espécies ameaçadas no mundo. E que isso acontece não só na Amazônia como no Cerrado, onde o Evaristo acentuou a produção de grãos. Este desmatamento do Cerrado ameaça diretamente – e comprovadamente – as matas ciliares e a oferta de água doce, sem a qual a agricultura não poderá seguir se expandindo”. Carlos Rittl, do Observatório do Clima, e Nurit Bensusan, do Instituto Socioambiental, também criticam os fake dados de Miranda. Raoni Rajão e Britaldo Soares-Filho (da UFMG), Gerd Spavorek (da USP) e Marcos Costa Heil (da UFV) contam que a “crítica comumente feita é a de falta rigor científico nos estudos de Evaristo, que seriam desenvolvidos para justificar retrocessos ambientais. E, finalmente, Trigueiro traz a opinião de um colega de Embrapa, o pesquisador Eduardo Assad, que conta que Miranda não submete seus trabalhos ao exame de seus pares, por exemplo, por meio da publicação de seus trabalhos e dados em revistas indexadas e conceituadas. Para ele, “não há revisão nenhuma, em lugar nenhum. Existe uma coisa chamada metodologia científica, ou seja, quando você publica alguma coisa em qualquer canto do mundo você pode pegar aqueles dados e replicá-los, alcançando os mesmos resultados do autor do estudo. É impossível chegar aos mesmos resultados do Evaristo. Falta robustez científica e isso já foi dito a ele diversas vezes”.
No vídeo, Miranda afirma que “é legítimo dar terra para índio. O problema é que não cabe”, por conta do agronegócio que precisa de terras para expandir sua produção. Perguntado a esse respeito por Trigueiro, Miranda sai com essa: “O agronegócio não tem necessidade de expandir área de pasto ou de lavoura sobre vegetação nativa.” Como havia dito Assad em um evento, Miranda adapta seu discurso e seus dados ao seu interlocutor.