POR – MURILLO FREIRE JÚNIOR (PESQUISADOR DA EMBRAPA)
Perdas e desperdícios de alimentos afetam a sustentabilidade dos sistemas alimentares, reduzem a disponibilidade local e global de alimentos, reduzem a renda dos produtores, elevam os preços para os consumidores e têm um impacto negativo sobre a sua nutrição e saúde. Além disso, afetam o meio ambiente pelo uso insustentável dos recursos naturais.
Perdas se referem a algo não intencional e ocorrem em toda a cadeia produtiva desde o plantio até o consumidor devido à falta de infraestrutura adequada. São muita e muitas as causas. Entre as principais estão o manuseio inadequado dos produtos no campo, falta de classificação padronizada na cadeia produtiva, uso de embalagens inadequadas, veículos supercarregados, estradas deficientes e até o excesso de manuseio dos produtos por parte dos consumidores e de produtos nas gôndolas de exposição. Já o desperdício ocorre geralmente na venda e no manuseio posterior pelo consumidor. É o caso de alimentos com data de fabricação vencida, produtos considerados “feios” e, por isso, descartados, além das sobras de alimentos ocorridas em restaurantes, hotéis, residências, etc.
Se, de um lado podemos aumentar a oferta de alimentos, por outro, e talvez mais fácil, cada um pode reduzir as perdas que começam na pré-colheita e vão ao pós-consumo. Governo, empresas privadas, atacadistas e varejistas sabem o que fazer e por motivos diversos podem não cumprir seu papel. O consumidor que às vezes é desinformado ou desatento é que não costuma notar que é responsável por parte importante do exagerado volume do desperdício. Algumas dicas são muito simples: a primeira é planejar as refeições, elaborando cardápios semanais, por exemplo; levar lista detalhada para as compras depois de olhar o que falta na geladeira e armário; não se inibir de comprar ou consumir frutas, legumes e verduras “feios” e ou defeituosos. Eles são perfeitamente adequados para consumo já que possuem as mesmas características nutricionais que os “bonitos”. Dessa forma, reduz-se a quantidade de alimentos que vão para a lixeira, sem necessidade. Na compra, cuidado com o manuseio errado ou excessivo pois podemos danificar o alimento e aumentar o desperdício.
E há os talos, hastes, folhas e cascas de alguns vegetais. Porque desprezá-los? Há receitas de tortas, sopas e refogados capazes de transformá-los em pratos não apenas nutritivos, mas também saborosos. E, na hora de comer, ensinar as crianças a servir pequenas quantidades no prato. Se não for suficiente, sempre é possível voltar a preencher o espaço vazio do prazo.
Nós, consumidores, às vezes achamos que não fazemos a diferença, mas a criação de uma cultura de aproveitamento dos alimentos evitaria volumosos custos ambientais, que incluem o desperdício de energia e insumos utilizados na fase de produção (água, combustível, adubos, defensivos), distribuição (embalagens, transporte) e armazenamento. Adicionalmente, os alimentos depositados em aterros sanitários, ou simplesmente descartados no ambiente, produzem metano, gás com efeito estufa 23 vezes mais potente do que dióxido de carbono.
Reduzir as perdas e o desperdício de alimentos é fundamental para a sustentabilidade do meio ambiente, para a maior eficiência do uso da água, dos insumos agrícolas e para o uso sustentável da energia gasta na produção de alimentos no campo. Bom para a economia, bom para a saúde.