Anualmente, o World Economic Forum (WEF) lança o Global Risks Report, documento baseado nas discussões do Fórum Econômico Mundial. NEO MONDO reproduz parte do sumário executivo do relatório sobre os maiores riscos globais em 2019
Por – Da Redação
O mundo avança inadvertidamente para uma crise? Os riscos globais se intensificam, mas a vontade coletiva de enfrentá-los parece estar ausente. As divisões estão cada vez mais profundas. O mundo avança para uma nova fase de políticas fortemente centradas no Estado.
A ideia de “retomar o controle” – quer seja internamente de rivais políticos, ou externamente de organizações multilaterais ou supranacionais – ecoa em muitos países e sob várias formas. A energia, agora despendida na consolidação ou na recuperação de controle dos riscos nacionais, vai enfraquecendo as respostas coletivas aos desafios globais emergentes. Estamos num profundo andar à deriva em problemas globais dos quais teremos que lutar para nos libertarmos.
Durante 2018, os riscos macroeconômicos tornaram-se mais acentuados. A volatilidade do mercado financeiro aumentou e os ventos adversos enfrentados pela economia global intensificaram-se. A taxa de crescimento global parece ter atingido o seu pico: de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê-se uma desaceleração gradual nos próximos anos. Este resultado deve-se, principalmente, à evolução das economias avançadas, mas as projeções de desaceleração na China – de 6,6% em 2018 para 6,2% este ano e 5,8% em 2022 –são, igualmente, uma fonte de preocupação.
As tensões geopolíticas e geoeconômicas aumentam entre as maiores potências mundiais. Elas representam os riscos globais mais urgentes no momento. O mundo evolui para um período de divergência, após um período de globalização que alterou profundamente a economia política mundial. Reconfigurar as relações de países profundamente integrados envolve potenciais riscos. Neste contexto, é provável que se torne mais difícil fazer algum progresso coletivo noutros desafios globais – quer seja proteger o meio ambiente ou responder aos desafios éticos da Quarta Revolução Industrial.
O agravamento das divergências no sistema internacional sugere que os riscos sistêmicos estão aumentando. Se surgisse a ameaça de outra crise global, haveria os níveis necessários de cooperação e apoio? Provavelmente sim, mas a tensão entre a globalização da economia mundial e o crescente nacionalismo da política é uma ameaça cada vez maior.
Riscos também para o meio ambiente e saúde
Os riscos ambientais continuam a dominar os resultados da Pesquisa Global de Perceção de Risco. Os resultados da ausência de ações efetivas na esfera climática estão se tornando cada vez mais claros. O ritmo acelerado da perda de biodiversidade é uma preocupação especial. A abundância de espécies diminuiu em 60% desde 1970, afetando a saúde e o desenvolvimento sócio-econômico, com implicações no bem-estar, produtividade e até mesmo na segurança regional.
A tecnologia continua a desempenhar um papel significativo na elaboração do panorama de riscos globais. As preocupações sobre fraude de dados e ataques cibernéticos foram novamente destacadas no levantamento que destacou também uma série de outras vulnerabilidades tecnológicas: cerca de dois terços dos respondentes esperam que os riscos associados às notícias falsas e a roubo de identidade aumentem em 2019, enquanto três quintos disse o mesmo sobre a perda de privacidade para empresas e governos.
Em todo o mundo, problemas de saúde mental afetam atualmente cerca de 700 milhões de pessoas. As transformações complexas – sociais, tecnológicas e laborais– têm um impacto profundo na vida das pessoas. Um tema comum é o estresse psicológico relacionado a um sentimento de falta de controle face à incerteza. Estas questões merecem mais atenção: o declínio do bem estar psicológico e emocional é um risco em si – e afeta também o cenário mais amplo dos riscos globais, especialmente através de impactos na coesão social e na política.
Outro conjunto de riscos ampliados pelas transformações globais está relacionado com patogênicos biológicos. Mudanças na forma como vivemos aumentaram o risco de um surto devastador que poderá ocorrer naturalmente, e as tecnologias emergentes tornam cada vez mais fácil a fabricação de novas ameaças biológicas, que podem ser liberadas deliberadamente ou por acidente. O mundo não está preparado até para as ameaças biológicas mais modestas, o que nos deixa vulneráveis a impactos potencialmente enormes em nossas vidas, no bem estar social, na atividade econômica e na segurança nacional.
As cidades em rápido crescimento e os efeitos contínuos da mudanças climáticas tornaram mais pessoas vulneráveis ao aumento dos níveis do mar. Espera-se que dois terços da população mundial viva em cidades até 2050 e já existem cerca de 800 milhões de pessoas habitando mais de 570 cidades costeiras vulneráveis a um aumento do nível do mar de 0,5 metros, até 2050. Num ciclo vicioso, a urbanização não só concentra pessoas e propriedades em áreas de possíveis danos e disrupções, mas também exacerba esses riscos – por exemplo, destruindo fontes naturais de resiliência, como zonas costeiras, e aumentando a pressão sobre as reservas de água subterrânea. Ao intensificar os impactos, uma quantidade crescente de terra tornar-se-á inabitável.
Fonte: https://weforum.ent.box.com/s/bydczafjpdejx63ek1zrsblxwfvorwhf