Foto – Daniel Teixeira/Agência Estado
POR – ROSENILDO FERREIRA, PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO e NEO MONDO)
Inovação boa é aquela que resolve a vida do cliente Poucos segmentos econômicos têm sido impactados de um modo tão expressivo pelos avanços tecnológicos quanto o setor de serviços. Num ambiente de concorrência feroz, sair na frente pode representar a possibilidade de obter maiores ganhos e definir o curso do mercado. No entanto, quanto maior a corporação, menor é seu apetite ao risco. Por conta disso, as empresas vêm buscando atrair pesquisadores independentes e startups para rodadas de inovação aberta. Isso se dá a partir da criação de Laboratórios (ou Labs, no linguajar da moçada do setor) e espaços para aceleração de empresas instalados fora de seu quartel-general.
O grande atrativo deste modelo é a possibilidade de mitigar os riscos inerentes ao processo de inovação, além de trabalhar com foco específico nas áreas que se deseja apostar, a partir de ideias, serviços e produtos já em fase de validação. Se a tecnologia ou serviço não se mostrar atraente é abandonada. Se passar pelo processo de validação, o pesquisador ou a startup se torna sócio da “nave-mãe”.
Uma das empresas que apostam neste modelo é o Grupo Porto Seguro, criador da Oxigênio Aceleradora, cuja operação se dá em parceria com a Liga Ventures e que iniciou as atividades em 2016. Desde então, já aconteceram oito ciclos de aceleração que beneficiaram 40 startups.
Mais do que trazer empresas para testar produtos e serviços, a Oxigênio também vem se firmando como um espaço para a disseminação de conhecimento para a comunidade e os funcionários do Grupo Porto Seguro. Isso é feito a partir de eventos como o Pílulas de Inovação, um talk show que reúne um especialista convidado. Na edição de segunda-feira (17/2), o entrevistado foi Bruno Garfinkel, presidente do Conselho de Administração da Porto Seguro.
Graduado em administração, com especialização em gestão pela Boston University, Bruno acompanhou de perto o crescimento da empresa, especialmente de sua área mais sensível: a de seguros de automóveis. “Poucas empresas têm lucro com este produto”, diz ele. “Aqui na Porto Seguro, no entanto, esta divisão representa a maior fatia de nossos ganhos anuais.”
Ele contou que para chegar neste ponto, seu pai Jayme Garfinkel, responsável por transformar a Porto Seguro numa potência do setor, sempre apostou em inovação. Mas a partir de um ponto de vista instrumental. “Mais do que ações destinadas a fortalecer nossa imagem como empresa moderna, nosso objetivo era mitigar os riscos e proteger a rentabilidade do negócio.”
Bruno Garfinkel, de blazer, com a equipe da Oxigênio Aceleradora – Foto: Divulgação
Alguns exemplos de inovações lançadas pela Porto Seguro:
Vacina antifurto – A partir de 1984, começa a gravar o número do chassis nos vidros dos automóveis. O objetivo da Vacina Antirroubo era dificultar a ação dos “desmanches” ilegais de veículos, por meio da rastreabilidade das peças.
Break-light – A terceira luz de freio chegou ao Brasil em 1987, por intermédio de Jayme. Na época, os técnicos da seguradora descobriram que boa parte das colisões se davam na parte traseira dos veículos.
Guincho – De acordo com Bruno, dos R$ 1,3 bilhão lucrados pelo Grupo Porto Seguro em 2018, nada menos do que R$ 1 bilhão vieram da venda de salvados (nome técnico para veículos sinistrados). “Foi uma forma simpática de introduzir um serviço ao cliente num momento delicado e ao mesmo tempo proteger o lucro da empresa”, explica.
Estacionamento – O mesmo se deu com a parceira com a rede Estapar para oferecer descontos para clientes nos estacionamentos da rede. O pequeno custo incentivou o cliente a proteger mais seu veículo.
Alertas de alagamento – Nem todas as apostas foram bem-sucedidas. A parceria com a Climatempo acabou sendo interrompida porque foi detectado que a emissão de alertas de alagamentos, via SMS para os segurados, provocava apreensão em vez de servir para ajudá-los a evitar o pior.
No espaço do talk show destinado a interação com o público, Bruno foi muito questionado sobre os possíveis impactos das chamadas tecnologias disruptivas no desenvolvimento da empresa. O mote foi a recente viagem que ele fez à China, com foco em alguns dos principais centros de Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC). Voltou de lá impressionado com o que viu: “A sensação que eu tenho é que a China vai dominar o mundo!”, diz.
Para o presidente do Conselho do Grupo Porto Seguro, no entanto, por mais espetacular que possa parecer uma tecnologia ou um gadget, ele só fará sentido se atender às necessidades básicas das pessoas e das empresas: “A tecnologia não deve ser enxergada como uma ferramenta para assumirmos à frente da concorrência, mas sim para resolver problemas reais da empresa e dos clientes e que façam sentido no dia a dia do negócio.”
A palestra de Bruno foi bastante concorrida, de acordo com Maurício Martinez, gerente de P&D da Porto Seguro. Segundo ele, o projeto Pílulas de Inovação começou em 2019 e desde então já reuniu cerca de 1,2 mil pessoas no auditório da Oxigênio Aceleradora. “Em muitas ocasiões tivemos que conseguir assentos adicionais para dar conta da demanda”, conta. “Hoje, no entanto, superou em muito nossa expectativa.”