Foto – UNESCO
POR – UNESCO / NEO MONDO
Quando pensamos em riscos à saúde pública, podemos não pensar no oceano como um fator. Entretanto, cada vez mais a saúde do oceano está intimamente ligada à nossa saúde. Algumas pessoas podem se surpreender ao ler que organismos descobertos em profundidades extremas são usados para acelerar a detecção do coronavirus e, provavelmente, ainda há mais para se aprender, mas é o meio ambiente que pode dar uma solução à humanidade.
As bactérias encontradas nas profundezas do oceano estão sendo usadas para realizar testes rápidos para detectar a presença da COVID-19. “É apenas um dos muitos usos prodigiosos desses organismos, que foram descobertos em 1986 por microbiologistas norte-americanos no Mar Adriático”, diz Francesca Santoro, oceanógrafa e pesquisadora da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (UNESCO-COI).
Francesca, oficial de projeto da COI no Escritório Regional de Ciência e Cultura da UNESCO na Europa (Veneza, Itália), entrevistada pelo caderno “Quimamme”, do jornal “Corriere della Sera”, explicou que o oceano é um aliado no combate ao vírus. Ele ajuda não apenas na detecção, mas também no combate à COVID-19.
Encontrar respostas no oceano
Os microbiologistas do Instituto Oceanográfico Woods Hole descobriram as bactérias que destacam esse papel fundamental para combater a COVID-19. As bactérias foram identificadas anos atrás e também são úteis para diagnosticar a Aids e a Sars. A pesquisa, publicada no “Journal of Applied & Environmental Microbiology”, continua sendo de interesse na atualidade, pois o oceano é um aliado real contra o vírus. O oceano está intimamente ligado à saúde humana.
Foto – nico49 por Pixabay
Nosso oceano e as zonas costeiras nos afetam – mesmo quem não vive perto do litoral.
“O ambiente marinho é muito rico do ponto de vista da biodiversidade, e ainda estão para ser descobertos recursos úteis para a vida cotidiana dos seres humanos”, destaca Francesca Santoro. O oceano profundo já nos deu compostos para tratar câncer, inflamação e danos nos nervos. Os avanços também vieram das profundezas do oceano na forma de elementos de diagnóstico.
Muitas pessoas pensam no fundo do mar como um deserto. A olho nu, parece que não existe nada lá, mas as fontes hidrotermais têm uma notável diversidade de micróbios, incluindo diversidade genética, e é lá que reside esse enorme potencial.
O meio ambiente protege e ajuda a humanidade
As soluções para os problemas que ameaçam a humanidade podem vir do meio ambiente. Portanto, a humanidade deve se esforçar, agora mais do que nunca, para proteger o oceano, em vez de sufocá-lo com resíduos e plástico. A “saúde” do oceano global – o sistema interconectado das águas oceânicas da Terra – é afetada pelas atividades humanas, mas é também uma ameaça a elas. Há muitas gerações, as pessoas vivem em harmonia com o oceano e confiam na sua generosidade, mas as coisas mudaram, e a Terra agora está em grande perigo.
“Ano após ano, a relação entre saúde humana e saúde oceânica é cada vez mais evidente. Cada vez mais são realizadas pesquisas que usam substâncias produzidas por organismos marinhos como tratamentos para doenças como câncer e Alzheimer”, reitera Francesca. “Por esse motivo, as novas gerações e as famílias devem estar na vanguarda da batalha pela conservação do oceano”.
Foto – Arek Socha por Pixabay
Robôs buscam recursos “milagrosos”
A maneira como essas descobertas têm sido feitas também é fascinante. “Os robôs do tipo ROV, controlados por um navio oceanográfico, são usados para esse fim. Eles realizam pesquisas e coletam amostras para estudar e entender as espécies que existem”, diz Francesca Santoro.
“No entanto, as descobertas são mínimas, e ainda há muito a ser explorado. Até agora, apenas três pessoas desceram à Fossa das Marianas; uma delas é James Cameron, diretor do filme ‘Titanic’, que desceu com um torpedo vertical especial. Para um oceanógrafo, a lua é mais conhecida do que as profundezas do oceano”.
Para aprimorar a pesquisa nessa área, as Nações Unidas lançaram uma década de estudos e ideias sobre as ciências marinhas.
A Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030) fornecerá um marco de ação comum para garantir que a ciência oceânica apoie totalmente as atividades dos países para administrar o oceano de forma sustentável e, mais especificamente, alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Este ano, as articulações sobre mudança climática, biodiversidade e oceano global deveriam abordar o destino de um mundo vivo em uma condição crítica. Contudo, a pandemia da COVID-19 está forçando mudanças drásticas no cronograma. A saúde é confirmada como uma prioridade para todos, sem exceção.
A promoção da cultura oceânica (o conhecimento popular sobre a ciência oceânica) está entre os objetivos da UNESCO para a Década. Este é outro meio de aumentar a conscientização de todos – adultos e crianças – sobre as questões relativas à proteção do oceano, tão querido para nós, que atualmente é um aliado contra o vírus e, de forma mais geral, uma riqueza a ser aprimorada também pelo ponto de vista de sua biodiversidade.
A diversidade de espécies encontradas em nosso oceano oferece a grande promessa de um baú de tesouros farmacêuticos e produtos naturais para combater doenças e melhorar a nossa qualidade de vida. A cultura oceânica exerce um papel essencial no nosso futuro, devido à importância de todos nós entendermos a importância do oceano.