Foto – Pixabay
ARTIGO
POR – JOSE CARLOS MATTOS* / NEO MONDO
Li no site da Fondation de France, que é a maior instituição filantrópica francesa, que o Brasil se destaca entre os países onde houve o maior número de doações durante a pandemia do novo Coronavírus. Nosso país já contabiliza US$ 700.000.000.00 (setecentos milhões de dólares) em doações até agora. Quer conferir? Clique AQUI.
Filantropia é um tema controvertido no mundo empresarial brasileiro. Em países como os EUA, a Inglaterra, a Alemanha e a própria França, entre outros, é normal as empresas manterem atividades filantrópicas importantes. No Brasil não são muitos os exemplos, principalmente se falamos em filantropia feita de maneira constante. Às vezes as empresas fazem uma doação quando há uma tragédia que deixa pessoas desabrigadas, mas nesse caso é um ato mais de caridade do que uma ação organizada.
A filantropia deveria ser mais comum no Brasil, até mesmo porque há diversas destinações óbvias para receberem doações. Uma das razões pela pouca presença da filantropia nas ações sociais das empresas é, com certeza, a nossa carga tributária. Uma firma que se mantém em dia com o PIS, com a CSLL, o IR, o ICMS, o IPTU, o FGTS, o ICMS, entre outras tenebrosas siglas, com certeza já se acha quites com suas obrigações sociais, e está mesmo.
Seja por essa, ou por outra razão, as nossas empresas na hora de escolherem as suas ações de cidadania preferem atuar com projetos ecológicos, esportivos e artísticos. Há também a crença de que esses projetos trazem mais valor para a marca da empresa do que uma ação filantrópica, e, às vezes, há até um pudor da empresa de usar a filantropia no seu branding, na composição da sua marca.
Há cuidados que devem ser levados em conta. É desmoralizante uma empresa se passar por preocupada com a ecologia sem olhar para o seu quintal. Patrocinar projetos na área ecológica e não cuidar de seus rejeitos industriais, por exemplo. E, é claro, uma empresa que não é boa empregadora, não deve se alçar a uma empresa com preocupações filantrópicas. Mas isso são casos extremos. A maioria das companhias que pode fazer doações, deveria faze-las. Abaixo vão algumas dicas boas para quem quer se iniciar na atividade.
Não confunda caridade com filantropia. Caridade é feita emocionalmente, e no mais das vezes busca mitigar uma carência, seja ela alimentar, habitacional ou de saúde. Já a filantropia é atacar as causas que provocaram essa carência. Filantropia se relaciona em patrocinar projetos que vão impedir ou dificultar situações onde as pessoas ou a natureza estarão expostas a riscos e carências excepcionais.
Foto – Pixabay
Escolha com muito cuidado a quem você vai doar. Uma boa orientação é escolher organizações que tem balanços financeiros em dia. Quando você doa para uma organização que está à míngua, o seu dinheiro irá para salvar a instituição, e não para atividade fim da filantropia. É duro, mas pense nisso.
Nessa mesma linha, acompanhe a sua doação. Verifique como está sendo dispendido o recurso doado, converse com os beneficiários, peça prestação de conta. Demonstre interesse pelo projeto, isso só irá incentivar as pessoas bem intencionadas que estejam envolvidas.
Escolha uma pessoa de sucesso na empresa para liderar a filantropia. Você precisa que a ação seja reconhecida dentro da empresa, que os seus colaboradores se engajem, participem, e isso só será conseguido se estiverem à frente das ações colegas e líderes que eles admiram e respeitam.
Você pode escolher uma área que seja diretamente relacionada com a atividade fim de sua empresa, não há mal nisso. Ao contrário, dessa forma você não desvia o foco da empresa de sua atividade principal e é fácil achar entre os colaboradores pessoas que possam ter êxito também na ação filantrópica. Um exemplo clássico é um escritório de advocacia dedicar parte das horas de seus advogados para causas “pro bono”. Isso pode ser replicado em consultorias, e também as indústrias podem buscar atividades que se somem com as características de seus produtos.
Atividades afins com marca facilitam ao público e aos stakeholders estabelecerem a ligação entre a filantropia e a empresa. Além disso, essas ações costumam motivar os colaboradores da empresa aumentando a auto estima e criando uma sensação maior de pertencimento entre eles.
O fato de o Coronavírus ter mostrado que há no Brasil grandes doadores ativos é bem-vindo. A Vale e o Itaú são empresas que se destacaram nessas recentes doações. Agora a Fundação Lemann anunciou o seu envolvimento no financiamento de vacina e terapias para a Covid-19.
Você pode pensar que se a sua empresa não tem o vulto dessas talvez filantropia não seja para ela. Errado. É como esperar ficar rico para ter dinheiro para poupar. Ora, o difícil é ficar rico sem poupar. Quem não disciplina seus gastos, dificilmente acumula riqueza. Filantropia é parecido, ela tem que fazer parte da cultura empresarial, sempre se respeitando que não se pode dar o que não se possui, ou seja, mantendo-se dentro da realidade da empresa. Além de dinheiro, filantropia pode ser praticada incentivando um programa de voluntariado entre o quadro de colaboradores da empresa, por exemplo.
Pense em filantropia como uma forma de sua empresa complementar a sua presença social na realidade do país. Um bom programa de filantropia irá mostrar aos seus stakeholders que a empresa conhece a realidade do mercado, se preocupa com o seu entorno, é uma força positiva para os que desejam viver em um lugar mais justo.
Jose Carlos Mattos – Sócio Diretor da Ketchum-JCM Comunicação