Paloma Costa, 28, é a única brasileira num grupo consultivo da ONU sobre mudanças climáticas – Foto: © Divulgação/ WWF-Brasil
POR – JORGE EDUARDO DANTAS (WWF-BRASIL) / NEO MONDO
A ascensão da ativista sueca Greta Thunberg, 17, escolhida Personalidade do Ano de 2019 pela revista norteamericana Time, lembrou o mundo da importância do espaço de fala dos jovens na discussão dos grandes temas da nossa época
Greta, porém, não é a única. Assim como ela, existem diversas outras lideranças juvenis, ao redor do mundo, que trabalham na construção de um futuro melhor e mais igualitário. Algumas deles são Alexandria Villasenor, dos Estados Unidos; Iris Duquesne, da França; e Ayakha Melithafa, da África do Sul.
A brasiliense Paloma Costa, 28, é uma dessas pessoas. Estudante de Direito e Ciências Sociais, ela é a única brasileira num grupo consultivo da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas – além de trabalhar no Instituto Socioambiental (ISA).
“O maior desafio que os jovens enfrentam hoje é a morosidade. As pessoas estão muito confortáveis nesse sistema falho em que elas se inseriram. A casa tá desmoronando e as pessoas ficam: ‘ah, eu gosto tanto desse sofá’… As pessoas têm muita dificuldade de saírem de sua zona de conforto”, disse Paloma.
Força incomum
No Amazonas, a estudante Samela Sateré-Mawé, 23, trabalha junto a Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (Amism). A associação fica localizada na Zona Oeste de Manaus e buscar a melhoria de vida das mulheres Sateré.
Quando a pandemia de COVID-19 se abateu sobre a capital do Amazonas de maneira brutal, no primeiro semestre de 2020, foram algumas dessas mulheres que se mobilizaram para levar mantimentos, itens médicos e informação para os moradores.
*“Os jovens precisam se envolver nas causas que eles acham importantes porque nós, jovens, temos uma força incomum*. A capacidade que temos de mobilizar as pessoas na hora de fazer a diferença, é incomum. Então os jovens devem se envolver e tomar parte nas grandes discussões de sua geração”.
A estudante de biologia Samela Sateré Mawé trabalha junto a um grupo de mulheres na periferia de Manaus – Foto: © Divulgação/ WWF-Brasil
Aprender e estar junto
No entanto, engana-se quem pensa que se inserir nessas conversas é fácil. Para o presidente da Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, Bitaté Uru-Eu-Wau-Wau, de 20 anos, existe sempre um estigma sobre os jovens que se envolvem nesses trabalhos. “Alguns acham que nós não temos capacidade de estar em alguns espaços, de responder, de aprender. Mas a gente aprende, evolui e descobre o que a gente quer”, afirmou.
Bitaté vive na aldeia Jamari, na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. Com 1,875 milhão de hectares e com o registro de alguns povos isolados vivendo por ali, a Terra Indígena sofre bastante com invasões – por isso, Bitaté acabou focando seus esforços no trabalho com monitoramento territorial. “Com a pandemia as coisas ficaram um pouco mais difíceis, porque gostamos dessa presença, de estar junto, de aprender uns com os outros. Mas precisamos levar nosso trabalho adiante”, disse.
Agravando questões
Para a psicóloga ambiental Giselli Cavalcanti, 26, que atua junto ao Engajamundo há quatro anos, o maior desafio enfrentado pelos jovens hoje é de fato a emergência climática. “O entendimento sobre este assunto está ficando mais claro, mais amplo e já começamos a perceber que ele é um tema guarda-chuva, que abarca muitos outros temas. A emergência climática vem agravando questões que já são conhecidas, deixando mais claras nossas desigualdades e pode ser lida por meio de vários recortes, como gênero e raça”, explicou.
Giselli trabalha baseada em Natal (RN) coordenando redes de jovens. Ela acredita que a participação juvenil é importantíssima no combate aos prejuízos da crise do clima.
“Essa é a geração que vai ser mais impactada diretamente. Então, estamos no limite para tomar decisões que vão ter um impacto real. Não são políticos homens, brancos e mais velhos que serão mais afetados”, disse a psicóloga.
Coletividade
Nayara Almeida, 22, do Rio de Janeiro (RJ), aderiu às greves pelo clima e também fala sobre o assunto nas redes sociais por meio do @garotadaecharpeclimatica: “Nós, os jovens, temos um espirito ousado, de defesa do que faz sentido para a gente. Nós não temos uma causa da gente, é sempre uma causa ‘nossa’, de grupo, de algo que possui um senso de coletividade muito forte”.
A jovem estuda Ecologia e vê que ainda existe a necessidade de reforçar as redes de comunicação que envolvem as pautas climáticas. “Os atores da política não dialogam com a ciência, a ciência não dialoga com a população, os empresários ficam no seu canto… o diálogo ambiental é focado em poucas pessoas, fica numa bolha – e é preciso sair disso”, afirmou. Nayara trabalha no Engajamundo e ajudou a trazer o movimento #FridaysforFuture ao Brasil.
Paloma reforça o convite aos jovens que queiram apoiar alguma mobilização ou se envolver na luta por alguma causa. “Jovens se mobilizarem é essencial. Essa é a grande vitória: termos uma legião de jovens conscientes, educados, resilientes, aptos e dispostos a lutar pelo que acreditam e pela vida”, disse a advogada.