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ARTIGO
POR – Maria Paula Mansur Mäder*, para NEO MONDO
Imagine que um dia, ao levantar, todas as suas experiências e trajetória são completamente apagadas da sua memória. Tudo aquilo que você aprendeu, seus erros e acertos, são completamente esquecidos. E mesmo assim, você precisa seguir em frente. Trabalhar e aprender tudo de novo. Na Educação brasileira, muitas iniciativas e boas práticas mudam de rumo ou não sobrevivem às trocas de gestão. Muitas vezes, aquilo que foi planejado e cuidadosamente implementado pela gestão anterior é descontinuado. Os investimentos e os anos de trabalho são desperdiçados.
Assim, a transição de governos exige responsabilidade. Na Educação, bons resultados não surgem de uma hora para outra. A continuidade e o aperfeiçoamento de projetos e políticas são essenciais para impactar positivamente e de forma consistente a aprendizagem e o futuro dos estudantes. Um exemplo disso é o Fundeb, que não teria se tornado realidade sem o seu antecessor – o Fundef. Isso também vale para o Ideb. Se o seu precursor, o Saeb tivesse sido descontinuado, não teríamos hoje esse índice tão importante para a avaliação da Educação.
A Educação é, necessariamente, um processo de longo prazo. Ela ocorre, muitas vezes, em processos geracionais. Está sujeita a mudanças nos costumes, na moral da sociedade, na tecnologia, e assim por diante. O fato é que cidadãos são constituídos a partir da Educação. É ela que fundamenta o exercício de cada um de nós na sociedade. Se há uma gestão, uma política pública que deve ter o maior cuidado, a maior parcimônia em sua interrupção ou sua modificação, é a Educação. Ela representa o próprio poder evolutivo de uma sociedade.
E os gestores públicos, os secretários da Educação têm essa imensa responsabilidade. Pode haver uma alternância de poder, mas o compromisso que a sociedade tem com a Educação de qualidade não pode ser interrompida. Se houve desvios na gestão anterior, que sejam corrigidos, mas todos os méritos devem ser reconhecidos.
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Por isso, participar de uma transição política ética e harmoniosa, pautada por valores morais, em que o bem comum esteja acima de concorrências políticas, é um primeiro passo para a trilha do desenvolvimento social. Transcender as diferenças políticas e ideológicas, bem como manter um ambiente de diálogo, escuta ativa e colaboração mútua entre os que chegam e os que deixam seu legado, dentro dos cargos de secretarias e prefeituras é, sem dúvida, uma atitude real de compromisso social. O compartilhamento de informações entre a gestão que inicia e a que termina colabora na implantação de um plano de governo mais efetivo – e assumir posturas de resiliência, diplomacia e cooperação são determinantes para atender o real motivo da função pública: o bem-estar da população.
Neste momento de transição política, mais do que nunca, é preciso que os gestores educacionais estejam abertos a uma gestão horizontalizada, na qual a colaboração é o eixo norteador, promovendo um trabalho em rede. Os movimentos de colaboração entre municípios, sejam eles na forma de Câmaras Técnicas de Consórcios, Arranjos de Desenvolvimento da Educação, ou mesmo fóruns e colegiados, constituem importantes espaços para endereçar projetos comuns, em favor da Educação pública. A partir da instituição de uma rede de colaboração, os dirigentes municipais e equipes passam a atuar de forma conjunta, visando superar desafios comuns às suas redes.
Ao atuar em redes, os gestores da Educação atuam com uma visão sistêmica e transpartidária. Assim como a política não é para qualquer um, segundo o ex-presidente da República Checa, Václav Havel – e pressupõem um desapego muito grande, o gestor de Educação deve ter um compromisso ainda maior com a integridade da gestão pública em função da sua responsabilidade de longo prazo com a sociedade.
Mas os grandes planos e metas das iniciativas que ocorrem em regime de colaboração, que beneficiam tantos estudantes brasileiros, só se tornarão realidade se houver atendimento às leis, organização prévia e liderança. A qualidade da transição desse governo depende de cada um de nós. A continuidade das ações realizadas em regime de colaboração também.
* Maria Paula Mansur Mäder é doutora em Educação e coordenadora de produção e disseminação de conhecimento do Instituto Positivo