Ecossistemas de tundra estão entre os ambientes ameaçados pelo aquecimento do planeta – Foto: Hannes Grobe/IUCN
POR – DUDA MENEGASSI ((O))ECO / NEO MONDO
Com a visão de que a conservação da natureza precisa ser um esforço global, mais de 100 pesquisadores de 85 instituições científicas elaboraram um catálogo pioneiro para contemplar todos os ecossistemas do mundo. A Tipologia Global de Ecossistemas foi realizada e publicada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e mapeia os 108 principais tipos de ecossistemas com base em suas funções, características e composição, assim como sua distribuição global e os processos que os sustentam. O objetivo é permitir abordagens mais coordenadas e eficazes de conservação das áreas mais ameaçadas.
A classificação é dividida entre quatro reinos principais – terrestre, marinho, água doce e subterrâneo – e seis de transição, que são produzidos a partir do encontro entre os reinos principais, como por exemplo o encontro entre águas continentais e oceânicas, onde existem ecossistemas estuarinos e de baías. A tipologia abrange até mesmo ecossistemas moldados por humanos, como pastos, plantações, represas e áreas urbanas.
De acordo com a IUCN, esta abordagem sistemática irá ajudar a identificar quais tipos de florestas, recifes e áreas úmidas, por exemplo, são mais críticos para a conservação da biodiversidade e para o fornecimento de serviços ecossistêmicos, e quais estão em maior risco de colapso.
“Muitos dos ecossistemas do mundo estão sob risco agudo de colapso, com graves consequências para a sobrevivência das espécies, diversidade genética, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano. Para sustentá-los, é extremamente importante que a Estrutura de Biodiversidade Global pós-2020 [estabelecida pela Convenção sobre Diversidade Biológica] contenha objetivos ambiciosos e explícitos para a conservação dos ecossistemas ao lado das espécies. Esta primeira tipologia de ecossistema padronizada e espacialmente explícita fornece a infraestrutura necessária para definir e rastrear tais objetivos”, explica Bruno Oberle, diretor geral da IUCN.
Além de permitir a definição e monitoramento de metas globais de conservação, a nova ferramenta também apoiará a Lista Vermelha de Ecossistemas, instrumento da IUCN para avaliar os riscos de colapso enfrentados pelos ecossistemas de todo o mundo, e o Sistema de Contabilidade Econômica-Ambiental (SEEA), iniciativa das Nações Unidas para estimar a contribuição econômica dos serviços ecossistêmicos.
“Este trabalho preenche uma lacuna de conhecimento que estava impedindo nossa capacidade de medir o progresso na gestão sustentável dos ecossistemas mundiais. É um avanço muito oportuno, pois o mundo está desenvolvendo novas iniciativas de política global que serão críticas para um futuro sustentável, incluindo a estrutura pós-2020 para a conservação de ecossistemas e espécies sob a Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica ”, disse Angela Andrade, presidente da Comissão de Gestão de Ecossistemas da IUCN.
Autor principal por trás da tipologia, o professor David Keith, do Centro de Ciências Ecossistêmicas da Universidade de New South Wales (UNSW), na Austrália, aponta que o mapeamento permite ainda agrupar ecossistemas similares e revelar padrões entre eles. “Isso nos permitirá reconhecer semelhanças entre ecossistemas relacionados e aplicar o que aprendemos sobre gestão sustentável de estuários na China, por exemplo, a estuários semelhantes na Nigéria”, conta Keith, que é membro da Comissão de Gerenciamento de Ecossistemas da IUCN. “Compreender os riscos comuns enfrentados por ecossistemas semelhantes, em última análise, ajuda a desenvolver maneiras de protegê-los”, completa.
Além da publicação científica, disponível no site da IUCN, o esforço de pesquisa também produziu uma plataforma interativa que apresenta a tipologia e permite a navegação entre os diferentes ecossistemas catalogados, suas funções e biodiversidade associada.