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POR – FRIDAY FOR FUTURE / NEO MONDO
Participe conosco da Greve Global utilize a hashtag #ChegaDePromessasVazias
Horário e local
19 de mar. 07:00 – 20:00
Evento online via Redes Sociais
Os que estão no poder continuam a fazer promessas vagas e vazias para datas muito distantes, que são tarde demais. O que precisamos não são metas sem sentido para 2050 ou metas de zero líquido cheias de falhas, mas ações concretas e imediatas alinhadas com a ciência. Nosso orçamento de carbono está se esgotando. A crise climática já está aqui e só vai piorar, então, se quisermos evitar os piores cenários, as metas climáticas anuais e de curto prazo que incluam justiça e equidade devem ser priorizadas pelas pessoas no poder.
Já se passaram cinco anos desde que o Acordo de Paris foi assinado. Já se passaram 3 anos desde que o relatório alarmante do IPCC foi visto pelos olhos do público. Gostaríamos de poder dizer que as coisas melhoraram desde então, mas seria mentira. A crise está piorando e escalando, e a inação dos governos continua alimentando as chamas a cada minuto.
Em 1º de janeiro de 2018, tínhamos um orçamento de carbono de 420 Gt de CO2 para ter 67% de chance de ficar abaixo de 1,5ºC do aumento da temperatura média global. Neste momento, temos menos de 295 Gt restantes para emitir desse orçamento, já que atualmente emitimos cerca de 42 Gt de CO2 todos os anos, incluindo uso da terra. Isso significa que nosso orçamento acabará dentro de sete anos de business as usual contínuo.
Isso prova que metas distantes não fazem sentido já que nosso orçamento de carbono está à beira do esgotamento hoje. Elas dão a impressão de que ações estão sendo tomadas, quando na verdade não estão sequer à nossa vista.
Em 2020, tivemos o La Niña, que deveria ter esfriado a temperatura média global, mas em vez disso, esse ano está quase empatado com 2016, quando tivemos o efeito de aquecimento do El Niño, como o ano mais quente já registrado. Isso mais uma vez nos mostra que a crise climática não é algo distante no futuro. A ciência é clara: as mudanças climáticas estão exacerbando os desastres naturais ao tornar esses eventos mais fortes, mais intensos, mais frequentes e, portanto, mais destrutivos. As mudanças climáticas já estão destruindo a vida das pessoas nos dias de hoje. Os países com maior responsabilidade por nos colocar na crise climática são geralmente os menos afetados. Ondas de calor, secas, inundações, furacões, deslizamentos de terra, desmatamento, incêndios, perda de moradias e disseminação de doenças – é com isso que as pessoas que menos contribuíram para a crise climática estão tendo que lidar. As Pessoas e Áreas Mais Afetadas (MAPA ou Sul Global, BIPOC e setores marginalizados) estão se afogando, queimando e morrendo de sede.
Recentemente, vimos vários países se comprometendo com reduções de emissões aparentemente ambiciosas e promessas de alcançar emissões zero líquido. Isso geralmente soa muito impressionante, especialmente para países do Norte Global, isto é, até que você perceba os detalhes. Infelizmente, essas metas estão cheias de falhas, contas criativas e exclusão de fatores cruciais como emissões pelo consumo de bens importados, aviação internacional e transporte marítimo, bem como ciclos de retroalimentação e pontos de mutação como o metano sendo liberado pelo derretimento do permafrost. Essas promessas também se baseiam quase que exclusivamente no ano de 1990 – visto que é mais conveniente para os países da parte desenvolvida do mundo – apesar de que a ciência nos mostra que precisamos ter uma linha de base que esteja ao menos em 2010. As reduções nas emissões dos países da parte desenvolvida do mundo desde 1990 se deram em grande parte por eles estarem exportando suas fábricas para outras partes do mundo, onde a mão de obra é mais barata.
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Além disso, metas como essas podem causar mais danos do que benefícios, já que dão a falsa impressão de que ações adequadas ou até mesmo louváveis estão sendo tomadas, e enviam um sinal ao público em geral de que a crise climática está sob controle. Como se não bastasse, essa estratégia política permite que os líderes mundiais continuem com o business as usual, e coloca a responsabilidade nas mãos dos futuros líderes. Em essência, tudo isso é uma ilusão de que está havendo ação climática.
A ideia popular de cortar nossas emissões pela metade até 2030 ou alcançar emissões zero líquido (a partir da linha de base de 2010), é baseada em um orçamento de carbono que nos dá apenas 50% de chance de ficar abaixo de 1,5°C. Mas essas probabilidades presumem que os ecossistemas naturais, o oceano e as camadas de gelo permanecem estáveis, ou seja, que não cruzam os pontos de mutação, causando ciclos de retroalimentação que iriam acelerar o aquecimento. Isso se refere principalmente às emissões de incêndios florestais, morte da floresta por doenças e secas, o efeito Albedo causado desaparecimento do gelo marinho ou o rápido degelo do permafrost ártico com a liberação de metano. Essas probabilidades também não incluem o aquecimento já garantido que está oculto pela poluição tóxica do ar, e que por si só pode causar um aumento tão alto quanto 0,5-1,1ºC. Uma vez que esses números são globais, eles não incluem o aspecto de equidade – que é a essência do Acordo de Paris. Os países mais ricos se comprometeram a liderar o caminho, então é claro que eles precisam chegar ao nível zero de emissões muito mais cedo. Esses números, entretanto, dependem da futura remoção de enormes quantidades de CO2 da atmosfera com tecnologias que são muito improváveis de existir na escala necessária de tempo. Portanto, a chance de 50% é, na realidade, muito menos do que 50%.
Em 2020, vimos uma redução temporária e acidental das emissões globais de CO2 em 7% devido à pandemia do Coronavírus. No entanto, essa redução foi indiferente por causa de um sumidouro de carbono mais fraco. Esta é mais uma prova de que as chamadas emissões “zero líquido” ou “neutralidade carbônica”, é uma forma muito complexa, imprecisa e pouco confiável de medir as emissões no curto espaço de tempo que temos à nossa disposição.
E, sim, precisaremos do sequestro e da remoção de carbono por meio de novas técnicas e – o mais importante – reflorestamento e restauração de terras. Mas isso não pode ser uma alternativa para as reduções de emissões ou para compensar o que estamos emitindo agora ou iremos emitir no futuro. Isso precisa ser um complemento. Para ficarmos dentro dos níveis de segurança, precisaremos absorver o CO2 já emitido.
Se nós não agirmos agora, não teremos nem mesmo a chance de cumprir as metas de 2030, 2040 ou 2050 no futuro – o orçamento de carbono já estará completamente esgotado. O que precisamos agora não são promessas vazias ou metas distantes e hipotéticas, mas metas anuais obrigatórias de carbono e cortes imediatos nas emissões em todos os setores de nossa economia. Quando sua casa está pegando fogo, você não espera 10, 20 ou 30 anos antes de chamar o corpo de bombeiros. Em caso de emergência, você age o mais rápido que puder.
A crise climática é a maior ameaça que a humanidade já enfrentou. Ela não pode ser vista nem resolvida através de uma única perspectiva em busca de soluções fáceis. Nosso presente e futuro não podem ser deixados para acordos cheios de falhas. Não seremos enganados pelas palavras vazias dos responsáveis, nós sabemos que o diabo mora nos detalhes. Acreditamos que hoje, a liderança responsável deve ser baseada na honestidade, transparência e ação climática imediata, visível por meio de metas climáticas anuais obrigatórias. Ações imediatas devem ser tomadas, mas nunca às custas do povo. Nossa comunidade global não pode ser deixada para trás, ela tem que fazer parte da mudança para melhor. É por isso que no dia 19 de março estaremos fazendo greves novamente, unindo forças sob o mesmo objetivo – chamando as lideranças mundiais para que ajam imediatamente para mitigar os impactos da crise climática hoje e proteger nosso futuro. Líderes mundiais devem abandonar acordos desatualizados, eliminar os combustíveis fósseis e trabalhar em direção à uma transição justa, com um sistema realmente sustentável e que se adeque aos limites planetários. Os que estão no poder devem parar de enviar sinais falsos de que estão fazendo o suficiente para o público, e agir como convém a uma verdadeira liderança. O tempo para promessas vazias acabou, e agora é a hora de agirmos como se nossas vidas dependessem disso, porque elas dependem.