Usina Hidrelétrica de Itaipu – Foto: Pixabay
ARTIGO
POR – JULIA FONTELES*, ESPECIAL PARA NEO MONDO
Em comemoração ao dia internacional da água, vale a pena lembrar o papel das hidrelétricas no desenvolvimento da nossa civilização. Considerado um dos métodos mais antigos de geração de energia, muitos países dotados de recursos naturais apostaram nessa tecnologia durante o século 20. Equivalente a 1.308 GW de capacidade de energia mundial, as hidrelétricas representam 15,9% da energia renovável instalada ao redor do mundo.
A bombagem hidrelétrica corresponde a 94% da tecnologia de estocagem de energia, e sua penetração no mercado está bem à frente da bateria de lítio. Funcionando como uma bateria comum, o armazenamento por bombagem se aproveita de períodos de chuva e maior fluidez para a reciclagem e movimentação da água das hidrelétricas do nível inferior ao nível superior da usina. Isso permite que em períodos de seca ou horas de pico, o movimento da água continue suprindo a demanda de energia. De acordo com a Associação Internacional de Hidrelétricas (IHA sigla em inglês), a tecnologia pode armazenar até 9.000 GW por hora de eletricidade global, tornando-se indispensável para compensar a intermitência das renováveis.
Razão pela qual o Brasil mantém mais de ⅔ da sua matriz energética limpa, as hidrelétricas são essenciais para a economia brasileira, abastecendo ¾ da população. Como terceiro colocado no ranking de maiores usinas do mundo, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em 2018 como segundo país com maior geração de energia hídrica por capacidade instalada. A infraestrutura ultrapassada das usinas, assim como sistemas de transmissão antigos, custam caro para a população e requerem soluções inovadoras para a manutenção do sistema.
Uma alternativa pode ser a construção de novas linhas de transmissão, resultando em uma maior integração da matriz. Outra solução seria aumentar os investimentos na tecnologia de armazenamento por bombagem. Atualmente, dos 109.058 MW de capacidade hídrica instalados no Brasil, apenas 30 MW correspondem à tecnologia de armazenamento, equivalente a menos de 1%. Tal investimento beneficiaria não só as hidrelétricas existentes, mas também uma maior penetração de energia solar e eólica na matriz, ajudando a fornecer energia excedente na falta do sol e vento.
A construção de novas hidrelétricas também tem sido considerada um tópico controverso entre especialistas de energia renovável. Devido aos danos ambientais que resultam durante a construção da infraestrutura hídrica, como a destruições das comunidades vizinhas e alterações nas correntes aquíferas, a construção de hidrelétricas de grande porte tem sido contestada por ambientalistas. A maior usina hidrelétrica se encontra na China e tem uma capacidade de geração de 22,5 GW.
Na tentativa de reverter danos ambientais, o foco das novas hidrelétricas tem sido as usinas de pequeno porte. O departamento de energia norte-americano é um dos maiores financiadores da próxima geração de hidrelétricas, responsável pela iniciativa HydroNext. Beneficiária da bolsa do HydroNext e fundada no estado do Oregon, a empresa Natel Energy oferece uma nova tecnologia de turbinas que representa o futuro das hidrelétricas de pequeno porte. A novidade da turbina é que ela permite a passagem segura de peixes do nível superior para inferior no sistema, sem reduzir a eficácia da geração de energia. Segundo a fundadora da empresa, Gia Schneider, o objetivo é fornecer um sistema pequeno e livre de danos ambientais para geração segura de energia.
A iniciativa é especialmente atraente para países e comunidades menores na Europa, como Noruega e Reino Unido. Esses países procuram ampliar a parcela de energia limpa em suas respectivas matrizes, mas carecem de acesso a recursos naturais como sol na maior parte do ano. As novas tecnologias podem reduzir a resistência dos ambientalista e garantir mais investimentos para a geração de energia por meio de hidrelétricas.