Vista aérea do Monumento Natural das Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro – Foto: Athila Bertoncini/Projeto Ilhas do Rio
POR – DUDA MENEGASSI ((O))ECO / NEO MONDO
O arquipélago carioca, protegido por unidade de conservação desde 2010, foi reconhecido internacionalmente como um Hope Spot pela Mission Blue, iniciativa liderada por Sylvia Earle
Liderada por Sylvia Earle, uma das maiores personalidades mundiais em conservação marinha, a iniciativa Mission Blue (Missão Azul) busca reconhecer locais que, por sua biodiversidade e importância para os mares, ganham o título de Hope Spots, ou seja, pontos de esperança. Desde 2016, quando foi criada, a aliança internacional já reconheceu 130 locais em todo planeta. E a mais recente adição da lista está em território brasileiro, mais especificamente, em águas cariocas: o arquipélago das Cagarras, conjunto de ilhas protegido como Monumento Natural desde 2010, e as águas do entorno – do Leblon à entrada da Baía de Guanabara. O título de Ponto de Esperança tem como objetivo dar visibilidade internacional e ajudar a reunir esforços globais para garantir a conservação do local.
É o segundo brasileiro que entra na lista, que já contava com Abrolhos, no litoral da Bahia. Com a nomeação, o Monumento Natural das Ilhas Cagarras – a primeira unidade de conservação marinha do Rio de Janeiro – se junta a outros locais icônicos como Galápagos, no Equador, e a Grande Barreira dos Corais, na Austrália, com o título global de Hope Spot.
Para se tornar um Ponto de Esperança, os critérios são: alta abundância e diversidade de espécies, habitats ou ecossistemas; populações particulares de espécies raras, ameaçadas ou endêmicas; potencial para reverter danos de impactos humanos negativos; presença de processos naturais, como grandes corredores de migração ou áreas de desova; valores históricos, culturais ou espirituais significativos; e importância econômica para a comunidade. Ou seja, o essencial é que os locais forneçam esperança, literalmente, para a conservação dos oceanos.
A candidatura do arquipélago carioca foi feita pela bióloga marinha Aline Aguiar, do Projeto Ilhas do Rio/Instituto Mar Adentro, que atua na conservação e pesquisa do Monumento Natural (MONA) das Ilhas Cagarras. “Me debrucei sobre as informações e resultados de pesquisa do Projeto Ilhas do Rio e percebi que a Unidade de Conservação e suas águas no entorno atendiam a praticamente todos os critérios da Mission Blue para nomeação de um Hope Spot”, conta. Entre os atributos estão: alta diversidade de espécies endêmicas e ameaçadas; um dos maiores ninhais de aves marinhas do Atlântico Sul; remanescentes da Mata Atlântica com características pristinas; fauna marinha de importância econômica para pesca; corredor migratório para baleias; presença de um sítio arqueológico e grande potencial para o turismo sustentável.
“O MONA Cagarras é um local muito especial, pois mesmo tão próximo de uma grande metrópole ainda funciona como refúgio da biodiversidade. Suas águas protegidas ajudam na recuperação de populações de peixes, crustáceos e moluscos, muitos de importância comercial”, continua a bióloga. “A unidade de conservação também se destaca por sua importância cultural. Além da presença de um sítio arqueológico Tupiguarani na Ilha Redonda, as ilhas são um cartão postal da cidade e movimentam a economia local através do turismo ecológico”, completa.
Além do arquipélago de Cagarras, o título de Ponto de Esperança se estende também às praias cariocas como Leblon, Copacabana e Vermelha, além da ilha de Cotunduba, na entrada da Baía de Guanabara. Para ampliar o escopo, a força-tarefa da candidatura se uniu com o jornalista e mergulhador Caio Salles, responsável pelo projeto Verde Mar, que atua em praias urbanas do Rio. Para ele, a inclusão da enseada da Praia Vermelha é um passo importante para fortalecer a proteção na região. Caio destaca ainda que existe uma proposta de criação do Santuário Marinho da Paisagem Carioca, que inclui a enseada, em andamento com a prefeitura do Rio de Janeiro.
“Parabenizo Aline, Caio e seus parceiros por usarem seus conhecimentos na busca por maior proteção à vida marinha nas Ilhas Cagarras e nas águas circundantes. Nós, como humanos, dependemos do oceano para nos mantermos vivos – e agora é a hora de usar nosso poder para protegê-lo”, declarou a oceanógrafa presidente da Mission Blue, Sylvia Earle.