Desmatamento na Amazônia – Foto: Greenpeace
POR – ROSENILDO FERREIRA, PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO e NEO MONDO)
Os brasileiros, em geral, têm muito pouco a comemorar no Dia do Meio Ambiente
Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), indicam um aumento de 41% na área de alertas de desmatamento na Amazônia em relação a igual período de 2020. Trata-se do pior maio da série histórica!
No acumulado de 2021, ampliou-se em 2.337 Km² de áreas degradadas na região. Os principais vilões do meio ambiente na região são a extração ilegal de madeira e a criação de gado em terras públicas, além da mineração em reservas indígenas.
E como na natureza toda ação está sujeita a uma reação, os cientistas dizem que o desmatamento das áreas de floresta é o responsável pelo fraco volume de chuvas deste ano. A prolongada estiagem acendeu o alerta sobre a possibilidade real de um Apagão Elétrico. Afinal, os rios movimentam turbinas responsáveis por 58,34% da capacidade de geração do país.
Em meio a tantas notícias ruins, contudo, é possível enxergar diversos dados positivos. Um deles, ainda na área energética, é o recorde de geração a partir de usinas eólicas, movidas pela força dos ventos. Em março, esse segmento respondeu por 10% da produção de energia em abril, de acordo com a Aneel (ver quadro, abaixo).
Denúncias
Mas enquanto o governo federal se vê às voltas com denúncias do envolvimento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em ações para exportação ilegal de madeira, sem contar o desmonte dos órgãos de controle, a iniciativa privada vai se ajustando à nova realidade. Uma realidade onde os principais consumidores globais de produtos agrícolas e industrializados, especialmente na Europa, já rejeitam itens produzidos sem cuidados com a sustentabilidade social e ambiental.
É neste ponto que cresce a importância da adoção aos princípios do ESG, acrônimo para Meio Ambiente, Social e Governança, da sigla em inglês. A partir de um empurrãozinho das grandes gestoras de ativos, como a gigante americana Black Rocks, que estão privilegiando investir em companhias sustentáveis, diversas empresas passaram a adotar ou intensificar os controles sobre os impactos causados por suas atividades.
Agora, não basta apenas que o produto ou serviço tenha qualidade e preço competitivo. Cada vez mais, as barreiras regulatórias e a preferência do consumidor estarão focadas nos componentes do ESG. Especialmente no que se refere às atividades que causam maior impacto ambiental direto, como a agricultura e a pecuária.
O nível maior de exigência do mercado está abrindo espaço para inovações de toda ordem. Na área de saúde animal, por exemplo, a subsidiária da americana Elanco vem investindo fortemente em produtos que melhorem a performance nutricional do rebanho. “Nossos produtos visam reduzir o impacto da atividade agropecuária, além de garantir a saudabilidade do produto final para os consumidores”, explica Danielle Modena, gerente-sênior de assuntos corporativos da empresa.
A lógica dos compostos (suplementos e antibióticos) comercializados pela empresa é que a produção de aves, suínos e bovinos se dê em um período menor de tempo. “O animal saudável é mais produtivo e se desenvolve de forma mais rápida”, reforça a executiva da empresa que é uma das estrelas de um segmento que movimenta US$ 44 bilhões, incluindo os pets.
Foto – Pixabay
Da porta para dentro
Além de atuar da “porta para fora”, os grandes players globais agrícolas estão fazendo correções de rota da “porta para dentro”. Afinal, reduzir as emissões de gases que agravam o efeito estufa também pode ser um negócio lucrativo do ponto de vista financeiro. Apesar de o mercado de créditos de carbono estar praticamente parado, dependendo de regulamentação, no Brasil, e ajustes, na Europa, especialmente no que se refere à precificação do carbono, este filão continua sendo atrativo.
Especialmente para quem atua no segmento de combustíveis renováveis, como é o caso da paulista Atvos, segunda maior produtora de etanol do país, atrás da conterrânea Raízen. Na safra 20/21, a Atvos se firmou como a principal emissora de títulos de descarbonização (conhecidos pela sigla Cbios), responsável por uma fatia de 2,4 milhões de títulos.
Estes certificados atestam a qualidade das emissões da empresa, representando o volume de gás carbônico que deixou de ser lançado na atmosfera, no período apurado. “Temos potencial para contribuir com cerca de 10% do volume total dos créditos de descarbonização estabelecidos como meta do Renovabio para este ano”, disse em comunicado Marcelo Mancini, vice-presidente comercial da Atvos.
Iniciativas exitosas em qualquer escala são desejadas e sempre bem-vindas. No entanto, neste Dia Mundial do Meio Ambiente temos a oportunidade ímpar de fazer um check list e observar o que está sendo feito de forma correta, o que se resume a maquiagem verde e os desafios que temos pela frente.
Afinal, não podemos perder o foco e imaginar que a situação é tranquila. Ao contrário, a Organização das Nações Unidas indica que estamos muito longe de atingir os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Foto – Pixabay