Vale do Silício, Califórnia, Estados Unidos – Foto: Divulgação
ARTIGO
POR – ELLEN CARBONARI*, PARA NEO MONDO
Quando retomamos a história dos ambientes de inovação, voltamos a 1960 quando instalações antigas de uma fábrica foram disponibilizadas como infraestrutura para que empresas iniciantes compartilhassem produtos e competências. Este movimento, realizado por Joseph Mancuso, inspirou o Vale do Silício a oferecer suporte a jovens universitários e graduados a desenvolverem seus projetos de base tecnológica. A primeira geração de incubadoras de empresas oferecia espaços físicos compartilhados que diminuíssem os custos e aumentassem a troca de informações entre organizações com desafios similares; no Brasil este movimento é iniciado na década de 80. Com a ampliação destes ambientes, as incubadoras passaram a oferecer consultorias técnicas relevantes para o desenvolvimento das empresas incubadas, marcando a segunda geração de incubação. A 3a geração chega com o fortalecimento de redes de networking e de recursos, quando em 1990 surgem os fundos setoriais focados na geração de resultados escaláveis.
O ecossistema inovador, na medida em que se desenvolve, passa a se estruturar a partir de uma vasta diversidade de atores e políticas públicas de incentivo à inovação tais como a Lei da Inovação de 2004 e a Lei do Bem de 2005. Desde então, o desafio destes ecossistemas emergentes é o de compreender suas identidades e como contribuem para a inovação. Agora, na urgência e tendência de um mundo digitalizado, observa-se a necessidade de desenvolver melhores funcionalidades e habilidades para organizar, incentivar e entregar valor compartilhado em um ambiente online.
Para compreender como estes ambientes podem melhor provocar o desenvolvimento econômico e social de um país, território ou comunidade, precisamos construir uma espécie de GPS, que ofereça dados e informações estratégicas para a melhor alocação de recursos e incentivos.
Mas o que é um ecossistema de inovação?
Ecossistema de inovação é o termo usado para descrever os vários participantes essenciais para a inovação. Estão inclusos universidades, governos, corporações, aceleradores de startups, capitalistas de risco, investidores privados, fundações, empreendedores, mentores e a mídia. Entidades locais, estaduais e federais também podem e devem participar do desenvolvimento do ecossistema e, idealmente, devem ser orientados a resolver problemas reais de forma articulada através do mapeamento de lacunas e oportunidades estratégicas e coletivamente priorizadas.
Esta alocação inteligente de recursos pode ser feita através de um mapa destes ecossistemas. O mapa oferece uma fotografia do território e que, ao trazer o todo para uma escala reduzida, possibilita a identificação de elementos-chave. O ganho ao utilizar um mapa é a possibilidade de reduzir uma realidade complexa para um nível operacional manejável. Quando aplicado a ecossistemas de inovação, um mapa permite identificar os atores mais relevantes e como estão estruturadas as dinâmicas que contribuem para a promoção da inovação, apontando assim as melhores rotas para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico.
O que fazer a partir daí? Gestores públicos e alianças empresariais perguntam-se como saber por onde começar a desenhar a estratégia de ativação destes ecossistemas. Faz mais sentido investir em um coworking ou em um laboratório de inovação com recorte setorial? E para além disso, como garantir que as intervenções desenhadas serão sustentáveis a longo prazo e contribuam de forma verdadeira para o ambiente e sociedade que estão inseridos, rompendo com antigas formas de reprodução da desigualdade e deterioração ambiental? Questionamentos como estes são levantados por autoridades do ecossistema, como Luciana Brandão, consultora de inovação social e mestre em Sociologia Ambiental.
O mapa nos fornece detalhes sobre os pontos de partida, mas não corresponde à dinamicidade do território; ademais, nos ecossistemas de inovação, estamos ainda começando a desenvolver um viés de sustentabilidade como potencial propulsor do desenvolvimento econômico e social. Por isso, a dica vai para os que querem iniciar o caminho do desenvolvimento que valoriza a vida através da inovação: identifique recortes prioritários, faça um bom mapa de atores e estude as tendências de mercado que possam indicar os melhores investimentos sustentáveis.
Através destes três passos iniciais é possível identificar alavancas do ecossistema de inovação que valorizam potencialidades, saberes e tecnologias locais, ancestrais e sociais já instaladas no território, comunidade, região ou país. Estes passos ajudam a identificar que a inovação pode surgir de onde menos esperamos e podem resolver problemas relevantes como os desertos alimentares, territórios urbanos que não possuem grande diversidade e/ou produção alimentar de qualidade para seus habitantes. A inovação pede conexão e mais conexão indica mais prosperidade. Através de conexões “não óbvias” entre estudantes universitários, cooperativas e grandes redes de distribuição é possível gerar um mercado emergente, com economia compartilhada e circular em torno da cadeia agrícola sustentável, por exemplo.
Os desafios são muitos e as oportunidades também. Eis a diversão de se trabalhar com ecossistemas de inovação. O processo nos fornece infinitas possibilidades público-privadas-participativas de resolver problemas reais, adaptáveis e atentas às particularidades de cada realidade e ainda mais, a possibilidade real de transformação e de geração de impacto positivo escalável.