POR – GREENPEACE BRASIL
Há 50 anos, um time de ativistas subiu a bordo de um pequeno navio a fim de impedir a explosão de uma bomba nuclear. Ninguém, naquele pequeno grupo de 12 pessoas, poderia imaginar que essa viagem daria início a uma organização global que mudaria o mundo: em 15 de setembro de 1971 nasceu o Greenpeace.
Irving Stowe, co-fundador da organização, descreveu seu plano para bloquear os testes da bomba atômica na ilha das Aleutas como “uma viagem pela vida — e pela paz”.
Hoje, o Greenpeace completa 50 anos na linha de frente da luta pela proteção do meio ambiente. Mais do que nunca, é a hora de olhar para o futuro, relembrando as conquistas do passado.
Agradecemos aos nossos colaboradores, aqueles que estão em campo, nas ruas, nos mais de 50 escritórios espalhados pelo mundo, aos que estão na Amazônia e no Pacífico ou combatendo incêndios na Rússia, e também àqueles que buscam trazer a verdade por trás dos problemas, trabalhando em busca de soluções. Agradecemos a todos que possibilitam que o trabalho em defesa da vida continue acontecendo, aos doadores que fazem suas contribuições todos os meses, aos que nos emprestam suas vozes e seu tempo, aos que marcham ao lado dos defensores do clima, aos ativistas e aos cientistas.
O problema não é apenas das próximas gerações: é, mais do que nunca, um problema da geração atual. Aqui e agora, pessoas de todo o mundo precisam se unir em um movimento global para diminuir as consequências das mudanças climáticas e evitar o colapso da biodiversidade, para enfrentar as estruturas de poder que permitem a destruição ambiental e para exigir um futuro verde, pacífico e justo.
Os últimos 50 anos nos prepararam para agora sermos o mais criativos, implacáveis e unidos quanto possível. E, para comemorar esse meio século de história, reunimos abaixo alguns marcos dessa trajetória.
Momentos notáveis
1971: a viagem que deu início a tudo
Capitão John Cormack a bordo do navio © Greenpeace / Robert Keziere
A primeira viagem do Greenpeace ocorreu em 15 de setembro de 1971, quando o barco Phyllis Cormack (também chamado de “Greenpeace”) saiu de Vancouver, Canadá, para a Ilha Amchitka com 12 pessoas a bordo, tendo como objetivo interromper os testes nucleares na região.
Interceptados pela guarda costeira dos Estados Unidos, o barco e a tripulação nunca chegaram à ilha e consideraram sua viagem um fracasso; contudo, ao retornar para Vancouver, foram recebidos por centenas de apoiadores. A ação criou tanta pressão sobre o governo dos Estados Unidos, que os testes foram cancelados e a Ilha Amchitka continua sendo uma reserva natural até hoje.
1974: França põe fim a testes nucleares no Pacífico Sul
Tudo começou com uma tripulação de cinco pessoas que saiu da Nova Zelândia num barco batizado de “Greenpeace-III” para impedir testes nucleares promovidos pelo governo francês. Em seguida, foram para o Atol de Mururoa pressionar pela suspensão dos testes. David McTaggart e Neil Ingram, ativistas que estavam no barco, foram agredidos pela marinha francesa e as imagens do ataque ganharam o mundo. O incidente causou indignação e, em 1974, a França anunciou que encerraria seu programa de testes nucleares atmosféricos. A decisão acabou com todos os testes no Oceano Pacífico.
1982: Acordo acaba com legalidade da comercialização de baleias
Depois de uma campanha de 10 anos, incluindo inúmeros confrontos no mar entre ativistas do Greenpeace e baleeiros, a Comissão Baleeira Internacional (International Whaling Commission, IWC) finalmente pôs fim à caça comercial de baleias.
1985: O bombardeio do Rainbow Warrior pelo governo francês
Em 10 de julho de 1985, o navio do Greenpeace “Rainbow Warrior” estava atracado em Auckland, Nova Zelândia, quando agentes do serviço secreto francês plantaram duas bombas em seu casco. A explosão resultante afundou o navio e matou Fernando Pereira, fotógrafo do Greenpeace, aos 35 anos de idade. O primeiro-ministro francês Laurent Fabius foi à TV e assumiu que agentes do Serviço Secreto afundaram o navio.
1992: Surgimento do Greenpeace Brasil
Há quase 30 anos, voluntários e ativistas do Greenpeace fincaram 800 cruzes brancas próximas à Usina Nuclear de Angra para chamar a atenção do risco que a presença de uma usina traz, fazendo referência à tragédia de Chernobyl. Essa foi a primeira de muitas ações públicas da organização no Brasil. Com uma rede enorme de apoio, seguimos desde então enfrentando desmatadores ilegais da Amazônia, as poderosas indústrias do petróleo e de energia nuclear, produtores de transgênicos, além de projetos de infraestrutura babilônicos que fazem graves ameaças ao meio ambiente e às comunidades tradicionais.
1995: O oceano não é um lixo a céu aberto
Uma das ações mais conhecidas do Greenpeace, a ocupação da Plataforma de Petróleo Brent Spar, ocorreu no Mar do Norte em junho de 1995. Os ativistas ocuparam a plataforma por mais de três semanas como parte de uma campanha mundial coordenada, pressionando a proposta da Shell de “descarte em alto mar” da plataforma, que incluía o despejo de 11.000 toneladas de óleo no oceano. A campanha levou a Shell a abandonar seus planos de criar um lixão a céu aberto.
1999: Madeireiras asiáticas desistem de desmatar
De olho nas riquezas naturais do Brasil, várias madeireiras malaias se instalaram por aqui. A crescente exploração ilegal fez com que o Greenpeace produzisse um relatório chamado “À Margem da Lei”, que denunciava crimes de exploração madeireira, fraude fiscal e exportação ilegal de toras. Assustadas com a repercussão da denúncia, as companhias reduziram seus investimentos em solo brasileiro e em pouco mais de dois anos, graças à pressão do Greenpeace e da comunidade local, muitas das madeireiras malaias decidiram remover suas operações do Brasil.
2004: Demarcação da terra indígena dos Deni
Numa investigação sobre a extração ilegal de madeira no Amazonas, o Greenpeace descobriu que uma madeireira da Malásia, a WTK, havia comprado 313 mil hectares de floresta. Quase 50% da área se sobrepunha à terra que pertencia ao povo indígena Deni. Os Deni agiram e foram à luta. Com o apoio do Greenpeace, eles começaram, em 2001, a demarcar a área por conta própria. Depois de muita pressão pública e exposição na imprensa, veio a recompensa: a demarcação oficial do território ocorreu em agosto de 2003, com a instalação de marcos e placas identificando a área com o selo do governo federal.
2006: Não à soja produzida em área desmatada
Após longa negociação, o Greenpeace e outras ONGs ambientalistas conseguiram uma importante vitória para a preservação da floresta brasileira. Em julho de 2006 as principais traders em atividade no Brasil assinaram a Moratória da Soja, que estabelece o compromisso dessas corporações a não mais comprarem soja produzida em áreas recém desmatadas da Amazônia. Quatro traders e membros da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais aderiram ao acordo. A Moratória, que permanece até os dias de hoje, é considerada internacionalmente uma das mais importantes vitórias do Greenpeace no mundo.
2010: Menos Kit Kat, mais floresta
Depois de semanas de pressão intensa por milhares de pessoas pelas redes sociais e ações não violentas, a Nestlé concordou em suspender a compra de óleo de palma de fontes que destroem as florestas tropicais da Indonésia. O Greenpeace descobriu que o óleo utilizado para fazer o KitKat, famoso chocolate da marca, era fornecido pela empresa Sinar Mars, conglomerado responsável pela destruição das florestas tropicais da Indonésia.
2016: Cancelamento da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós
Realizamos uma campanha que contou com mais de 1 milhão de apoiadores e ajudou a fortalecer a luta do povo Munduruku para barrar o megaprojeto da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Se construída, a usina iria alagar parte do território desse povo, ameaçando seu modo de vida e destruindo a floresta no coração da Amazônia.
2017: Proteção dos Corais da Amazônia
Em 2017, com o objetivo de defender a diversidade de vida recém descoberta e ameaçada pela exploração de petróleo, o Greenpeace lançou a campanha “Defenda os Corais da Amazônia”. Foram mais de 2 milhões de pessoas em 21 países mobilizadas para impedir a exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas.
2021: Decisão inovadora do tribunal em caso climático contra a Shell
Em veredicto histórico, o tribunal holandês determinou que a Shell deveria reduzir suas emissões de CO2 até 2030. Essa é a primeira vez que uma grande empresa de combustíveis fósseis foi responsabilizada por sua contribuição para as mudanças climáticas e ordenada a reduzir suas emissões de carbono em toda a sua cadeia de abastecimento.
Veja aqui uma linha do tempo com as principais ações do Greenpeace pelo mundo (conteúdo em inglês)
Greenpeace hoje
O primeiro grupo de ativistas do Greenpeace plantou uma semente que cresceu e se tornou uma organização com escritórios em mais de 50 países. Junto com centenas de milhões de apoiadores, trabalhamos como parte de um movimento global que luta para garantir um futuro verde e pacífico para todos nós.
Com o tempo, a mesma esperança e ação que inspirou aquela primeira viagem do Greenpeace assumiu muitas formas, desde o apoio na Amazônia e atuação no Pacífico, até o combate a incêndios na Rússia, expondo práticas de pesca ilegal na África Ocidental e fazendo campanhas pela redução de emissões em todo o mundo.
E nossos princípios básicos permaneceram: a não violência e a independência absoluta de empresas, governos e partidos políticos na ação em defesa do meio ambiente, com a esperança de que o futuro pode ser melhor.
Ao longo dos anos, o Greenpeace nos aprimoramos na abordagem dos problemas e discutimos soluções junto da sociedade. Trabalhamos para enfrentar as mentalidades e estruturas de poder que estão levando à destruição de nosso meio ambiente e do clima, reconhecendo que essa destruição está, e sempre esteve, intrinsecamente ligada à desigualdade e à injustiça. Acreditamos numa atuação cada vez mais conjunta com aliados ao redor do mundo para resolver problemas globais.
Aqui no Brasil, com quase 30 anos de ativismo, seguimos comprometidos e atuando em busca de um mundo mais justo e solidário, que respeite o meio ambiente e seus povos originários.