Henry Ford – Imagem: Pixabay
POR – CÉSAR COSTA*, ESPECIAL PARA NEO MONDO
Em 1900, a venda de automóveis nos EUA ainda era muito limitada. Estes eram bens extremamente caros, produzidos por encomenda, comprados tanto por seu status quanto pela sua funcionalidade prática. Portanto, poucas eram as pessoas que tinham condições de acessar essa tecnologia, visto que a economia norte-americana à época não era tão abastada como nos dias de hoje.
A baixa demanda por carros não justificava investimentos em infraestrutura nem atraia jovens talentos para trabalhar em uma indústria ainda tão pouco intensiva em mão de obra. Assim, poucas eram as estradas pavimentadas, raros eram os postos de gasolina e ampla era a profusão de esterco derivada do principal meio de locomoção nas ruas da cidade de Nova Iorque – estima-se que o uso de cavalos como meio de transporte gerava aproximadamente 45 toneladas de esterco mensalmente.
Foi a partir do empreendedor Henry Ford e sua inovação através do Modelo T que esse contexto começou a mudar. Mais do que a novidade em si, a qual todos já aprendemos na escola que oportunizou maior acesso a automóveis e uma revolução trabalhista, ela contribuiu amplamente para o desenvolvimento dos EUA naquele momento.
A produção de automóveis passou de aproximadamente 20 mil carros em 1909 para 2 milhões em 1922. A partir desse aumento da demanda por automóveis, houve uma profunda transformação e crescimento na economia norte-americana. Alavancaram-se indústrias fornecedoras de insumos para a produção, como aço, vidro, madeira, borracha, entre outras. Essa ampliação na cadeia de valor possibilitou aumento no número de postos de gasolina, pavimentação de estradas, investimentos em ferrovias e embarcações para exportar os produtos, além de uma maior procura por talentos em áreas de design, vendas, engenharia, publicidade, distribuição, entre diversas outras, levando mais jovens a buscarem qualificação junto a universidades.
Este e tantos outros exemplos fizeram o que os EUA são hoje, uma das maiores potências mundiais. O impacto da inovação no desenvolvimento socioeconômico de regiões é incontestável. Assim, é clara a importância de empreendedores e empresas constantemente investirem em inovação não só pelo seu próprio crescimento, mas também pela prosperidade que geram para o seu entorno, criando empregos qualificados, novas profissões, novas indústrias para fornecer insumos e impostos para que o governo invista no bem-estar da sociedade.
Foto – Pixabay
É por essa tese de desenvolvimento socioeconômico e geração de prosperidade através da inovação que me capta a atenção os movimentos empresariais focados em desenvolver seu ecossistema regional, como o Instituto Hélice em Caxias do Sul/RS, o Instituto Caldeira em Porto Alegre/RS, a Aliança Empresarial em Passo Fundo/RS. Esses três grupos somam mais de 50 empresas e instituições de ensino que estão buscando potencializar a inovação em suas organizações, conectar-se e contribuir junto ao ecossistema em que estão inseridas.
O Instituto Hélice foi criado em 2018 a partir de quatro empresas da serra gaúcha que resolveram fazer uma experiência: trabalhar de forma conjunta para se conectarem com a nova economia, transformando a mentalidade de escassez para uma de abundância. As conexões que fizeram entre si e com o ecossistema para aumentarem sua maturidade de inovação geraram resultados importantes que atraiu mais organizações, contabilizando 19 associadas atualmente.
Os investimentos que essas organizações estão fazendo gerará cada vez mais interesse, proporcionando maior desenvolvimento para o ecossistema. Por exemplo, algumas das empresas associadas estão explorando aplicações de grafeno para criarem inovações, o que está gerando demanda para o UCSGRAPHENE, a primeira e maior planta de produção de grafeno em escala industrial da América Latina, a qual pertence à Universidade de Caxias do Sul.
Outras grandes empresas associadas ao Hélice estão investindo no futuro da mobilidade. Recentemente, a Marcopolo lançou o primeiro ônibus totalmente elétrico em operação no Rio Grande do Sul. Além disso, está criando novos mercados através do Marcopolo Rail, que avançou no setor metroferroviário com o lançamento do seu primeiro VLT.
Com estes e tantos outros exemplos, imagine o impacto em formação de mão de obra qualificada para criar e produzir essas inovações, os incentivos à evolução de pesquisa aplicada junto às universidades locais, a geração de negócios para startups que podem apoiar estes mercados, a atração e retenção de talentos para trabalhar nas empresas inovadoras ou empreender, a ampliação de oferta de bares, restaurantes e outros meios de lazer para a população que reside na região que está se desenvolvendo, a rede hoteleira que será ampliada a partir do turismo de negócios, entre muitos outros impactos que as inovações dessas organizações estão se preparando para criar.
O fomento do empreendedorismo é importante para o desenvolvimento de ecossistemas de inovação, porém a potencialização do mesmo em grandes organizações tem um impacto enorme e de menor prazo na geração de prosperidade de regiões. Portanto, devemos garantir que as grandes organizações do nosso ecossistema local tenham um compromisso firme e permanente com a inovação.
*César Costa – Sócio e diretor de inovação corporativa da Semente Negócios, administrador pela UFRGS, Mestre em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade pelo PPGA/UFRGS, estudou management na Lund University, na Suécia e Strategic Management & International Business na University of La Verne, nos EUA. É Coach Profissional e Analista Comportamental formado pelo Instituto Brasileiro de Coaching e mentor no InovAtiva Brasil.