Desmatamento na Amazônia – Foto: Araquém Alcântara
POR – PLANET TRACKER, COM ILUSTRAÇÕES DE NEO MONDO
Mudanças climáticas impulsionadas pelo desmatamento ameaçam a posição do Brasil como principal produtor agrícola, alerta Planet Tracker
Exposto ao risco financeiro relacionado ao meio ambiente, os investidores em títulos soberanos, ações e dívidas do Brasil devem pressionar o governo brasileiro e o setor de agronegócio para interromper o desmatamento e proteger seus retornos.
O desmatamento está gerando um ciclo de feedback negativo no Brasil, o que está aumentando os riscos para os investidores em títulos soberanos do Brasil, bem como para investidores em ações e dívidas que apóiam empresas em toda a economia do Brasil, de acordo com um novo relatório do think tank financeiro Planet Tracker.
A mudança nos padrões de chuva induzida pelo contínuo desmatamento na Amazônia está encurtando as estações chuvosas e diminuindo os níveis de precipitação, ameaçando a produtividade das safras. Se os agricultores responderem às mudanças nos padrões de chuva induzidas pelo desmatamento desmatando ainda mais terras, eles irão exacerbar ainda mais essas mudanças nas chuvas, causando mais perdas que irão compensar quaisquer ganhos de curto prazo percebidos de terras recentemente desmatadas.
A economia do Brasil depende cada vez mais das exportações de soja e milho, com a soja e o milho representando quase um quinto do total das exportações em 2018 – equivalente a 2,6% do PIB – e a dupla safra é uma parte vital disso. Desde 2008, a dupla safra – usando as mesmas reservas de solo para produzir duas safras consecutivas – gerou maiores retornos para os agricultores do Brasil e permitiu ao país manter sua posição como um exportador líder de soja e milho. Mas a prática também traz maior risco: qualquer atraso na colheita da primeira safra significa que a segunda safra tem menos tempo do plantio à colheita – aumentando o risco de uma safra quebrada causada pela mudança nos padrões de chuvas na região. Já no estado de Rondônia, o início da estação das chuvas mudou, em média, 11 dias depois nas últimas três décadas.
Colheita de milho – Foto: Divulgação
Embora expandir a quantidade de terra usada possa parecer a resposta óbvia para a redução da produção causada pela mudança climática, isso exigiria mais desmatamento. E não só a maior parte disso teria que ser ilegal, mas há um risco significativo de que isso levasse a um ciclo de feedback negativo, reduzindo ainda mais as chuvas que são essenciais para a agricultura do Brasil, bem como para sua energia hidrelétrica e rio sistemas de transporte. Além disso, o aumento associado da frequência de dias de temperatura extrema afetará a saúde e a produtividade do trabalhador em toda a economia brasileira, tornando difícil para os investidores evitar o impacto.
“Se o desmatamento continuar, a capacidade do Brasil de dobrar a safra pode ser prejudicada, prejudicando a renda dos agricultores e perdendo ao país bilhões em receitas de exportação de soja e milho”, comenta Peter Elwin, Diretor de Renda Fixa e Chefe do Programa de Uso de Alimentos e Terra da Planet Tracker. “Para os investidores em títulos soberanos do Brasil e investidores em ações e dívidas que apóiam qualquer empresa brasileira – mas especialmente as empresas de agronegócio – a mudança climática regional induzida pelo desmatamento cria um risco financeiro significativo relacionado ao meio ambiente”.
De acordo com o relatório, os investidores têm a responsabilidade de pressionar o governo brasileiro e o setor do agronegócio para evitar mais desmatamento.
Ele convida os investidores em títulos soberanos do Brasil a:
- Junte-se a iniciativas coletivas de investidores , como o PRI e o IPDD, a fim de aumentar o impacto de quaisquer esforços de engajamento com o governo brasileiro;
- Apoiar os esforços do Grupo de Varejo de Soja em instar o Congresso Nacional Brasileiro a reconsiderar a proposta de ratificação da ocupação ilegal de terras na Amazônia; e
- Pressione o governo brasileiro para impedir o desmatamento ilegal:
- Reverter cortes no Ministério do Meio Ambiente (e agências de fiscalização relacionadas) e pressionar por mais investimentos governamentais para prevenir o desmatamento ilegal;
- Fortalecimento das políticas , leis e iniciativas de múltiplas partes interessadas nacionais atuais com foco na prevenção do desmatamento ilegal;
- Ratificando o Acordo de Escazu, que o Brasil assinou em setembro, mas ainda não adotou;
- Considerando a emissão de um título soberano vinculado ao desmatamento, vinculando os pagamentos de cupons ao sucesso na limitação do desmatamento.
Ele convida os investidores em ações e dívidas em empresas e instituições financeiras brasileiras a:
- Pressionar as empresas do agronegócio em que investem, e os bancos regionais que as apóiam, a adotarem práticas sustentáveis que visem uma abordagem livre de desmatamento ;
- Garantir que as empresas que comercializam as safras brasileiras, ou nos fabricantes de alimentos, varejistas de alimentos e cadeias de restaurantes que usam produtos derivados dessas safras, publiquem e façam cumprir as políticas de desmatamento ; e
- Continuar a apoiar a Moratória da Soja na Amazônia e pressionar as empresas em seus portfólios e listas de observação para estabelecer acordos semelhantes cobrindo outros biomas ameaçados.