Foto – Pixabay
ARTIGO
POR – MARCEL BOFF*, PARA NEO MONDO
Nunca se escutou, leu ou se falou tanto sobre formas de pensar… não somente dentro de uma linha filosófica entrando a fundo na etimologia da palavra, mas tratando o pensar como elemento fundamental para resolução de problemas, principalmente de problemas complexos.
Anteriormente víamos muito o pensamento analítico como algo de extrema importância, por simplificar as formas de se resolver problemas e se encaminhar decisões, o que não quer dizer que hoje esteja em desuso, pelo contrário, continua fazendo sentido, porém, está sendo somado ao pensar criativo / elástico / flexível.
Garanto que vocês já devem ter escutado, lido ou falado sobre: Design Thinking, Design Sprint, Lean Agile e etc… metodologias que trazem em seu core todo um vai e vem de pensar com elementos de convergir e divergir para assim se chegar a uma resolução do problema de forma mais criativa e inovadora.
Contudo, você já ouviu falar sobre pensamento sistêmico? E mais profundamente, sobre pensamento sistêmico para sustentabilidade? Caso não tenha conhecimento ou pouca clareza do que seja, tentarei esclarecer.
Resumidamente: Pensamento Sistêmico é uma forma de abordagem que compreende o desenvolvimento de determinada cadeia de relações sobre uma perspectiva complexa, lançando olhar não somente no indivíduo, mas sim em todas as relações estabelecidas e o impacto gerado ao redor desta cadeia. E como ficaria essa aplicação dentro de um recorte de desenvolvimento sustentável?
Antes de mais nada, é importante reforçar que as questões de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável têm se tornado cada vez mais parte de nossa vida cotidiana, como também pautas recorrentes por parte de órgãos públicos e empresas privadas. Já é sabido que se nada for feito, este mundo em que vivemos poderá não mais existir ocasionando na extinção de nossa espécie no planeta.
Sendo assim, frente a gravidade ambiental em que estamos inseridos e a urgência que o tema tem, passar a ter um pensamento sistêmico pode ajudar e muito a ter uma visão do impacto do processo produtivo no meio ambiente e na vida das pessoas, fornecendo os espaços necessários ou pontos de colisão para que se possa melhor orquestrar a circularidade dos processos produtivos e assim ter um melhor direcionamento de ações colaborativas a um desenvolvimento sustentável.
A melhor maneira de entender a complexidade de um sistema sustentável é entrar na natureza de seu conjunto funcional. Pense na cadeira produtiva de um produto que se declare Eco Friendly (ecologicamente correto), e faça um esboço das facetas deste processo de produção, desde o produtor e seus insumos, passando pela fabricação, logística, utilização pelo cliente e descarte. Seu esboço por ficar mais ou menos assim:
Você até pode estar pensando que esta forma de pensar sistemicamente está muito próximo a uma ideia de economia circular, o que não está errado, mas dentro do pensamento sistêmico para o desenvolvimento sustentável, todas as relações devem caminhar para uma linha Eco Friendly, analisando: Contexto, Tempo e Espaço. Até porque, se estamos falando de sustentabilidade, devemos estar preocupados não só com as presentes gerações, mas com as futuras também.
Tempo, Espaço e Contexto
Os sistemas existem em todo o reino da nossa realidade. Eles crescem no tempo, ocupam espaço e estão conectados a outros sistemas em uma variedade de relações contextuais. É por isso que analisamos sistemas nas dimensões de Tempo, Espaço e Contexto para uma compreensão completa do sistema.
Espaço – Local / Nacional / Global
Tempo – Passado / Presente / Futuro
Contexto – Objeto / Rede / Sistema
É importante entender que cada ação dentro do sistema tem um efeito cascata e pode causar bem ou mal a outra parte do sistema. Quando decidimos fazer algo, como plantar uma árvore, não podemos olhar apenas para os benefícios que a árvore trará, mas também para os riscos que ela pode representar. E é aqui o grande diferencial do pensamento sistêmico, justamente por fazer o processo reflexivo sobre esses pontos de colisão e possíveis rupturas que um processo de desenvolvimento sustentável pode ter e assim já traçar estratégias para melhor organizar essas ações, além de determinar quais envolvimento ou stakeholders vão ter que estar presentes e como irão se relacionar.
Essa aplicação permite melhor compreender os impactos e consequências indesejadas, ainda mais quando aplicadas dentro das linhas de: Espaço, Tempo e Contexto. Além disso, este pensamento nos permite explorar oportunidades de inovação e projetar abordagens para mudanças, sejam essas incrementais ou mais amplas.
Um exemplo legal de empresa que pensa de forma sistêmica é a Startup Kuba, onde todo processo de desenvolvimento dos produtos é feito de forma artesanal com um cuidadoso processo encadeado das etapas, passando pelo usuário e sua experiência, até a possibilidade deste fazer as substituições dos componentes do produto, aumentando assim a vida útil e posterior descarte.
Complexo??? Até é… Mas quando você consegue visualmente desenhar as relações de toda uma cadeira, fica mais fácil compreender seus efeitos e impactos. Mas o assunto não para por aqui, podemos elevar o nível da complexidade do pensamento sistêmico para Desenvolvimento Sustentável trazendo outro elementos se suma importância para uma análise, como Harmonia, Autonomia e Resiliência. Estudando também seus impactos na sociedade e saúde das pessoas e etc… Mas isso vamos deixar para um segundo momento. Por agora o importante é você começar a desenhar a cadeira de relação das facetas que fazem parte da cadeia de produção que você pretende analisar.
*Por Marcel Boff, é diretor de Inovação Empreendedora da Semente Negócios.