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ARTIGO
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POR – MÁRCIO JAPPE*, PARA NEO MONDO
Melhorar o acesso e a qualidade da educação é fundamental para habilitar pessoas a melhorar a qualidade de suas próprias vidas. Para que isto aconteça, é preciso ir além de melhorar o ensino e focar cada vez mais no aprendizado individual e no desenvolvimento de habilidades cognitivas, relacionais e técnicas, o que depende de endereçar questões em diferentes níveis.
Tomemos o Brasil como exemplo: há desafios relevantes de acesso nos anos iniciais e de qualidade como um todo. O resultado é uma multidão de analfabetos funcionais e pessoas sem as competências necessárias para acessar melhores empregos e remunerações. Parece loucura, mas há cada vez mais vagas abertas não preenchidas por falta de pessoas qualificadas, ao mesmo tempo em que o desemprego segue em alta, quadro que só se agravou com a transformação digital “goela abaixo” forçada pela pandemia.
Há duas alavancas de transformação: 1) pessoas empreendedoras para inovar em educação; e 2) investimentos muito mais relevantes do setor privado em geral. Enquanto para a inovação é preciso olhar para a tecnologia como um meio de escalar com qualidade (e não como um fim em si só), para o setor privado é necessário se olhar para os custos gerados pela falta de qualificação da força de trabalho – investir em educação pode impactar positivamente a produtividade e os resultados de qualquer empresa.
Onde estão as necessidades mais urgentes?
Primeiramente, na primeira infância. Há um déficit de quase 2 milhões de vagas em creches para crianças de até 3 anos, o que gera um mercado informal de cuidadoras e impacta muito mais as famílias mais pobres. Explorar soluções para aumentar o número de vagas disponíveis e também preparar melhor as pessoas cuidadoras pode gerar um impacto positivo imenso e que poderia reverberar por décadas.
Em segundo lugar, no desenvolvimento de soluções para melhorar o aprendizado e engajamento estudantil, melhorando a qualidade e diminuindo a evasão escolar. Soluções para desenvolver habilidades cognitivas e relacionais de forma personalizada e em escala são essenciais. Outras opções são soluções que habilitem aprendizado baseado em projetos e medição da evolução do aprendizado individual. Finalmente, soluções focadas no desenvolvimento de habilidades para o mercado de trabalho e indústrias específicas podem causar um impacto positivo enorme: preencher a lacuna de acesso a melhores empregos e remunerações interessa a estudantes, empresas empregadoras e até mesmo investidores em geral.
Por último, há a necessidade de soluções focadas em aumentar o protagonismo das professoras e professores, que são as pessoas-chave no processo de aprendizagem e também para a distribuição e efetiva adoção de quaisquer soluções em escolas. O leque é extenso: treinamento e acompanhamento, avaliação de aprendizagem, comunicação e engajamento de pais e alunos, gestão e produtividade em tarefas administrativas e valorização de carreira, entre outras.
Os desafios para empreender são enormes. Há aqueles que os próprios empreendedores se impõe, tal como não buscar conhecer o funcionamento do mercado e desenvolver soluções focadas na tecnologia como fim, sem iterar suficientemente com alunos, pais e professores. E há os contextuais, tais como os ciclos mais longos de validação e vendas dos produtos e também as relações com o governo, tanto como regulador quanto como cliente.
Para empreendedores, as recomendações são simples:
1) focar em conhecer o mercado e as necessidades de seus potenciais clientes ANTES de desenvolver soluções tecnológicas complexas e custosas. É sobre resolver problemas com base em dados que validam hipóteses e não sobre desenvolver funcionalidades tecnológicas;
2) preparar-se para ciclos mais longos de validação e vendas, buscando parceiros e investidores dispostos a apoiar este processo;
3) olhar com carinho para o papel dos professores no processo de distribuição, implantação e uso das soluções; e
4) buscar para a equipe pessoas com competências de relacionamento com governo, hoje o ator mais relevante na educação brasileira.
Não menos importante, empresas de todos os setores deveriam ter um papel mais ativo no ecossistema de educação. Há muito espaço para atuar, investindo, provendo e contratando soluções. Apesar dos incentivos estruturais para se investir em educação pareçam ser pequenos, o benefício de se ter uma força de trabalho mais preparada não deve ser subestimado.
*Márcio Jappe é sócio-fundador da Semente Negócios, mestre em inovação, tecnologia e sustentabilidade pela UFRGS.