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POR – REDAÇÃO NEO MONDO
Amanhece! Patrimônio, Memória e História do Fandango Caiçara em Cananeia reúne textos, fotos e links para acervo de áudios e vídeos musicais
Quando um mestre do fandango caiçara pede a benção de São Gonçalo, o padroeiro dos violeiros, e começa a cantar ao som de violas, rabecas e adufes em bailes animados, uma tradição secular está se renovando em Cananeia, cidade mais meridional do litoral do estado de São Paulo. Com a missão de difundir esta que é uma das mais ricas manifestações populares brasileiras, acaba de ser lançado para pela internet o livro Amanhece! Patrimônio, Memória e História do Fandango Caiçara em Cananeia, iniciativa da organização social Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica e primeiro lançamento digital da editora independente Same Same.
Com raízes ibéricas e identidade genuinamente caiçara fortalecida no litoral Sul e Sudeste do Brasil nos últimos três séculos, o fandango caiçara é reconhecido, desde 2012, como Patrimônio Cultural Imaterial nacional. Em Cananeia, primeira vila fundada pelos portugueses no Brasil, em 1531, o fandango encontrou um terreno fértil para se desenvolver como prática festiva de integração comunitária ao final de mutirões nas comunidades tradicionais caiçaras do município. O livro Amanhece! revisita essa trajetória ao longo de 124 páginas com links para vídeos, áudios e até histórias em quadrinhos que buscam aproveitar o melhor das ferramentas online disponíveis para livros digitais.
Idealizado pelo educador Cleber Rocha Chiquinho e escrito por ele, pela jornalista caiçara Catharina Apolinário de Souza e pelo também pesquisador de cultura caiçara Fernando Oliveira Silva, Amanhece! Patrimônio, Memória e História do Fandango Caiçara em Cananeia revela a mais importante manifestação popular da cidade também pela sua faceta contemporânea. As participações crescentes de jovens e de mulheres nas apresentações musicais, poéticas e coreográficas evidenciam a renovação do fandango em meio a um cenário que conta com sete grupos em atividade no município, em uma mistura criativa de mestres e aprendizes.
Das canções passadas de pai para filho nas famílias Pereira e Neves aos desafios para manter viva a tradição no quilombo do Mandira, das diferenças entre as danças à incorporação de novos instrumentos musicais, uma série de histórias curiosas faz do livro uma referência inédita no universo da cultura popular. Tanto as entrevistas quanto as belas fotos de Maurício Velloso que se somam ao acervo do grupo foram produzidos em meio aos desafios da pandemia de Covid-19 com verba aprovada em edital pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) 2020, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Amanhece! é uma iniciativa multiplataforma da organização social Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica e faz parte do Programa Puxirão, que desde 2009 trabalha para salvaguardar, registrar e disseminar o fandango caiçara. Para o fandangueiro Beto Pereira, “esse trabalho vale ouro”. “Esta turma merece um troféu por fazer este trabalho, em plena pandemia, para valorizar o fandango, que é a minha vida e a maior alegria que tenho”, afirma. O fundador do Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica, Fernando Oliveira”, credita todo o mérito aos fandangueiros. “O fandango é uma cultura viva que precisa ser valorizada. Nosso objetivo era lançar o livro presencialmente, com um grande baile caiçara, mas decidimos adiar devido à pandemia. Esperamos que no segundo semestre possamos realizar esse evento”, continua Fernando.
Amanhece! celebra a parceria do Ponto de Cultura com os jornalistas Catharina Apolinário de Souza, coautora dos textos, e Daniel Nunes Gonçalves, editor da Same Same, editora independente voltada para temas sobre diversidade cultural. O design é assinado pelo diretor de arte Ricardo Godeguez, finalista do Prêmio Jabuti em 2020, na categoria projeto gráfico, pelo livro anterior da Same Same, Paisagens Gastronômicas, sobre pequenos produtores de alimento do estado de São Paulo. Quem assina o prefácio é a educadora Maria Rita Basso, radicada em Cananeia. Por fim, as ilustrações ficaram por conta do criativo artista visual Bruno Romão, que tem um trabalho de pesquisa sobre cultura popular brasileira, cultura urbana e memória. Este coletivo multidisciplinar acredita na cultura, na arte e na educação como ferramentas de transformação da sociedade.