Imagem – Pixabay
ARTIGO
Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição de NEO MONDO e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo sem prévia autorização
POR – MARCIO JAPPE*, PARA NEO MONDO
A inclusão financeira é um instrumento poderoso para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, entre outras razões, por habilitá-las a prosperar economicamente. Apesar dos avanços recentes, as oportunidades para evoluir nas suas três dimensões (acesso, uso e qualidade dos serviços) ainda é imensa no Brasil.
De forma geral, é necessário um olhar mais atento ao perfil, o comportamento e as reais necessidades da classe C,D e E para adotar uma abordagem de desenvolvimento e implantação de soluções realmente centrada no cliente. Por mais óbvio que pareça, pessoas de menor renda não devem ser segmentadas como um público único, ainda que haja transversalidade em pontos importantes. Tais como a imprevisibilidade financeira, o uso massivo de papel moeda, os desafios estruturais para o uso adequado da tecnologia (ex. menor conexão de qualidade à internet) e a falta de confiança para além da sua rede mais próxima (família e amigos).
No acesso, é preciso olhar para além da bancarização e crédito para consumo. Há inúmeras oportunidades relacionadas às necessidades de crédito produtivo e adiantamento de recebíveis para empreendedores, de poupança e investimento para famílias, de meios de pagamento em substituição ao papel moeda para o consumo, e de microsseguros customizados para emergências, por exemplo. Quando se “acerta a mão”, o impacto é visível: com pouco mais de um ano de implantação, o PIX já possui mais de 100 milhões de cadastros, sendo 35% dos seus usuários pessoas que usam o Cadastro Único e 25% beneficiários do Bolsa-Família. Há também exemplos de marketplaces que conseguem alocar centenas de milhões de reais em créditos para seus clientes empreendedores, com um papel relevante como agentes de crédito.
No uso, há muito que se trabalhar: inclusão digital e acesso à internet de qualidade; analfabetismo funcional e educação financeira básica, com olhar centrado na rede mais próxima (família e amigos) para aumento da confiança; usabilidade em celulares e soluções diretamente conectadas a tecnologia de grande penetração, tais como serviços de mensagens via celular (que, a propósito, já começam a atuar como meios de pagamento).
Finalmente, existe a questão da qualidade, ponto ainda mais sensível. É fundamental o desenvolvimento de soluções de maneira centrada no público C, D e E, tanto para indivíduos quanto para pequenos negócios, gerando soluções realmente adequadas às suas necessidades. Aos poucos, o cenário vem se transformando, mas a oferta de serviços ainda carece de ofertas, como soluções de microsseguros e micro investimentos, para citar apenas alguns.
Incluir financeiramente para a população de menor renda, no acesso, no uso e na qualidade das soluções, seguramente gera um impacto que reverbera na sociedade como um todo, indo muito além de geração de emprego e renda, além de ser uma excelente oportunidade para empreender novos negócios inovadores.
*Márcio Jappe é Sócio-fundador da Semente Negócios. Mestre em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade pela UFRGS.