Imagem – Divulgação
POR – ROSENILDO FERREIRA, ESPECIAL PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO e NEO MONDO)
Sempre que uma marca festejada de smartphone ou de console de videogame anuncia um novo produto ocorre um certo frisson no mercado. O mesmo vale para eletrônicos em geral, como televisores, geladeiras e equipamentos de áudio que assumiram o status de objeto do desejo de grupos de consumidores. O problema é que a velocidade da indústria em lançar novidades não encontra paralelo no chamado mercado pós-consumo. Pesquisa da UNIDO, Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial Sustentável, na sigla em inglês, indica que houve crescimento de 1,3 megatonelada de resíduos eletroeletrônicos no período 2010-2019. Por outro lado, a reciclagem avançou míseros 3%, na mesma década.
Apesar de se tratar de uma questão global, o Brasil desponta como um dos países que mais contribuem para o descarte irregular de produtos eletroeletrônicos. O estudo Global E-Waste Monitor 2020 aponta que o lixo eletrônico do país somou 2,1 milhões de toneladas, em 2019, situando-o na quinta posição atrás de China, Estados Unidos, Índia e Japão.
Para tentar reverter a situação um grupo de 54 empresas, entre fabricantes, distribuidores e importadores, decidiram unir forças e criar a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE). Apesar de ter sido registrada em 2011, com o intuito de ajustar o setor aos ditames da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010, somente a partir de 2021 é que passou a operar de forma mais intensa. “Esse período foi necessário para pactuarmos os acordos dentro da cadeia setorial e definir as responsabilidades”, explica Sergio de Carvalho Mauricio, presidente-executivo da ABREE.
Para dar conta da tarefa de colocar o Brasil em pé de igualdade com os países mais desenvolvidos nesse campo, a entidade definiu um plano quinquenal (2021-2025) focado em duas frentes: estabelecimento de uma infraestrutura de coleta e reaproveitamento dos materiais e a conscientização dos consumidores em relação aos prejuízos do descarte inadequado. “Assim como os fabricantes e importadores, a população também tem responsabilidade neste processo”, destaca.
Sem dúvida. Mas, quem de nós não se sentiu perdido na hora de “passar adiante” aquele fogão antigo ou aquele aparelho de som jogado em um canto de casa? Por conta disso, a equipe técnica da ABREE está apostando na implantação de Pontos de Recebimento de eletroeletrônicos e eletrodomésticos. No total, já existem cerca de 3,3 mil, dos quais 243 nas lojas da rede Magazine Luiza, espalhados por 1,2 mil cidades. Para encontrá-los, basta entrar no site e digitar o CEP da residência (o link encontra-se no final do texto).
Dessas unidades, o material segue para Centrais de Reciclagem ou para empresas que fazem a desmontagem industrial. Até agora, já foram implantadas 11 unidades em capitais e a meta é inaugurar entre oito e 10 ao longo deste ano. “O sistema gira à base da economia colaborativa. Não ganhamos um centavo com isso. Nossa função é fazer a homologação do processo, garantindo a destinação correta dos produtos e as condições de trabalho dos envolvidos na operação.”
Fortuna que vem do lixo
Em um país no qual existem leis que pegam e não pegam, os defensores da PNRS apostavam na criação de cadeias de valor como incentivo da reciclagem em larga escala, a partir da logística reversa. Os empresários que investiram no setor vivem as agruras de operar abaixo da capacidade instalada, por falta de insumos. O trabalho da ABREE pode ajudar a virar esse jogo.
Em termos globais, a estimativa é que os resíduos sólidos, incluídos aí embalagens de plásticos e papelão, além de equipamentos, têm potencial de geral US$ 57 bilhões em negócios. A maior fatia dessa cifra se deve a coleta de metais nobres (cobre, níquel, ouro e prata) existentes dentro de computadores e laptops, por exemplo.
Se por um lado o descarte correto pode gerar muito dinheiro, a deposição de eletrônicos e outros materiais em lixões e aterros sanitários colabora para a rápida degradação do meio ambiente: desde a contaminação dos cursos de água até a poluição do solo. E isso é mais flagrante no caso de geladeiras e TVs antigas, por exemplo, que possuem gases altamente tóxicos em seus compressores ou tubos de imagem. “Jogar no lixo é sempre a pior opção”, pontua o presidente da ABREE.
SAIBA MAIS
Sobre a pesquisa Global Waste Monitor 2020
Sobre os pontos de descarte de eletrônicos e eletrodomésticos
Sobre a fortuna existente no lixo
Coalizão Verde é a união dos portais de notícias Neo Mondo e 1 Papo Reto com o objetivo de maximizar os esforços na cobertura de temas ligados à preservação ambiental. Rosenildo Ferreira é cofundador. Mais artigos:
- O barulho em torno do criado-mudo
- Paraíso Ameaçado, na Bahia
- Energia solar: os planos da americana Enphase Energy para democratizar a tecnologia no Brasil
- Logística reversa na ponta do lápis