Foto – Peu Guerbas
POR – REDAÇÃO NEO MONDO
O cardume é o segundo maior observado pela equipe de pesquisa do Projeto, no local, desde o início do monitoramento da espécie em 2002
A equipe de pesquisa do Projeto Meros do Brasil registrou pela primeira vez no ano uma agregação reprodutiva de meros em São Francisco do Sul, Santa Catarina. Foram avistados 38 exemplares da espécie, algo bastante raro na costa brasileira. “Flagrar uma agregação já é algo que exige muita sorte, pois temos que estar no local certo, na hora certa. Este é um evento raro, que acontece em poucas luas do ano, em poucos locais na costa brasileira. No passado, essas agregações chegavam a reunir centenas de meros, porém, com décadas de exploração e com a pesca irregular que ainda acontece, os números foram ficando cada vez menores”, explica Maíra Borgonha, gerente geral do Projeto Meros.
Esta é a segunda maior agregação registrada pelo Projeto desde o início do monitoramento da espécie há 20 anos. Em fevereiro de 2012, a equipe avistou entre 45 e 50 peixes neste mesmo local. Outros números expressivos de meros reunidos, só foram registrados pelo Projeto em apreensões. Em 2006, no Maranhão, e recentemente, no verão de 2021, no estado do Pará, foram registradas duas apreensões de meros pescados ilegalmente, somando mais de 40 exemplares. Essas pescas irregulares provavelmente aconteceram em cima dos agregados, que representam a única chance de reprodução da espécie no ano.
“Ver e monitorar agregações com dezenas de meros no Brasil é fundamental para os trabalhos de recuperação da espécie, mas os números atuais ainda são muito baixos quando comparados a relatos antigos – décadas de 1970 e 1980 – de pescadores subaquáticos, ou mesmo países onde a espécie é protegida há mais tempo e os agregados encontrados contam centenas de meros em um mesmo local”, explica Leonardo Bueno, doutor em Oceanografia Ambiental e pesquisador do Projeto.
Portanto a avistagem dos 38 meros, apesar de ser uma ótima notícia, não aponta para uma efetiva recuperação dos estoques de meros. “Quando olhamos para os números de apreensão a avistagem dessa quantidade de exemplares não indica que as populações de meros ao longo da costa brasileira estão recuperadas já que em uma única operação de pesca ilegal, agregados com este podem desaparecer”, complementa Bueno.
As imagens foram registradas durante um mergulho para manutenção da rede de telemetria acústica, monitorada pelo Projeto Meros do Brasil, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. A telemetria está presente nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, e é um componente de pesquisa utilizado para estudar os padrões de movimentação dos meros, o uso e ocupação das áreas de agregação. Os dados obtidos a partir deste monitoramento são extremamente importantes já que preservar as áreas de reprodução é um fator chave para a conservação da espécie.
A operação de mergulho contou com o apoio da equipe da Transpetro do Terminal de São Francisco do Sul.
AGREGAÇÕES REPRODUTIVAS – Pertencente à família das garoupas (ao lado dos badejos, chernes, entre outros), também conhecido como “Senhor das Pedras”, o mero (Epinephelus itajara) costuma agregar em recifes em mar aberto, especialmente recifes rochosos e recifes artificiais que contenham grandes buracos, cavernas e alto relevo. “Ao longo dos anos, percebemos que a formação das agregações tem acontecido com maior frequência em ambientes artificiais como naufrágios e monoboias, pois são áreas mais protegidas, que oferecem maior abrigo, segurança e alimento” explica Áthila.
É sabido também que as agregações reprodutivas dos meros ocorrem anualmente a cada verão, de dezembro a março, e que para chegar às agregações a espécie pode migrar centenas de quilômetros (na Flórida há registro de um mero que nadou cerca de 400 km de distância para chegar no local de agregação). Por isso, é muito difícil fazer uma contagem precisa de quantos meros existem mar adentro, seja pela extensão marítima na qual eles vivem, seja pelo simples fato de que eles estão sempre em movimento. Mas, na época de agregação os cardumes chegam a ficar quatro vezes maiores que em períodos não reprodutivos, e esses encontros representam a única chance de reprodução da espécie no ano, mas, infelizmente, também são uma oportunidade extremamente atraente da pesca irregular.
No caso dos meros, sua lenta taxa de crescimento, maturação tardia (por volta dos sete anos de idade), alta longevidade (até quarenta anos), formação de agregados reprodutivos em áreas rasas (até 50m) e a alta fidelidade aos locais de desova neste período fazem com a espécie torne-se altamente suscetível à sobrepesca. Outro fator agravante é que por serem extremamente dóceis e grandes (podem chegar a 2,5 metros de comprimento e pesar mais de 400 quilos), tornam-se presas fáceis.
Os meros sofreram um declínio significativo da população nos últimos 65 anos. Considerando toda a área de distribuição da espécie no Brasil, a redução foi superior a 80%. Desde 2006 a espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção, e desde 2002 a captura, o beneficiamento, o transporte e/ou a comercialização do mero são práticas proibidas em todo o território nacional.
Veja AQUI as imagens com exclusividade captadas por Athila Bertoncini.