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Por – Marina Amaral, diretora executiva da Agência Pública / Neo Mondo
Enquanto esperamos que as eleições nos tirem do pesadelo sem fim que é o Brasil de Bolsonaro, mais vítimas tombam ao nosso lado como resultado direto das políticas de extermínio deste governo em aliança com o crime organizado.
Dos garimpeiros que estupraram uma menina yanomami de 12 anos até a morte à execução de um garoto de 18 anos por policiais do Bope no Jacarezinho, a ilegalidade, o abandono dos mais vulneráveis e o desprezo pela vida fazem parte da cartilha de civis e militares que estão no poder. Não por acaso, elegem a figura de um torturador como herói.
O presidente está disposto a romper todos os limites – da democracia à decência – até a destruição do país. Enquanto ele estiver no poder, os yanomami contaminados por mercúrio e torturados por criminosos vão continuar agonizando diante dos nossos olhos, assim como os milicianos e policiais insuflados pelos aplausos presidenciais seguirão matando impunemente.
A graça concedida ao deputado Daniel Silveira, consagrado por sua agressão contra a homenagem a uma vereadora assassinada no exercício do mandato e pelas ameaças – documentadas – aos ministros do STF, é a resposta do presidente aos que ainda acreditam que vivemos em uma democracia. Que o centrão tenha endossado a iniciativa, elegendo Silveira para duas comissões da Câmara dos Deputados, escancara a corrosão bolsonarista das instituições. Mesmo tendo recuado da nomeação do condenado pelo STF para a Comissão de Constituição de Justiça, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deixou claro que coloca o compromisso com este governo (e as benesses dele decorrentes) acima do respeito às leis e às instituições.
O mesmo pode se dizer dos militares que, cá entre nós, nunca compraram pra valer essa tal de democracia. Apesar das tentativas da imprensa de contrapor os atuais generais, descritos durante bons anos como “técnicos, modernos, democratas”, aos gorilas de 1964, agora não tem mais como ninguém se enganar quanto às suas semelhanças. É o mesmo projeto de poder 50 anos depois como sabem indígenas e negros perseguidos e assassinados em becos ou florestas.
Com uma diferença importante: o alcance inédito de milhares de civis a armas de fogo, com o estímulo explícito do governo, simbolicamente revelado no perigoso e patético incidente no aeroporto com o pastor, e até algumas semanas ministro da Educação, Milton Ribeiro. Ou no escandaloso uso da Lei Rouanet para fazer propaganda de armas.
Que o deslumbrante Exu da Grande Rio abra nossos caminhos para desalojar Bolsonaro e seus cúmplices do poder e o Brasil voltar a ser uma democracia.