UHE de Belo Monte, instalada na calha do Rio Xingu, próximo à cidade de Altamira/PA – Foto – Bruno Batista/VPR
POR – CRISTIANE PRIZIBISCZKI, ((O))ECO / NEO MONDO
Em 20% das 11.216 microbacias que compõem o bioma, fatores de pressão como hidrelétricas, mineração e pecuária causam impacto considerado alto, mostra levantamento
Maior do mundo, a bacia hidrográfica amazônica tem sido fortemente impactada pela ação humana. Atualmente, das 11.216 microbacias que compõem essa imensidão de águas, 3.028, ou 27%, sofrem impactos médios e, em 2.299 delas, ou 20%, o impacto é considerado alto, muito alto ou extremo.
Os números fazem parte de novo índice lançado na última semana, o IIAA – Índice de Impacto nas Águas da Amazônia.
Desenvolvida pela Ambiental Media com apoio do Instituto Serrapilheira e pesquisadores, o IIAA traz um diagnóstico sobre o estado geral da saúde dos ecossistemas aquáticos amazônicos no Brasil.
No total, foram analisados nove fatores de pressão: urbanização, agropecuária, garimpo ilegal, mineração industrial, hidrelétricas, interposição com estradas, hidrovias, degradação florestal e diferença de precipitação.
O que eles encontraram foi que a agricultura e pecuária já impactam 9.893 (88%) das 11.216 microbacias da região, as estradas já cortam 3.043 (27%) delas, a mineração impacta 2.454 (22%) cursos d’água, as hidrelétricas pressionam 1.397 (12%) microbacias e as hidrovias, 1.086 (10%).
O nível de pressão varia de acordo com a localidade e tipo de atividade. No total, o IIAA traz seis níveis de impacto, que vão de “muito baixo” a impacto “extremo”. Pelo índice, em somente 29% das microbacias amazônicas o impacto foi considerado “muito baixo”.
“Conseguimos perceber que as águas da Amazônia estão bem menos protegidas do que imaginávamos. O impacto é bem disperso e atinge até mesmo áreas bastante isoladas. As atividades não acontecem sozinhas, mas em conjunto com outros fatores. Um impacto abre caminho para outros, como no caso das hidrelétricas. Elas demandam grandes infraestruturas e acabam proporcionando acesso para mais desmatamento, estradas, cruzamentos”, alerta Cecília Gontijo Leal, bióloga e pesquisadora da USP, principal autora do IIAA.
De fato, a ferramenta mostrou que as cinco áreas/regiões com valor de índice mais alto são marcadas pela presença de grandes hidrelétricas – principal agente de pressão, considerando a dimensão do impacto – , como a de Belo Monte, na Bacia do Xingu/PA, ou a de Jamari, na Bacia do Madeira (RO).
Soma-se aos grandes impactos trazidos por essas construções a presença de mineração e garimpo, segundo o levantamento. Das 1.146 microbacias listadas como tendo impacto alto, muito alto ou extremo, 478 também sofrem com mineração (21%).
“Um ponto importante de atenção que o Indice traz é para a realidade que a Amazônia está vivendo agora, com a combinação das hidrelétricas, que já estavam lá, com o avanço do garimpo ilegal, ainda mais promovido da maneira como vem sendo pelo Governo Federal”, disse a ((o))eco o jornalista Thiago Medaglia, fundador da Ambiental Media e coordenador do projeto.
O índice não trouxe apenas dados negativos, no entanto. Ele também apontou a situação das áreas protegidas, mostrando que é dentro delas onde a qualidade hídrica do bioma está melhor preservada.
Das 385 terras indígenas em território amazônico, 323 (84%) têm índice de impacto médio para baixo. Das 341 Unidades de Conservação do bioma, 264 (77%) também encontram-se na mesma situação.
Futuro das águas na Amazônia
O IIAA pretende ser uma ferramenta em constante desenvolvimento. De acordo com Medaglia, além da inserção de novas informações, a próxima versão do Índice também deverá trazer um documento de orientação voltado para legisladores.
“Muitas das políticas de conservação, não apenas no Brasil, como no mundo, não consideram ecossistemas aquáticos como deveriam, Elas têm um olhar muito voltado à terra, à vegetação […] Com o projeto, a gente gostaria de propor um redirecionamento: que não deixemos de falar de temas como desmatamento e fogo, mas que a gente inclua a degradação de ambientes aquáticos no nosso olhar”, diz o jornalista.
Segundo levantamento realizado pelo MapBiomas em 2021, a Amazônia perdeu 12% de sua superfície de água nos últimos 30 anos, uma área que abrange 1,12 milhão de hectares e equivalente à metade do território de Sergipe.